sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Democracia nas escolas


«Este ano comemoramos quarenta anos da aprovação da Constituição da República Portuguesa e trinta anos da Lei de Bases do Sistema Educativo, documentos estruturantes da nossa Democracia.
Com o 25 de Abril, em todo o território nacional, as escolas foram, com dinâmicas e especificidades várias, um dos espaços onde de forma mais expressiva e alargada se aprendeu e viveu a experiência da participação democrática. Esse caminho de aprendizagem envolveu todos os seus atores – docentes, alunos, pais e encarregados de educação, funcionários, cidadãs e cidadãos empenhados – e teve os seus momentos altos, oscilações e também desencantos.
Depois de uma inovadora e inédita experiência de autogestão, o modelo de gestão democrática das escolas foi adquirindo maturidade, designadamente através da eleição dos Conselhos Diretivos e do envolvimento dos diferentes atores educativos.
Apesar dos princípios consagrados na Lei de Bases dos Sistema Educativo, assistimos a uma crescente desvalorização da cultura democrática nas escolas e à anulação da participação coletiva dos professores, dos alunos e da comunidade educativa. Verifica-se, pelo contrário, uma tendência para a sobrevalorização da figura do(a) diretor(a) de escola ou de agrupamento de escolas, sendo, ao mesmo tempo, subalternizado o papel de todos os outros órgãos pedagógicos, e desencorajada a participação de outros elementos da comunidade escolar. Esta situação é igualmente reveladora da erosão da identidade de cada escola quando esmagada pelo peso da estrutura de direção unipessoal de governo dos agrupamentos.
Quatro décadas passadas, vale a pena continuar a lutar pela Escola Pública, enquanto lugar de aprendizagem para todas e todos e paradigma de construção de uma cidadania democrática. A Democracia é o pulmão do nosso Estado de Direito, não deve ser apenas ensinada pelos manuais, mas exercida e vivida em cada espaço coletivo, a começar pelo trabalho quotidiano das turmas de cada escola.
Quanto mais democrática, participativa e inclusiva for a Escola, melhor será o futuro da Democracia. Neste sentido, lançamos um apelo para um amplo debate por um modelo de direção e gestão alternativo, condição de uma Escola Pública com qualidade democrática, científica e pedagógica, capaz de compatibilizar os desafios da aprendizagem para todos e todas com práticas inovadoras de cidadania crítica e emancipatória

Os subscritores do Manifesto pela Democracia nas Escolas debatem amanhã, 14 de Janeiro, entre as 15h30 e as 18h00, modelos de gestão escolar. A sessão realiza-se no Auditório da Escola Secundária Rainha Dona Leonor, em Lisboa.

14 comentários:

Anónimo disse...


Penso que e´ de Platão a confirmação de que «o preço da liberdade é a eterna vigilância». Como se depreende da frase a democracia terá o mesmo sentido.
O país todo ele vive em deficit democrático, não só a escola, desde que nos enfiaram CEE adentro - e ao aceitarmos o acordo ou tratado de Bolonha a coisa ficou pior no ensino.
Desde que os dirigentes deste país, em especial Socialistas e Social-democratas, aceitaram ser vassalos, bons alunos, pouco ou nada poderemos contestar desde o banco da escola ate´ a´ oficina… Ele e´ a escola do medo, o salario do medo. Tudo se encaixotou em Maastricht e Lisboa…E´ pena! Viramos de país colonizador a colonizado. De Adelino Silva

Anónimo disse...

Se eu soubesse onde é a Escola Rainha D. Leonora até ia. Agora tornou-se costume não pôr nos cartazes o endereço do local. Suponho que é devido a os oradores não quererem muito público. Preferem falar sozinhos ou só com co-religionários. Não sei...

António Pedro Pereira disse...

Anónimo das 14:46,
Desculpa de mau pagador.
Uma consulta na internet e encontra a morada da Escola Rainha D. Leonor: Rua Maria Amália Vaz de Carvalho, junto à Av. de Roma, bem pertinho à Estação do Metro de Alvalade.
Quer melhor?

Jose disse...

Quando me falam da 'escola democrática' vem-me sempre a imagem de um ministério povoado de um multidão de ideólogos e um sindicato comuna.

Anónimo disse...

A palavra democracia tem destas coisas.

Faz sair saudosamente lá do fundo de alguns o vivido noutras épocas e noutras eras, em que todo rebiteza se cantava nas escolas o "lá vamos cantando" . Ou de mão estendida fanaticamente se berrava que Angola era nossa.

A palavra democracia, tal como outras, tem mesmo destas coisas. Desperta pavlovianamente em alguns os seus fantasmas e horrores, traduzidos na sua imagética ideológica primária.

Havia até um que, por exemplo, insistia em puxar da pistola de cada vez que ouvia falar em Cultura

Jose disse...

Cuco, juntar o melodrama ao ridículo não o atenua, antes o agrava!

António Pedro Pereira disse...

