quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Está tudo no saco

No seguimento da denúncia feita por João Ramos de Almeida a mais um ideologicamente enviesado número do Expresso em matéria de política de saúde, peço-vos que reparem no saco onde vinha este jornal. É um dos principais “influenciadores”, para usar o termo mobilizado pelos médicos que defendem o SNS. 

Isto está de tal ordem que o marxismo mais elementar tem maior poder explicativo do que tudo o que passa por sabedoria convencional. É desgraçadamente simples na economia política desta imprensa: se a saúde for cada vez mais um negócio, há mais publicidade. 

No capitalismo realmente existente, de onde o Estado nunca esteve e nunca estará ausente, tanto a robusta CUF como a frágil Impresa recebem directa e indirectamente apoios públicos. E se o Estado não optar pela requisição civil de hospitais ditos privados, até perante a recusa destes em receber doentes infectados com Covid-19, é caso para dizer que já nem é preciso falar da sua autonomia sempre relativa, mas potencialmente real em democracia.

4 comentários:

Jaime Santos disse...

Não podia estar mais de acordo. Existe uma ofensiva da Direita dos Interesses para transformar o SNS em Serviço Nacional de Saúde, um bodo aos ricos.

E temos um Governo que pelo menos parece dispor de alguma vontade de proteger esse SNS. E o que faz a Esquerda mais à Esquerda? Uma estica a corda para ver o que consegue obter na barganha orçamental, a outra já a partiu.

Deixem-me explicar o que vai acontecer em linguagem simples. Se o OE, mau ou bom, não passar, o Governo de Costa aguenta-se até à Primavera, altura em que um Marcelo reeleito lhe dará o coup de grace e, depois de uma segunda vaga que será bastante má, o PS perderá as eleições, o PCP provavelmente desaparecerá do mapa eleitoral (sendo substituído pelo Chega em alguns dos círculos onde ainda é representado) e o BE será reduzido a metade (como em 2011), ou seja, será uma sorte se a Esquerda chegar aos 33% dos votos na AR.

E teremos uma Geringonça de Direita, talvez até com capacidade de alterar a CRP sozinha... E os vossos piores pesadelos irão tornar-se realidade...

Já estou a ouvir os gritinhos de chantagem.

Não, não é chantagem, é realismo, eu aliás não posso chantagear ninguém, com o quê?

Até porque, se isto acontecer, não importará muito de quem é a culpa... Acontecerá e pronto.

Por isso, tenham lá muito cuidado com o que desejam, se o que desejam é entalar o PS... Acham mesmo que é tão mau quanto a Direita?

JE disse...

O Social-liberal Jaime Santos tenta corrigir o tiro.

O tiro face ao autor do texto, entenda-se.

Desta vez aparece a criticar o "bodo aos ricos", esquecido das suas rábulas negacionistas face aos porno-ricos. Confessemos que é francamente deplorável ver o que faz vibrar a sua corda sensível

Mais comedido conta-nos agora a sua versão da estória. Desapareceu em parte a sua ronha de cangalheiro a vender o peixe das certezas idiotas dos idiotas da feira.

Mas não resiste a tentar enterrar mais alguns. Agora é a nossa inteligência. E o PC, claro

E mais uma vez aldraba

JE disse...

As afirmações são para se confirmarem

JS aldraba? Sim.E repete a milonga da direita, da extrema da dita, dos trastes neoliberais, do joão miguel tavares, de josé miguel judice

Diz JS:
" o PCP provavelmente desaparecerá do mapa eleitoral (sendo substituído pelo Chega em alguns dos círculos onde ainda é representado)"

Citemos o insuspeito Vitor Dias.Insuspeito porque assume o que é e porque tem um sentido ético diametralmente oposto à tralha neoliberal:

"15 agosto 2020
Veneno em forma de artigo
Chega de parvoices

No «Público» de hoje, pelo meio de um artigo estuporado (mais um) sobre a Festa do Avante!, João Miguel Tavares volta a uma efabulação espalhada por José Miguel Júdice logo a seguir às legislativas de 2019.
Trata-se da milonga de que, como os melhores resultados do Chega foram no Alentejo, logo isso teria sido à conta de deslocações de voto de anteriores eleitores do PCP.
Já em 9 de Outubro de 2019 tive oportunidade de aqui espatifar essa venenosa conjectura ao lembrar que :
Em Évora, o conjunto PSD+CDS perde 4.807 votos o que chega e sobra para explicar os 1645 votos do Chega.

Em Beja, o conjunto PSD+CDS perde 4.936 votos o que chega e sobra para explicar os 1.313 votos do Chega.

Em Portalegre o conjunto PSD+CDS perde 3.967 votos o que chega e sobra para explicar os 1.704 votos do Chega.

Acresce que o melhor resultado do Chega em % foi em Portalegre e que esse é precisamente o distrito alentejano onde a CDU tem uma menor votação (10,6%).E acresce ainda que, se deixarmos de lado as percentagens e formos ao número de votos, o que se conclui é que foi em Lisboa e não no Alentejo que o Chega elegeu deputado e que a sua votação no Alentejo apenas representou 6,5% da sua votação nacional."

As estórias que se constroem para deturpar a História são próprias de quem tem interesse em a deturpar. Leituras apressadas, desonestidade pura e dura ou apenas esse emprenhar pelos ouvidos das nossas ditas elites?

JE disse...

Mas os gritinhos de JS, apesar de retocados como é demonstrável, escondem outras coisas.

Não falemos da chantagem referida por JS. Ele lá sabe o que faz e esta antecipação é comum entre um certo género de seres.

Falemos na leviandade e hipocrisia que enxameiam as pretensas análises políticas de JS.

Diz JS:
"Deixem-me explicar o que vai acontecer em linguagem simples. Se o OE, mau ou bom, não passar, o Governo de Costa aguenta-se até à Primavera..."

Bom. Eu sei que JS não vai gostar de ouvir isto. Mas, para o bem ou para o mal, se não fosse o PCP com 10 deputados e o PEV com 2 que se abstiveram não haveria sequer debate na especialidade.

Mais uma vez me socorro de Vitor Dias:
"Em editorial no «Público», Ana Sá Lopes acha que «É este o quadro que torna difícil fazer os portugueses entender que só não se deu uma crise política porque duas deputadas não inscritas não o quiseram.»

Não creio que Ana Sá Lopes esteja a ser boa de contas. Com efeito a maioria na AR são 116 deputados. Ora os votos contra do PSD. do CDS, do BE, do Chega e da I.L. somaram 105. Mesmo que as deputadas não-inscritas tivessem votado contra isso daria 107 votos, ou seja 9 abaixo da maioria e 1 abaixo do número do PS. Portanto se o OE não foi chumbado (faltavam 11 votos contra para isso) é porque o PCP com 10 deputados e o PEV com 2 se abstiveram (sem isso não haveria debate na especialidade, sublinhe-se). Conclusão que creio matematicamente irrefutável: as deputadas não inscritas não tiveram o papel que Ana Sá Lopes lhes atribuiu.

(recorde-se que na AR é a seguinte a distribuição de deputados : PS 108, PSD 79, BE 19, PCP 10, CDS 5, PAN 3, PEV 2 Chega 1, IL 1, 2 não inscritas)

Voltemos ao comentário floreado de JS:
"E o que faz a Esquerda mais à Esquerda? Uma estica a corda para ver o que consegue obter na barganha orçamental, a outra já a partiu"

Isto é simplesmente anti-comunismo de caserna, desonestidade boçal, um social-liberal em acção política, ou pura e simplesmente mediocridade intelectual?

Ou tudo disto um pouco?