terça-feira, 25 de outubro de 2016

O segredo, os direitos dos povos e... o Público

O direito à opinião é sagrado. O direito dos jornais a mudar de directores igualmente. E, por inerência, torna-se sagrado que esses directores tenham opiniões. Outra coisa é um editorial.

Um editorial é algo que, mesmo assinado por um director com o sagrado direito de poder expressar a sua opinião, condiciona o jornal. Ou melhor - mesmo que os jornalistas não entendam esta opinião como uma directriz - é algo que retrata o pensamento de quem faz opções, de quem dirige, de quem tem uma palavra final sobre o conteúdo do jornal. E é isso que me custa ver no Público.

Mas enfim, são tempos.


Resumindo: no editorial de hoje do Público, assinado por Diogo Queiroz de Andrade, a decisão de Juncker foi má porque a pôs à consideração dos representantes dos povos locais. Foi má porque ficou preso de decisões "populistas" (entenda-se, de acordo com a vontade dos povos). Foi má porque criou um precedente que porá de lado o TTIP. Foi má porque, ao fazer valer a decisão dos povos, a União Europeia deixa de ser um "parceiro credível"... Então perderam-se tantos meses a negociar - diga-se: sem dar cavaco a ninguém! - e agora só porque os povos não querem, perde-se tudo...

Ele há coisas que fazem muita confusão que se defenda no século XXI... Mas enfim são tempos de guerra. E em tempo de guerra não se limpam armas, nem se olha a princípios democráticos. É melhor que tudo corra já, sem interferências estranhas, antes que o vento mude e tudo se torne impossível. E nessa questão, o Público escolheu esse lado da barricada, em que os povos não decidem.

É pena e quase criminoso, na minha maneira de pensar que é sagrada, também.

28 comentários:

Anónimo disse...

O Público é o espelho actual da condição mediática deste estado pós -democrático em que a UE está mergulhada. E como diz o João está decididamente do lado dos abutres europeus e atlantistas.
De forma cada vez mais feroz. De forma cada vez mais nojenta. O seu noticiário internacional é simplesmente abjecto. Faz lembrar os pasquibs que ao tempo defendiam Franco na guerra civil espanhola

Paulo Marques disse...

O que os Dioguinhos chamam de populismo, outros chamam democracia. Se calhar estava melhor na Coreia do Norte, lá não há populismo.

Mário Silva disse...

Pobre Público... Não se pode acreditar que uma pessoa sem currículo nem obra feita possa chegar a um cargo destes e, por milagre, fazer bem as coisas. É urgente que os restantes directores afastem a maçã podre.

Stardust disse...

Aparentemente, entre os 28 estados membros, uma das cinco autoridades regionais da Bélgica está contra o acordo.
Ou seja, não é a maioria dos povos locais da UE que é contra, mas 1/5 das regiões de 1/28 dos estados.

João Ramos de Almeida disse...

Caro Stardust,
Que eu saiba nem todos os países votaram os acordos. Portugal votou-o no Parlamento, por exemplo? No site do Parlamento não encontrei nada. Apenas um voto de rejeição do Parlamento a um pedido de ratificação no Parlamento... Veja-se o seu texto aqui:

http://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheActividadeParlamentar.aspx?BID=102082&ACT_TP=VOT

Nada sobre o CETA.

Joaquim Cardoso disse...

O Público já foi um bom jornal. Agora é um mau jornal. A pretensa informação não é mais do que a tentativa de "lavar cabeças" e raras vezes é isento. Para mim, leitor desde o seu aparecimento, sobretudo com a chegada do novo director, passou a ser BBB-, exceptuando alguns artigos de opinião. De opinião, repito, de pessoas que colaboram com o Público, há muito tempo. Nós leitores temos o poder de escolher. Eu já escolhi. Se os leitores fossem críticos, pensassem, reflectissem, não duraria muito tempo (conheço a filosofia do Grupo Sonae), mas é exactamente nisso que jogam, na preguiça dos leitores!

Anónimo disse...

E eu? Não tenho nada a dizer? É que por acaso sou português!

Anónimo disse...

Stardust tem pressa.
Tem pressa de se colocar do lado dessa coisa inenarrável que dá pelo nome de Diogo Queirós etc..
Mas parece que não leu o post de João Ramos de Almeida.
E parece que andou a estudar sabe-se lá em que livrinhos ou beber sabe-se lá em que fontes suspeitas.

A Bélgica tem 3 regiões: Região de Flandres,Região da Valónia e Região de Bruxelas-Capital. E três parlamentos regionais.
Onde foi Stardust inventar as 5 autoridades regionais da Bélgica é um mistério.

Anónimo disse...

Mas à pressa de fazer minguar a importância da Valónia no mapa político da Bélgica, segue-se outra coisa.
O Governo e o Parlamento regionais da Valónia, na Bélgica, rejeitaram o Acordo Económico e de Comércio Global - CETA, o que, atendendo ao quadro constitucional da Bélgica, impossibilita o governo federal de assinar o acordo.
Isto está na Constituição Belga.

A questão é: o que se passou com a ratificação deste acordo nos outros países? Aí o João já respondeu.

