quinta-feira, 28 de novembro de 2019

A transparência, quando nasce, não é para todos

«A ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de te convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias; vão te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia, e nunca consegue desaguar, de maneira que se possa dizer: "porra! Finalmente o rio desaguou!"» (José Mário Branco, FMI)

O Iniciativa Liberal (IL) «quer que os custos do empregador com o trabalhador surjam no recibo de vencimento». Para tal, apresentou um projeto de lei que pretende que «passem a estar plasmados no recibo de vencimento dos trabalhadores por conta de outrem os custos suportados pela entidade patronal no âmbito das contribuições para a Segurança Social» (ou seja, os 23,75%, para além dos 11,00% descontados pelos trabalhadores).

Talvez esteja enganado, mas diria que a maioria dos trabalhadores portugueses por conta de outrém sabe (mesmo que podendo não ter noção exata do valor em causa), que a sua entidade patronal também participa nos descontos para a Segurança Social (quando os faz, claro). O que não se conhece, de facto, é o equivalente ao recibo de vencimento dos trabalhadores, mas para as entidades patronais. Um documento onde pudesse vir discriminado não só o rendimento mensal e outros honorários, mas também os lucros e reservas distribuídos ou outros pagamentos em espécie (cartões para pagamento de despesas, automóveis, combustível, seguros, etc., etc., etc.).


Nem é preciso sermos tão exigentes com as entidades patronais e administrações das empresas como a Iniciativa Liberal pretende que sejamos, neste âmbito, com os seus «colaboradores». Já seria de facto um enorme avanço - em termos de transparência e equidade no tratamento - podermos dispor de dados, para todo o tecido empresarial português (e não só para as cotadas no PSI-20), do grau de diferenciação das remunerações no seio das empresas, desde o topo até à base. Só isso já ajudaria bastante a perceber melhor de onde nascem as desigualdades e por que é que somos, e continuamos a ser, um dos países mais desiguais da Europa.

12 comentários:

Manuel Galvão disse...

Presença na AR que se destina a desconversar.
Já agora vinha no recibo também a quota-parte que do trabalhador dos gastos que o patão tem em papel higiénico para os WC do local de trabalho.

Mas atenção, os 23,75% são um imposto que deve pagar todo aquele que recorre ao trabalho dependente, no território Nacional. Assim sendo, não devia ser pago à Segurança Social mas sim devia ser adicionado ao IRC. O que conduzia imediatamente à necessidade de incorporar os 11% da TSU do trabalhador no seu IRS. E ficava tudo mais justo. Desaparecia a pesada estrutura da Segurança Social. Todas as tarefas dessa estrutura passavam a ser cumpridas por um Instituto da Segurança Social com dotações anuais do Orçamento Geral do Estado.
Acabava de vez a marmelada de andar a enganar o pessoal com notícias que a SS está falida.

Bmonteiro disse...

Em tempos, com um amigo, colei cinco dezenas de quadros de actores políticos, nas paragens da carris nas imediações do Parlamento. Era figura de proa, a prendada Presidente juíza reformada dos 40.
Fosse membro de um partido, iria propor divulgação do quadro acima, espalhado pelos suportes habituais dos pp em campanha eleitoral.
Sorte dos mal pagos CEO, Mr Mexia pronunciou-se um dia nesse sentido, eu não ser surpreendido pelo Euromilhões e poder assim decorar a cidade. E o País.
A bem do Regime.

Anónimo disse...

por acaso acho uma boa medida. Alerta o trabalhador para a parcela da SS que deve ser paga pelo empregador e poderá ser mais um entrave à eventual sonegação deste pagamento por parte do empregador.

Jose disse...


Essa Iniciativa Liberal tem iniciativa pindérica!

Para o salário mínimo, a partir de Janeiro, haveria de constar o custo teórico de cada mês de trabalho e o custo hora das horas trabalhadas até àquele mês do ano.

O primeiro seria de cerca de 1.010,00 euros e o segundo nunca inferior a 6,50 euros. Na função pública 1,00 a mais por hora era garantido.

E alguém que fosse explicando que o lucro só aparece se se acrescentar valor que exceda o custo.

Quanto aos lucros do Estado de que se vem falando há que descontar os RSI e demais subsídios que aí vêm.



Unknown disse...

Parabéns, Nuno Serra! Só clarificando as despesas poderão ser justificados os lucros ou a falta deles. De outro modo, continuaremos a não perceber porque a água dos vários rios não chega ao mar...

Anónimo disse...

Transparência? Telvez começar pelo que é realmente importante:

https://gotechdaily.com/twelve-eu-states-reject-shift-to-expose-companies-tax-avoidance/

Anónimo disse...

É lamentável como vocês, neste blog, deixam alguém como «Jose» comentar.
Este é o mesmo senhor que defendeu Stepan Bandera e os massacres de Volhynia.
É também o mesmo que defendeu as mortes de comunistas em campos de concentração alemães, durante a segunda guerra.
Vocês dão guarida e protegem um «nazi» nos vossos comentários.
Verdadeiramente lamentável!

JE disse...

Manuel galvão, vulgo joão pimentel ferreira multinick em papel de rebolucionário da treta, quer arrumar o assunto. E quer passar um pano sobre as sebentices dos liberais em processo de pseudo-iniciação.

Vai daí fala em papel higiénico. E em WC. Já sabemos para que nível quer arrastar a conversa.

Junto com a tentativa de aniquilar a segurança social, travestida agora dum Instituto blablabla

Assim uma coisa mais justa para a bolsa do patrão

O que faz a marmelada dum multinick aldrabão

JE disse...

Quanto a jose...tanta treta treteira ,tanto disparate em letra de forma e tanto numbrinho a zombar com a inteligência dos demais.

Os cálculos de jose são idiotas? São. A vacuidade esconde-se geralmente através de palhaçadas um pouco grotescas.

E a vacuidade e as palhaçadas servem regra geral para esconder o que se pretende mesmo esconder:

A discriminação do "equivalente ao recibo de vencimento dos trabalhadores, mas para as entidades patronais. Um documento onde pudesse vir discriminado não só o rendimento mensal e outros honorários, mas também os lucros e reservas distribuídos ou outros pagamentos em espécie (cartões para pagamento de despesas, automóveis, combustível, seguros, etc., etc., etc.)."

Tal solução é que põe o pobre jose à beira de um ataque de nervos e a debitar estas asneiras. Que não conseguem ocultar o ódio ao Salário mínimo e às funções sociais do estado

Jose disse...

Há imbecilidades que dispensam resposta outra que não notar o quanto de certezas são construídas sobre negacionismos e populismos.

JE disse...

Imbecilidades?

Quais? As pindirequices sobre os neoliberais, agora travestidos de dandies, aos quais jose dedica as suas lástimas?


Negacionismos?

Quais? Os que resultam da cumplicidade terna de jose com os golpes fascistas seja em Portugal , seja na América Latina e perante os quais se vira ( também todo dandy) e diz: "no pasa nada"?


Populismos?

Quais? Os que resultam do vocabulário em uso por uns tantos para se assumirem, também eles, como dandies, enquanto vociferam com a turba contra os RSI? Enquanto vão comendo tudo, tudo, tudo e fazendo salamaleques aos sacanas dos terratenentes?

Miguel disse...

Só para alertar que os números relativos à empresa Sonae estão errados, as médias mínimas apresentadas incluem apenas os funcionários de escritórios e sedes. Basta fazer contas de cabeça para perceber que com dezenas de milhar a ganhar salário mínimo (às vezes se tanto) ou pouco mais, o número apresentado seria impossível. Já agora, mesmo o valor superior peca por escasso.