segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Quando as notícias positivas não auguram nada de bom

As boas notícias sobre o desempenho da economia portuguesa não têm parado de chegar. Eis alguns exemplos de dados publicados hoje:
  • Em dezembro de 2016, a taxa de desemprego estimada situou-se em 10,2 % (10,5% no mês anterior). 
  • Em janeiro de 2017, o Indicador de Clima Económico do INE aumentou para 1,2 (1,1 no mês anterior). 
  • Em dezembro de 2016, o Índice de Produção Industrial aumentou 5,1% face ao mesmo período do ano anterior (variação homóloga, VH). 
  • Em dezembro de 2016, o Índice de Volume de Negócios no Comércio a Retalho aumentou 3,9% (VH). 
  • Em dezembro de 2016, o Índice de Emprego no Comércio a Retalho aumentou 2,0% (VH). 
  • Em janeiro de 2017, o Indicador de Sentimento Económico da Comissão Europeia para Portugal registou 109,6 pontos (109,3 pontos em dezembro de 2016). 
Ou seja, a economia portuguesa está claramente a recuperar (embora a criação de emprego continue aquém do que seria necessário). Isto quer dizer que 2017 vai ser um ano tranquilo? Longe disso.

As taxas de juro da dívida dos países periféricos da zona euro têm vindo a subir desde Outubro de 2016. Por contaste, os dados sobre a actividade económica destes países continuam a mostrar melhorias. Isto só em parte constitui um contra-senso. Um dos motivos pelos quais as taxas de juro estão a aumentar consiste na expectativa de que a inflação na zona euro irá subir, acompanhando a melhoria da actividade económica. O aumento da inflação torna mais provável que o BCE reduza as suas políticas expansionistas, que têm contribuído para manter as taxas de juro a níveis reduzidos.

Há outros motivos que explicam a subida das taxas de juro, nomeadamente a incerteza sobre a continuação das compras de títulos de dívida pública pelo BCE (dadas as restrições regulamentares existentes) e a expectativa de subida dos juros nos EUA.

O problema para a economia portuguesa é que os impactos das evoluções referidas são assimétricos. Adivinha-se uma aceleração do crescimento económico no conjunto da UE, mas ele será modesto em países mais endividados e com estruturas produtivas mais fracas. Países com menos crescimento económico terão menor crescimento da inflação, o que não ajuda a pagar as dívidas acumuladas no passado. Também a subida dos juros não será idêntica em todos os países, afectando mais aqueles onde os riscos são maiores (por exemplo, devido à fragilidade dos seus sistemas financeiros). Finalmente, as restrições à acção do BCE penalizam desproporcionalmente os países para quem a intervenção da instituição é mais decisiva.

A economia tem destas coisas: são cada vez mais os sinais de que as coisas estão a melhorar; no entanto, continuamos metidos num molho de bróculos.

19 comentários:

Anónimo disse...

E não há meio sairmos disto.

António Pedro Pereira disse...

Caro Ricardo Paes Mamede:
Não vale a pena tentar justificar o injustificável.
Eu aguardo o nosso Especialista Especialmente Especializado - comentador residente no LdB ao serviço do verdade do Passos Coelho - de seu nome José, para repor a ordem na casa.
E ficarmos todos, verdadeiramente, esclarecidos.
As explicações do Ricardo não me convencem.
José, vem... depressa!

Geringonço disse...

A dada altura, aqueles que agora fazem parte da Geringonça gritavam algo assim : “O desemprego real é muito maior do que o oficial!!”.

Agora, fazendo eles parte da solução governativa conhecida por “Geringonça” o desemprego real deixou de ser assunto! Até parece que é um assunto que não convém ser mencionado...

Ricardo Paes Mamede disse...

Geringonço,

pela parte que me toca, não é assim. Ao contrário do que se passou durante muito tempo, a redução da taxa de desemprego está a ser acompanhada de um aumento do emprego total e da população activa - e é isso que explica que não fale de desemprego real sempre que aparecem números sobre a taxa de desemprego. Dito isto, uma taxa de desemprego oficial de 10% é escandalosa e desse ponto de vista estou muito longe de considerar que estamos no bom caminho. Sempre que quiser alertar para os níveis elevados do desemprego - oficial e real - terá o meu apoio.

Anónimo disse...

Um bom post.
Com três grandes qualidades adicionais: Frontal, honesto e incisivo

Joaquim Sá disse...