E não deixa de ser cómico ( mas também trágico) ver os eurocratas enfeudados ao grande poder económico andarem para aí a fugir não só da consulta das populações como também da informação das mesmas.

O que têm estes tipos a esconder? Porque o fazem? O que está por detrás disto?
Se os grandes eurocratas são comprados, como foi o caso de Barroso, por que motivo havemos de confiar em tal gente?

Medo! Medo da auscultação popular. Medo e chantagem que foi o que tentaram fazer sobre o parlamento da Valónia.

E o tal Diogo mais não faz de servir de veículo à posição dos donos.

Anónimo disse...

Não satisfeitos com a presente globalização, os senhores dos anéis, dos canhões e da droga aprofundam-na ate ao caos civilizacional. Aqui há tempos dizia eu que a U.E. era para ir ao fundo, que a partir do momento que deixasse de servir o dono, seria um fardo a desfazer.
De facto assim vai ser e a CETA e´ mais uma acha na fogueira.
O Jornal “O Público” nasceu com Pinto Balsemão e foi destinado a combater toda a forma de Liberdade liberta… de Igualdade igual e de Fraternidade fraterna. Foi feito dizia eu – para armar confusão entre as massas – e os diretores do jornal só têm e´ de completar a Ficha.
Os demais jornalistas estão sob esse manto “diáfano” chamado Capital. E´ a tal democracia amordaçada!
Ao Mandão do Templo já não serve bijuteria dourada, ele agora quer tudo desde a América Latina até a´ Asia passando pela Africa e Medio Oriente. Para ele a Europa e os europeus já foram… de Adelino Silva

Filipe Martins disse...

O Público é um jornal plural. Vai do João Miguel Tavares ao Rui Tavares. E o ser plural inclui fazer eco de textozinhos como o criticado nesta crónica, sendo certo que é mais grave por ser um editorial.

Anónimo disse...

Não. O Publico não é um jornal plural. Ir até ao Rui Tavares confirma que ficam esquecidas outras áreas à esquerda deste. E o caso ou outro de colaboradores que escrevem nesse Jornal nao pode servir de álibi para todo o lixo mediático que veicula. O Publico está cada vez pior, foram saneados os seus melhores jornalistas e lê-no no presente, com uma ou outra excepção, é ler um jornal de lixo, ideologicamenre enfeudado à direita e ao imperialismo mais agressivo

Jose disse...

Essa da 'vontade dos povos' é uma overdose de optimismo democrático ou mais provavelmente de pretensiosismo democrático.

Limite-se a alegação de que submetendo tudo e um par de botas ao escrutínio das agendas partidárias dos governos europeus, fica o povo europeu´ à espera de milagres.

Rui disse...

Que patetice! Tanta baboseira junta. Que não se concorde com um ou outro é normal. Agora afirmar isso, é ridículo. O observador é de direita o público é de direita o expresso é de direita, por favor.. O Público é o Público, tem gente que escreve e gosto de ler e tem outra que não gosto.

L. disse...

o facto de o público ter 3 ou 4 comentadores de esquerda não faz dele um jornal plural. porque as opiniões são de quem as emite. não do jornal.

os textos do público ao nível editorial mostram que é um jornal que apoia cegamente e por vezes desonestamente a direita mais selvaticamente neoliberal. este texto é um esgoto a céu aberto... despreza por completo todos os conceitos imagináveis de democracia.

Anónimo disse...

A solução para a falta de democracia neste tipo de decisões passa por referendos diretos a toda a população europeia. É preciso acabar de vez com a representatividade política. Democracia direta já! Quem tiver mais votos ganha e ponto final.

Anónimo disse...

21 e 26 e L (09 e 33):

Nem mais. Um esgoto a céu aberto. E um pasquim

Anónimo disse...

"vontade dos povos" e a overdose?

Isto é o quê? Um manifesto a justificar a overdose neoliberal a que nos sujeitaram ou apenas a manifesta expressão da treta dum que a usa de forma liberal?


"pretensiosismo democrático"?
Isto é o quê? Um manifesto anti-democrático que podia ser subscrtito pelo canalha do Botas ou uma manifesta demonstração do perfil anti-democrático de quem assim se esboça?


"submetendo tudo e um par de botas ao escrutínio das agendas partidárias dos governos europeus"?
Isto é o quê? Um manifesto da situação pós-democrática que vivemos ou a manifesta expressão do ódio que estes tipos têm da auscultação da "vontade dos povos" , optando antes pelas golpadas sujas e mal-cheirosas?



José Guinote disse...

Para lá da questão substantiva que justifica o post do J.Ramos de Almeida, o Público segue um caminho que o empurra cada vez mais para a direita, para o lado onde habitam os nossos neocons. Agora, nesta nova versão, em que o editorial passou a ser a opinião .por mais polémica que seja, por menos consensual que seja na redacção do jornal, do senhor fulano de tal, o Público fica cada vez mais parecido com o Observador de papel. Tempos negros para a imprensa democrática e para a democracia.

Anónimo disse...