José(zito):
Pois a mim, quando ouço falar de escola democrática lembro-me logo de uma escola, que pode adquirir diferentes configurações, conforme o que a sociedade plural e democrática seja capaz de construir em cada momento histórico.
Mas onde não caibam o livro único, os castigos corporais (sabes o que foi a menina dos 5 olhos?), a humilhação pública com as orelhas de burro (não sabes o que foi? tiveste sorte de não ter andado naquela escola salazarenta das orelhas de burro, senão, com a tua brilhante inteligência, tinhas sido um candidato crónico a usá-las diariamente).
E onde não haja escolaridade obrigatória só até à 3.ª classe ou mesmo até à 4.ª classe.
E onde não haja taxas de analfabetismo como estas:
1890 - 75,9% a)
1900 - 74,5% a)
1911 - 70,3% a)
1920 - 66,2% a)
1930 - 61,8% a)
1940 - 49,0% a)
1950 - 40,4% a)
1960 - 30,3% a)
a) Fontes: Decreto-Lei n.º 38.968, 27/10/1952 e X Recenseamento Geral da População - 1960
1970 – 25,75% b)
1981 – 18,6% b)
1991 – 11,0% b)
2001 – 9,0% b)
2011 - 5,2% b)
b) – Fonte: Pordata
Percebeste agora o que pode ser a escola democrática, troll?
Pode ser muitas coisas menos o que tu tens nessa cabecita minúscula, ainda por cima cheia de serradura.

Anónimo disse...

Quem será o cuco? Um personagem que com toda a certeza desperta outra vaga de reflexos pavlovianos?

A escola democrática faz azia a muitos. Tal como a palavra Cultura. Podem esbracejar à vontade invocando o melodrama ou o ridículo. A azia anti-democrática permanece bem como o lastro saudosista de quem preferia o Lá vamos cantando e rindo e a escola que obrigava à saudaçao de braço estendido.

Anónimo disse...

Um excelente post de Ricardo Pais Mamede.

"Quatro décadas passadas, vale a pena continuar a lutar pela Escola Pública, enquanto lugar de aprendizagem para todas e todos e paradigma de construção de uma cidadania democrática. A Democracia é o pulmão do nosso Estado de Direito, não deve ser apenas ensinada pelos manuais, mas exercida e vivida em cada espaço coletivo, a começar pelo trabalho quotidiano das turmas de cada escola.
Quanto mais democrática, participativa e inclusiva for a Escola, melhor será o futuro da Democracia".

É precisamente também por isto que se atiçam os lobos contra a escola democrática. Agitando ideólogos e sindicatos e comunas e melodramas e ridículos e agravantes.

Saudades de outros tempos? Sem qualquer dúvida. Com a ambição de os projectar no futuro.

Jose disse...

Manelzinho, vês alguma aceleração dramática na mais recente quebra do analfabetismo?
Tens algumas estatísticas para o crescimento da iliteracia?
« a sociedade plural e democrática seja capaz de construir em cada momento histórico» não te parece que palmatórias e orelhas de burro tiverem legitimamente direito ao seu longo momento histórico?
Não te parece uma cretinice retroagir 'momentos históricos'?

Jose disse...

Toda a cretinice tende a ser diluída na adjectivação 'democrática'!
Uma traiçoeira utilização da língua.

António Pedro Pereira disse...

Ó pacóvio José:
E tu «Tens algumas estatísticas para o crescimento da iliteracia» no tempo em que o analfabetismo era esmagadoramente maioritário?
Ou os que fizessem a 3.ª classe (escolaridade obrigatória até aos anos 60), depois a 4.ª classe, não padeciam de iliteracia?
Eram considerados doutores literatos?
Ainda hoje há por aí muito bom povo pacóvio, como tu, a afirmar que se sabia mais com a 4.ª classe antiga do que com uma licenciatura de hoje.

António Pedro Pereira disse...

Ò José(zito):
Parolito.
Viste os resultados o TIMS e do PISA?
Mostram o aumento da iliteracia em Portugal nos últimos anos, não é?
OU aquilo não vale nada porque não te satisfaz?

Anónimo disse...

Aí em cima um sujeito posta o seguinte:

"não te parece que palmatórias e orelhas de burro tiverem legitimamente direito ao seu longo momento histórico?
Não te parece uma cretinice retroagir 'momentos históricos'"?

Retroagir?

A 11 de Fevereiro de 2014 pelas 11:20, em pleno processo austeritário, o mesmo sujeito proclamava em tom cínico e de gozo mas perfeitamente claro:

"E sobretudo que ninguém – pais ou professores – aplique qualquer castigo corporal pois podem traumatizar os jovens para toda a vida"

Um convite à valsa. À valsa das palmatórias e dos castigos corporais. Nessa altura (2014) não escondidos atrás dos "momentos históricos".

A mudança de discurso acompanha a necessidade da propaganda actualizada. Esconde-se desta forma um outro pulsar. Por isso também o incómodo pavloviano perante termos como democracia ou escola democrática. Traduzido também tal incómodo em coisas como "melodrama", "ridículo", "toda a cretinice", "adjectivação" e "traiçoeira".

O pulsar escondido referido terá a forma do revólver do outro que a sacava quando ouvia falar em Cultura?