quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Internacional


Não sou militante do PCP, mas é dos comunistas que estou mais próximo em matéria internacional nas presentes circunstâncias históricas, num blogue plural das esquerdas. 

É um partido que assume consequentemente as virtudes do sistema felizmente mais multipolar, depois do momento unipolar a seguir à catástrofe geopolítica do fim do mundo soviético. Neste contexto, reconhece plenamente o papel do imperialismo, política externa do capital financeiro, em particular da superpotência norte-americana, e dos freios e contrapesos externos, sublinho externos, que a Federação Russa ou a China colocam cada vez mais a tal processo, descontrolado desde 1989-1991:

“A actual situação e seus desenvolvimentos recentes são inseparáveis de décadas de política de tensão e crescente confrontação dos EUA e da NATO contra a Federação Russa, nos planos militar, económico e político, em que avulta o contínuo alargamento da NATO e o sistemático avanço da instalação de meios e contingentes militares deste bloco político-militar cada vez mais próximo das fronteiras da Federação Russa.”

Ao contrário do que pensam alguns profetas desarmados por uma conversa vaga sobre direitos humanos, ainda para mais numa concepção individualista-liberal espontânea, a paz só se obtém se as grandes potências se refrearem mutua e concertadamente. Isto implica não dar carta branca a organizações militaristas made in USA, tentando enfraquecê-las ao máximo. As palavras não bastam. 

Nas relações internacionais, a política interna dos Estados não é a base informacional única, longe disso, para avaliar os efeitos da sua política externa à esquerda. Isto aplica-se à Federação Russa e com maioria de razão à República Popular da China: aí, teremos mesmo de continuar a atirar barro à muralha. Os comunistas sabem disso: multipolaridade e anti-imperialismo. Há melhor?


7 comentários:

TINA's Nemesis disse...

Go Nato Kill !!!

Não há guerra pela "democracia" e "direitos humanos" que eles e elas não apreciem!

https://tinasnemesis.blogspot.com/2022/02/go-nato-kill.html

Jaime Santos disse...

Resta uma pequena pedra no sapato da sua tese, se a Rússia prosseguir com a invasão da Ucrânia, ela estará a violar a Carta das Nações e a escolher travar uma guerra de agressão contra um Estado mais fraco.

O crime internacional supremo, no dizer do procurador de Nuremberga. Tal como os EUA fizeram no Iraque. E irá fazê-lo violando desde logo a soberania da Ucrânia.

A estratégia escolhida de contenção da NATO, impedindo a adesão da Ucrânia à mesma e obrigando-a cumprir os acordos de Minsk (começando já por os violar) passa justamente por transformar esse País em mais um estado fantoche, gerando inúmeras vítimas no processo.

Pensava que o PCP, apesar de não ir na conversa vaga sobre os direitos humanos, ainda assim tinha algum respeito por si próprio e por estes princípios de soberania, mas que diabo, olhando para a sua história de apoio a agressões soviéticas a outros Estados, o que ele está a fazer é simplesmente o costume, ou seja, a aplicar os ditos princípios de modo desigual a uns e a outros, a bem do tal mundo multipolar, em que pelos vistos não há problema nenhum que os polos sejam ditaduras que pisam nos direitos dos povos.

É que sabe, a mais das vezes, o inimigo de um imperialista é simples outro imperialista, não um anti-imperialista.

Nada que Lenine não aprovasse, claro. Os nossos não podem deixar de usar as mesmas armas que os outros, como você escreveu aqui atrasado, nem que se tornem iguais a eles no processo...

Depois admiram-se de a URSS ter gerado os crimes que gerou... E, João Rodrigues, ainda se admira do resultado que os comunistas obtiveram a 30 de Janeiro? O PCP, depois desta, merece ser eleitoralmente varrido do mapa. 6 deputados serão 6 deputados a mais.

A hipocrisia é transversal ao espectro político, mas é particularmente repulsiva em quem anda sempre com a moralidade na boca...

Artur Neves disse...

O João Rodrigues não será militante do PCP mas na prática é como se fosse, é um seu "compagnon de route". Já há muitos anos.

Que dizer do PCP a propósito desta sua sua tomada de posição branqueando o imperialismo russo e comportando-se como se a URSS ainda existisse e Estaline fosse vivo? Direi que o PCP é um partido que se auto-boicota como nenhum outro e que através de mundivisões anacrónicas e ultrapassadas compromete outras lutas, lutas para as quais eu me sinto convocado, através da descredibilização das opiniões dos comunistas portugueses sobre os mais diversos assuntos.

Lamento muito mas considerar o fim da tirania soviética uma "catástrofe geopolítica" não credibiliza quem quer derrotar o neoliberalismo.

O PCP já só vale 4,29% em 2022, muito provavelmente ficará já na casa dos 3% daqui a quatro anos e alguns meses. O seu declínio é INEXORÁVEL.

Anónimo disse...

Contra as opiniões de indivíduos serôdios como Jaime Santos e principalmente Artur Neves (que deve nutrir um ódio ao PCP inexorável), há que esclarecer alguns factos, pois a via é sempre a do esclarecimento e informação.
Será que a Ucrânia não violou a carta das Nações ao bombardear os povos de Donetsk e Lugansk?
O que foi o crime de Odessa, ao matarem aquela gente dentro de um edifício, não os deixando fugir das chamas? Foi russo?
O batalhão «Azov» que usa as siglas das «SS» nazis para matar gente no Donbass (ucraniana e pró-russa) foi formado na Rússia?
Quem violou o cessar-fogo, após o dia 16 de Fevereiro de 2022? Foi a Rússia?
Quantos raides e bombardeamentos foram concretizados pelo exército ucraniano contra Donetsk e Lugansk, desde esse dia?

