quarta-feira, 10 de julho de 2019

Os economistas tornaram-se parte do problema?


Alguns parágrafos que traduzi de uma entrevista ao economista holandês Servaas Storm, autor de um documento onde se argumenta que o crescimento verde é uma ilusão. Este economista (já agora, também este) deveria ser lido pelos alunos e professores que hoje reivindicam uma mudança nos curricula de economia.

SS: Os economistas do clima, como os economistas em geral, tendem a esquecer que as conclusões políticas tiradas de seus modelos são tão boas, robustas e realistas quanto os pressupostos subjacentes aos modelos que usam - e esse é precisamente o problema: esses pressupostos são muitas vezes frágeis, discutíveis e/ou irrealistas. Permitam-me que refira três.

Primeiro, os modelos mais conhecidos não conseguem capturar adequadamente resultados de baixa probabilidade, mas de alto impacto (catastróficos) associados ao aquecimento global descontrolado. A maioria dos modelos ignora que o aquecimento global pode tornar-se um processo cumulativo incontrolável quando determinados limites de temperatura são ultrapassados.

Em segundo lugar, os modelos estimam os benefícios sociais líquidos do dinheiro gasto na ação climática e depois comparam esses benefícios com os retornos que a humanidade poderia ter obtido investindo o dinheiro em instrumentos financeiros de baixo risco, como os títulos de dívida pública. Tais exercícios implicam que os economistas do clima acreditam que os títulos do governo continuarão a produzir taxas de retorno de 3 - 3,5% ao ano, mesmo sob condições climáticas deterioradas. Isso é um pouco exagerado.

Finalmente, a maioria dos modelos assume que, para financiar os investimentos necessários para ter maior bem-estar no futuro, devemos conter o nosso consumo hoje e aumentar a poupança. Esta lógica é poderosa. Apela à noção calvinista de gratificação adiada, que, segundo Max Weber, foi crucial para a Ética Protestante e para a ascensão do capitalismo empresarial. Mas é errada. As nossas economias são "economias monetárias" em que os bancos comerciais criam o dinheiro para financiar investimentos, portanto não precisamos de aumentar a poupança primeiro. Isso significa que não há um trade-off entre consumo agora e consumo no futuro, como é erroneamente assumido na economia climática.

10 comentários:

José M. Sousa disse...

Ainda por cima, recebem o "Nobel"

«William D. Nordhaus won the Nobel prize in economics for a climate model that minimized the cost of rising global temperatures and undermined the need for urgent action. Nordhaus’ “racket” created low-ball estimates of the costs of future climate change and high-ball estimates of the costs of containing the threat contributed to a lost decade in the fight against climate change,[...]»

Isto chega a ser crime contra a Humanidade. Revela uma profunda ignorância e/ou indiferença perante os resultados da investigação sobre o fenómeno físico e os alertas dos climatologistas desde há muito.

ASMO LUNDGREN disse...

para economista tem um péssimo nome SS e o consumo no presente é sempre mais apelativo do que num futuro que pode ser inexistente, vou já consumir qualquer coisa

Anónimo disse...

E falarmos de coisas sérias? como a possível "desdolarização" da economia mundial? Acham que é possível?

José M. Sousa disse...

https://rwer.wordpress.com/2019/04/18/this-was-it-seems-nordhaus-plan-all-along/

O link da citação

Anónimo disse...

Crime contra a humanidade é a economia de morte que conhecemos, o que se pretende é mudar os pressupostos mas manter os modelos. Os economistas ecologistas ou não ecologistas falharam, falham e vão continuar a falhar porque não estão dispostos a perder a sua capacidade de influência.

Álvaro disse...

Só uma nota: um «trade-off» é um «compromisso» (https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-traducao-de-trade-off/21237).

Jaime Santos disse...

Claro que há um trade-off. O consumo atual e o carácter materialista das nossas sociedades são uma parte do problema. O Jorge Bateira pode argumentar que os bens produzidos atualmente devem ser substituídos por bens públicos (acesso à saúde e educação para todos, por exemplo) ou pela produção de conhecimento, mas só reduzindo a produção industrial de bens de consumo será possível evitar a catástrofe climática e isso não se fará sem transformações profundas e com custos (desde logo a re-industriliazação das sociedades ocidentais é uma ideia muito perigosa).

Claro, se não se fizer a bem, irá fazer-se a mal (leia-se com guerras).

A austeridade é uma coisa boa. Mas não é esta austeridade e sim a economia de energia primária, a não ser que vislumbre um meio de produção de energia que não seja poluente e não seja de baixa intensidade como as renováveis. Mas a energia nuclear de fissão é como o comunismo, foi o deus que falhou, e a fusão parece que está sempre a 50 anos de distância (mesmo que funcione não virá a tempo de contribuir para a resolução da crise climática).

O Jorge Bateira sofre do mesmo otimismo em relação ao crescimento perpétuo de que sofrem muitos Economistas de Direita. Não é a Economia que é a Ciência deprimente, é a Termodinâmica...

Paulo Marques disse...

O Jaime, como bom aluno da TINA, confunde austeridade com recessão e crescimento com bens materiais. Já pensou numa carreira no BCE?

@FilipeMp
Diplomacia armada à parte, qualquer país pode adquirir tudo o que está disponível para compra na moeda que produz, o que normalmente não inclui o petróleo por causa da tal diplomacia. A partir daí...

Manuel disse...

Eu só vejo uma deslocação de recursos para 'combater' algo que é fictício. Aquecimento global não existe. Estamos a entrar numa fase de arrefecimento causada pelos ciclos do sol.
Não há evidências de que o co2 influencie o clima na terra. Politiquices.

José M. Sousa disse...

Há comentários que nem vale a pena comentar...por revelarem profunda iliteracia científica...