Uma coisa de que quase nunca se ouve falar, quando se comenta a diminuição do desemprego, é a qualidade desse emprego e dos salários que são pagos. Tanto quanto se percebe tem se dado muito emprego a troco de salários de miséria. Outra coisa de que pouco se fala é das 8 a 10 horas semanais de trabalho para além do horário legal, a troco desses salários de miséria. Dou o exemplo de engenheiros jovens, cujo tempo é completamente tomado pela empresa (no caso uma multinacional), a receberem líquidos menos de 1000€/mês. É preciso que a inspecção do trabalho actue e salve a nossa juventude do trabalho escravo altamente qualificado. Isto é uma vergonha e uma desgraça para o pais.

Jose disse...

As mesmas crenças dão os mesmos resultados.
Tudo muito mesquinho!

Anónimo disse...

E herr jose repete-se, mais as suas crenças a darem os mesmos resultados.

Será da idade ou de comportamentos aditivos? Da pesporrênccia ideológica certamente.

E feito piegas e com o dedo mindinho espetado proclama: "tudo muito mesquinho".

Faz lembrar quem?

Sobra o silêncio sobre a sustância do post.

Anónimo disse...

Com todo o respeito aos Compatriotas que colocaram opiniões e ao Dr. Ricardo Mamede. Algum já teve realmente desempregado?Foi a entrevistas na sua maior parte, estúpidas, enganosas e outros adjectivos que me apetecia colocar.Isto para não falar, quando a pessoa se vê desempregada com 40...e é vista como "sucata", em que se vê obrigada a vender os seus conhecimentos e experiência por "rendimentos mínimos" a recibos verdes.
A taxa de desemprego é um número absolutamente fabricado para encher relatórios e opiniões.
Quando eu estive no desemprego (acho que estou lá quase outra vez), pouco tempo depois de acabar o subsidio de desemprego, recebi uma carta que ou me ia registar lá outra vez, ou saia das listas do CE, portanto eu como tantos outros, a maioria, deixamos de ser desempregados administrativamente e engrossámos os RV, como começámos a descontar para a SS e um ano depois começamos a cobrar IVA, somos considerados "Gloriosos Empregados", Start-ups e Empresários... esta crítica é válida para Esquerda e Direita. Depois admiram-se com este tratamento estatístico de tudo (pouco sério e falacioso), com análises desfocadas que as pessoas se agarrem a revoltas Gregas, a novos movimentos políticos surgidos do nada,a "Gerigonças", a Brexits, a Trumps e ao mais que se segue.As pessoas da Europa e do Mundo estão fartas de serem consideradas números e danos colaterais da evolução Global e querem um Mundo de volta seja ele qual for ...porque a maior parte mesmo estando empregadas sentem-se desempregadas.

Anónimo disse...

Um país que vê os seus afundarem -se no desemprego e que vê os seus trabalhadores não sairem da pobreza, mesmo trabalhando, é um país hipotecado.
Um país que vê ricos cada vez mais ricos é um país da trampa.

Só mesmo mudando este mundo de pernas para o ar. E partir para um novo modelo de sociedade

Anónimo disse...



“A economia tem destas coisas: são cada vez mais os sinais de que as coisas estão a melhorar; no entanto, continuamos metidos num molho de brócolos.”
E´ verdade, e esta continuação no molho de brócolos não para de se afirmar:
Porque a governança teima em pautar-se pelo mesmo diapasão das “regras unionistas”.
Porque a governança continua a proteger a fuga do grande capital aos deveres de cidadania.
Porque a governança prefere, na prática, não se definir como defensora da verdade democrática, mas sim na conciliação de classes e etc. e tal.
Porque os sinais são de tal maneira débeis que não dão para acreditar.
Mas estou como diz o outro – já passei por pior!
De Adelino Silva

Jose disse...

Empresa:
- Criar empresas é fácil.
- Mantê-las é caro (Pecs +...).
- Acabar com elas, uma dor de cabeça.
Emprego:
- Criar empregos é fácil
- Mantê-los é caro (11 meses de trabalho; pagas 14 +1 de provisão para despedimento)
- Acabar com eles uma dor de cabeça.

Anónimo disse...

Mais uma vez um comentário oportuno do das 23 e 47, já que espelha uma realidade que andou e anda há dezenas de anos a negar.

A existência de luta de classes.

A pieguice com que agora apresenta o denominado "empresário" varia na razão inversa com que se atirava às micro e pequenas empresas. Ainda é alvo de anedotário a fúria com que se debatia contra as pequenas lojas que abundavam em algumas ruas citadinas. Quereria aquele espaço para os bancos ou para actividades em que estaria interessado?

Também é conhecido o seu rancor aos empresários que são quase proletários. Tal como as suas odes aos grandes proprietários, aos banqueiros, aos grandes capitalistas de que elogia a riqueza, a concentração do capital e os tiques. Está documentado.