No caso de Jaime Santos existe a ignorância contínua e uma teimosia em não apagar os erros que comete, em cada texto que escreve.
No caso de Artur Neves há outro problema que é o ódio a uma ideologia; ou talvez ressabiamento, pois o seu complexo de inferioridade em relação às pessoas esclarecidas é demasiado evidente. Daí a razão do ódio aos comunistas.

Aleixo disse...

"Olha para o que te digo, não olhes para o que eu faço."

Partido mais coerente que o PCP...não há.

Se há potência que não respeita a SOBERANIA...são os Estados Unidos da América.

Se não respeitam "PRINCÍPIOS", que moral podem ter?!

SE FOSSE NO QUINTAL DELES... ( como já foi, não se lembram..."jaimes"?!)

"Jaimes Santos"...infelizmente há muitos!

João Rodrigues...há poucos.

Anónimo disse...

"As palavras não bastam."
Parabéns, o seu desejo concretizou-se.

Francisco disse...

Um dos mais prodigiosos artifícios do sistema capitalista internacional, sobretudo a partir da unipolarização ditada pelos acontecimentos de 1989 e 1991, é o que se traduz na disseminação de um sentimento identitário e de pertença a uma "comunidade imaginária" (para usar a terminologia de Benedict Anderson), que tem de peculiar o facto de ser a comunidade do bem que se alinha e combate o eixo do mal.
Essa dicotomia, sendo em si mesma um exercício da mais pura imbecilidade, foi contudo aparentemente sufragada e nomeadamente no casos dos países emergentes do período pós-soviético, através de comportamentos que oscilaram entre o mais desabrido oportunimso pessoal (onde estará o transparente Gorbachov, que ultimamente ninguém o tem visto...) e a decadência de um personagem como Ieltsin, cujo comportamento público foi demasiado eloquente para carecer de adjectivos adicionais. Entretanto, a social-democracia europeia, fundamentalmente pressionada pelo eixo Atlântico Londres-Washington, no consulado M. Thatcher/Reagan, foi abdicando de todas as suas propostas e posições, sendo hoje maioritariamente constituída, no que toca às suas cúpulas dirigentes - também no caso português - por gente que se limita a ser caixa de ressonância da voz do império, que, contudo, precisa de fazer passar como sendo a voz das suas convicções mais profundas, credibilizando desse modo e fundamentalmente para o jogo eleitoral interno, um discurso que nada nem ninguém consegue já salvar. Neste cenário de fundo e metralhados por máquinas de propaganda explícita e sub-liminar, surgem sempre uns quantos voluntários que, por suporem ser parte da "matilha de lobos", vêm à praça berrar que estão dispostos a rasgar as vestes pela exportação da democracia, como de resto tem sido feito em nome desse mesmo "eixo do bem" e do modo que é conhecido, na américa Latina (com o sr. Silva a reconhecer Guaidó como presidente, num exercício de servilismo medíocre, mais próprio do governador de uma colónia do que do ministro de um Estado soberano com quase mil anos de história), em muitos países do médio oriente e nas convenientíssimas repúblicas bálticas. Sucede porém que a Ucrânia, não satisfazia até 1994 os interesses dominantes e consequentemente, foi preciso encontrar uns rapazes proactivos parda futuros governantes (geralmente cultores da globalização e das suas janelas de oportunidade, que, como é também típico do protótipo social-democrata português, prefere falar em público numa língua que não seja bárbara e que, quer com a mão sobre a bíblia, quer mesmo sem aparto de fé, fez já a sua declaração tronitroante, de repúdio do comunismos, vade retro Satanás...Deste modo e no caso Ucraniano, foi preciso exportar a democracia - onde, para gáudio da turba e para que se percebessem de forma estrita os valores da nova ordem, não se hesitou em deixar morrer queimados vivos, dezenas de sindicalistas, nem tão pouco e agora em fase mais recente, se hesitou em prender os opositores do regime, sempre com o beneplácito e o silêncio cúmplice dos arautos do império. É para este peditório que muitos em bicos berram pela nossa esmola. Vão olhando de soslaio (no fundo, sabem que são apenas os pagens, os lacaios ou os bobos), mas têm a esperança de que talvez um dia os deixem também sentar à mesa, e olhar dali para os pobres, para os não convertidos, para os de baixo - não importa qu haja os de baixo, as minhas aspirações dirigem-se todas para cima. Oxalá não tenhamos que nos encontrar por aí um dia destes a ler Brecht e a não perceber como é que, de silêncio em silêncio, acabaram por nos vir buscar a nós sem que ninguém se importasse:
"Primeiro, eles vieram buscar os comunistas.
Não disse nada, pois não era comunista;
Depois, vieram buscar os judeus. Nada disse, pois não era judeu;
Em seguida, foi a vez dos operários. Continuei em silêncio, pois não era sindicalizado;
Mais tarde, levaram os católicos. Nem uma palavra pronunciei, pois não sou católico.
Agora, eles vieram-me buscar a mim,
e quando isso aconteceu, não havia mais ninguém para protestar.”