O público é de facto de direita e dá abrigo aos neocons cá do burgo. Tal como o expresso. E o observador. Eis o espelho das trampas mediáticas que são tidas como jornais de referência. Para uma burguesia decadente, neoliberal e trauliteira.

Não é por nada que foram buscar o Diniz ao observador , um veículo abertamente de lixo onde pontificam alguns dos nomes mais encardidos dos plumitivos nacionais.

Fausto Simões disse...

E o Público está em boa companhia! Há três anos Vital Moreira defendia este tratado (era até seu relator). Um tratado feito para subordinar os estados ás grandes transnacionais, o poder político ao económico, como então constatei (http://blogorbis.blogspot.pt/2013/11/tratado-de-comercio-e-investimento-ue.html). É preciso abrir em força o debate para que as pessoas tomem consciência da gravidade do que está em jogo... e se façam ouvir.

Anónimo disse...

Nem mais Fausto Simões.

É preciso o debate cada vez mais profundo e exigente. E é vê-los a fugirem dele e a pregarem desta forma canhestra, o escuro dos esconsos anti-democráticos

Anónimo disse...

"Por muito que a esquerda europeísta tente desacreditar as lutas travadas pelos trabalhadores e o povo no quadro nacional, é precisamente a este nível, dos países, que a UE começa a perder importantes batalhas que levarão à sua inevitável desagregação.

Há um ano, 2015, foi na Grécia onde apesar da pesada (auto) derrota do Syriza e do povo grego, a UE perdeu, aos olhos da Europa e do Mundo, a pouca legitimidade que ainda lhe restava depois de anos de austeridade e estagnação, de crescente desemprego e pobreza.

Neste ano de 2016, e em poucos meses, a UE perde o Reino Unido, algo de impensável há uns anos atrás, e rombo de que não se irá nunca recompor, e agora é a vez da Valónia, região da pequena Bélgica, travar o aberrante e desastroso tratado de comércio da UE com o Canadá.

Os nossos prezados amigos europeístas de esquerda (dos varoufakis aos rui tavares) que façam agora a fineza de nos dizer quais foram os empolgantes resultados que a sua super estratégia, a nível europeu, de luta pela reforma da UE já rendeu até à presente data".
( J Eduardo Brissos )

Anónimo disse...

Eu sou completamente contra o tratado de CETA porque será que temos sempre de encher os bolsos aos mesmos, e os nossos pequenos agticultores, e nossas pequenas empresas como ficam, estou completamente ao lado dos Belgas, e Portugal porque foi tudo tão abafado, porque não houve divulgação sobre este tratado para ser assinado ás escondidas, depois de assinado não há volta a dar, sempre os mesmos a encher os bolsos

Jaime Santos disse...

Eu concordo com o que diz relativamente à necessidade de deixarmos os povos falar e eventualmente rejeitar os tratados ou sair do Euro ou mesmo da UE (e depois arcarem com as consequências, positivas e negativas de tais ações, porque nunca há almoços grátis). Mas discordo frontalmente com a sua opinião de que o Público não pode emitir sobre isso a opinião editorial que quiser e que a sancione como algo 'quase criminoso'. No mundo anglo-saxónico, os jornais assumem linhas editoriais claras e quem não quiser não compra este ou aquele jornal. Desgraçadamente, em Portugal andam a fazer de conta que são independentes e andam igualmente alguns falsos ingénuos a rasgar as vestes e a exigir que eles o sejam...

Anónimo disse...

e pq é que a tua opinião sagrada não tem espaço nos jornais? Achas que os jornais vão a algum lado se estivermos à espera?

Anónimo disse...

Em Portugal andam a fazer de conta que são independentes?
Andam mesmo ou é a própria comunicação social que se faz passar por independente,a fazer de conta que é independente, num registo propagandístico de quem anda a comercializar qualquer sabonete?
Apoiado este discurso por uma burguesia medíocre, mais interessada nos fait divers e na sua posição de classe do que num registo sério, intelectualemte honesto e civicamente empenhado.
Como de resto tem sido característico das chamadas élites nacionais que sistematicamente têm traído os interesses nacionais desde a crise de 1383-85 até à crise de 1580-1640? E no presente com a posição conhecida face a esta UE em que até se foi ao ponto de elogiar e acomodar aquele extremista de direita de nome Shauble?

Quanto ao mundo anglo-saxónico...desde quando é que este modelo serve de modelo a alguém? Basta comparar o que de lá sai. O mundo informativo é dominado por meia duzia de gigantes e é aflitivo ver como as notícias são a reprodução exacta dum jornal para outro.

Claro que alguns falsos ingénuos andam a rasgar as vestes e a jurar isenções mediáticas perante os anglo-saxões.

Anónimo disse...

Quanto aos almoços grátis , então a UE não era uma união solidária? Uma união tendo em vista objectivos comuns e tendente a uma harmonização social das comunidades?

Já estamos nos "não há almoços grátis"?

Mas então que respondam à pergunta aí em cima exposta.
"Os nossos prezados amigos europeístas de esquerda (dos varoufakis aos rui tavares) que façam agora a fineza de nos dizer quais foram os empolgantes resultados que a sua super estratégia, a nível europeu, de luta pela reforma da UE já rendeu até à presente data".