Tal como está documentado o seu apoio aos offshores como meio de protecção do investimento dos capitalistas, para não serem alvo do apetite ds finanças. Como se sabe a quantia mínima exigida no offshore do Panamá era a módica de 200 000 euros. Coisas para fazer chorar as pedrinhas da calçada por tão grandes dificuldades.

.

Anónimo disse...

Mas a prova chapada da assumida existência de luta de classes e do posicionamento de jose na linha da frente daquilo que andou por aí a negar é a seguinte frase:

"Mantê-los é caro (11 meses de trabalho; pagas 14 +1 de provisão para despedimento)".

Veja-se o desconforto pela situação. Veja-se como rasura o contracto social estabelecido ao longo de tantos anos, como o direito a férias pagas ou o direito à segurança social.
Quer o regresso ao século XIX. Quer o regresso ao trabalho à hora. Por isso tem aquele comentario solidário com o Nuno Carvalho. Por isso o seu comentário ameaçador na altura e o seu conselho ao padeiro patrão.
Ao longo dos ultimos 200 anos os trabalhadores souberam dar a resposta a tal brutal boçalidade criminosa, arrogante e exploradora do patronato.

É altura de voltar a cerrar fileiras porque estes tipos querem voltar à barbárie.

Anónimo disse...

Quando Borges ganhava uma fortuna e não pagava impostos, o tipo que agora anda a fazer fitas em torno dos empresários, saía em sua defesa . Era o "quinhão " devido aos conhecimentos do Borges. E o não pagamento de impostos as regras entre os Kommandantur, como tal para aceitar e para (não) pagar.

Agora fala nas dores de cabeça.

Antes falava nos banqueiros e nos DDT e no seu direito a enriquecer por mandamento de saque

Agora apresenta-se desta forma tão piegas.

Porquê?

António Pedro Pereira disse...

José(zito):
Vai trabalhar de borla para salvares as empresas em dificuldades no país.
Em vez de passares aqui os dias a debitar tontices.
E a viver do Estado Social que abominas.

Anónimo disse...

"Com todo o respeito aos Compatriotas que colocaram opiniões e ao Dr. Ricardo Mamede. Algum já teve realmente desempregado?Foi a entrevistas na sua maior parte, estúpidas, enganosas e outros adjectivos que me apetecia colocar.Isto para não falar, quando a pessoa se vê desempregada com 40...e é vista como "sucata", em que se vê obrigada a vender os seus conhecimentos e experiência por "rendimentos mínimos" a recibos verdes".

Esta é a realidade de quem vende a sua força de trabalho.

A realidade do tal José é a sua piscina (que lhe dá muitas dores de cabeça) e o equivalente ao salário mínimo nacional que se gaba de ganhar numa tarde ( e depois fica apenas com uma leve dorzinha de cabeça)

econo-socialista disse...

instinto em tempo de guerra económica

Neste 18 ° ano da guerra inter-europeia (mais intra-Europa)

A mancar, "bom dia para todos", um cartaz ao peito, "ganho de reforma 311,25 euros. Ajude-me", fiquei envergonhado, o vizinho-pedinte com ar doente, fragilizado, lá dou a moeda do Mário Dragui.
Fiquei envergonhado de tomar o café sem o fazer cristianismo "ama o próximo como a ti mesmo", a minha cultura de infância (até hoje).
De seguida, sentou-se na mesa ao lado: "um café e um bolo!", mas sem ar temeroso ou de pobre - tinha feito o "seu" trabalho de humilhação social quotidiana, merecia aquele café de cimbalino bem quentinho.

Sociedade de consumo?

De subsistência europeia, mais propriamente, à espera dos Dragui's deste mundo, duma revolta civicamente e moralmente organizada.
Qual Trump, qual António Costa?

Ao nível do micro-social, a miséria é permanente, sem tréguas, e não vale a pena vir com a conversa de "economista-político", que está tudo bem, o Pib cresce a "cem à hora" (talvez um pouco mais lentinho), que isto anda tudo ligado.

A Sociedade tem de acordar - como?

Sugestões (exclui-se "empresários de sucesso", ou "isso a mim não acontecerá", porque sou mauzinho, ou "vão trabalhar, malandros", porque os empregos para já são de grupo de amigos, conhecidos, ou então 300 ou 400 euros pagos por favor, "olhe que tenho prejuízo, acredite!")

Precisam-se de iniciativas sem receitas miraculosas.

1.fev17

econo-socialista
jorghepinho@gmail.com

Jose disse...

Manelzinho, não sejas parvo.
A minha tabela salarial ja a publiquei: um salário mínimo por dia.