quinta-feira, 2 de julho de 2020

A música agora tem de ser mesmo outra


Qualquer intervenção do Estado na TAP implicará que o Estado acompanhe todas as decisões que são tomadas com impacto na vida da empresa (...) A música agora é outra na TAP (...) É bom que estejamos conscientes que a missão é salvar a TAP e não nenhum acionista em particular (...) Estamos interessados que parceiros nos acompanhem na intervenção na empresa. Se não acompanharem, o Estado não deixará cair a empresa. Mas isso terá consequências na relação societária (...) O Estado está a acompanhar a situação tremendamente difícil da TAP e a estudar diferentes alternativas de intervenção e a discutir o seu futuro de acordo com interesse nacional, e não de qualquer interesse particular. A TAP sem intervenção pública não tem qualquer possibilidade de sobreviver.

Pedro Nuno Santos, 28 de Abril de 2020.

A perturbação da elite compradora e dos seus ideólogos com a nacionalização da TAP é visível. Não estão habituados a ter governantes que defendem de forma intransigente o interesse nacional, o que obviamente exige um controlo público da empresa. Lentamente, demasiado lentamente, até o Primeiro-Ministro parece estar a ser compelido pela realidade que tem muita força.

A perturbação de Manuel Carvalho é então visível em mais um editorial do Público. Como não tem coragem para defender a falência de uma empresa reconhecidamente crucial para a economia nacional, embora garanta que “é há décadas uma ferida aberta na vida do país”, somos confrontados com um penoso texto cheio de contradições, revelando, uma vez mais, a falência intelectual do extremo-centro e das suas parcerias.

Por um lado, afirma que “como disse, e bem, o ministro Pedro Nuno Santos, o Estado não podia ceder às pressões dos privados”. Por outro lado, afiança que “o Governo esticou a corda”, dado que “as suas exigências revelaram mais um carácter de imposição do que uma abertura negocial”.

É o que eu digo: não estão habituados. Mas abertura para o quê? Para o rentismo financeiro dos privados e dos seu empréstimos bem remunerados, para a sua má gestão, ao arrepio de compromissos previamente assumidos com anteriores governantes, que confiaram demasiado na bondade desta gente? Ou será que ainda espera ver aplicar-se uma variante do princípio, que vigora na banca, do pagamos, mas não mandamos?

O “pesadelo” de Carvalho é visivelmente o de uma TAP controlada pelo Estado, onde a adaptação a uma situação dificílima será sempre mais escrutinada e participada e onde as decisões poderão ter em um horizonte mais amplo, incluindo nos interesses que são considerados.

E, ainda para mais, existem outras empresas estratégicas, da Efacec ao Novo Banco, onde a realidade pode exigir alterações nas relações de propriedade.

É claro que há a realmente inútil Comissão Europeia, só aparentemente neutra em relação às relações de propriedade, como se viu com as ruinosas privatizações da troika, e, além disso, obrigando empresas públicas a comportarem-se como se fossem privadas e fazendo-o com mais afinco ideológico na periferia submetida a esta institucionalização da concorrência sem fim. Mas europeístas, e ainda por cima acríticos, não têm qualquer autoridade para falar deste real entrave a um controlo real pelos representantes dos que aqui vivem e dos que aqui querem voltar a viver.

Adenda. Vale a pena, já agora, atentar na intervenção do deputado Bruno Dias no dia 26 de junho: É o controlo público da TAP que defende o interesse do povo e do País. É que é mesmo.

4 comentários:

ASMO LUNDGREN disse...

A TAP sem passageiros e com uma gerência que será igual ou pior que as passadas vai ser um ónus nos orçamentos até 2022 plo menos

Anónimo disse...

A mantra do "direito à propriedade privada" é uma ideologia.
Não interessa como a tap foi construída.
Para os neoliberais, a tap não pode ser de "todos", mas apenas de alguns.
É uma espécie de tabu. Ninguém discute.
Mesmo que quem defende a pessegada não ganhe nada com isso.

Geringonço disse...

Um outro pesadelo do director do jornal de "referência" Público é ser removido da zona de conforto em que ele se encontra.
Um pesadelo partilhado pelos comentadores da comunicação -manipulação- social austeritários que "sofreram" imenso com a actividade da Troika.
Helena Garrido sofre de insónias só de pensar na sua remoção de uma das suas zonas de conforto, também conhecida como "administração da RTP".
RTP, empresa a qual a Garrido defendeu o sua extinção, é a coerência austeritária em funcionamento!

E a Comissão Europeia não é inútil, é útil ao frequentador do templo neoliberal Primeiro Ministro "socialista" António Costa para nos dizer que a culpa não é dele, ele se pudesse até fazia diferente mas a Comissão Europeia não deixa... Vamos esperar mais uma década ou duas para finalmente a "União Europeia" ser reformada...

Daqui a duas décadas o filho do "socialista" Costa, agora presidente da Junta de Campo de Ourique, estará em condições para finalmente reformar a União Europeia!

Daqui a duas décadas, os sobreviventes da Euro-distopia poderão finalmente dizer que os sacrifícios valeram a pena....

Aproveito esta oportunidade para enviar um colossal chi-coração ao nosso radiante visionário europeísta Primeiro Ministro "socialista" António Costa!!

JE disse...

Um excelente, um muito excelente texto de JR

( a que nem as idiotices de joão pimentel ferreira travestido de manuel carvalho asmo lundgren conseguem perturbar.
Ou travestido de um anónimo a falar daquela forma de neoliberal embonecado sobre o "mantra da propriedade privada". que de tão idiota o permite identificar logo


"O problema da TAP e do sector da aviação civil nacional não são os trabalhadores e os seus direitos – são os grupos económicos e os seus interesses!"

A prova é ver o JPF, assim de mansinho, dizer que a pessegada não ganha nada com isso