terça-feira, 21 de agosto de 2012

É a política


Em 1970 foi apresentado o relatório Werner que delineava um mapa em direcção a uma união económica e monetária fixada para 1980. O resto é história. Curioso é que em 1971, há mais de quarenta anos, portanto, Nicholas Kaldor, um dos mais importantes economistas keynesianos sem abastardamentos, considera que pensar que “a união económica e monetária pode preceder a união política” é um “erro perigoso”. No fundo, sem governo europeu, com todo o poder orçamental redistributivo, nada feito, alerta. Pensar que a UEM pode fomentar a união política é um erro grosseiro, segundo Kaldor, já que “se a criação da união monetária e o controlo comunitário dos orçamentos nacionais gerarem pressões que levem à quebra de todo o sistema, isso impedirá o desenvolvimento da união política, ao invés de a promover”. Sem política económica de pleno emprego nada feito politicamente. Sem instrumentos de política adequados na escala adequada, o resto é a lógica da “causalidade circular e cumulativa”, a antítese realista da obsessão com o equilíbrio da economia convencional, a executar o seu trabalho de geração de desequilíbrios externos, de polarização económica e de desentendimento político. Previsão de padrões com mecanismos identificados pelo caminho. Muito presciente, não? Vários economistas nesta tradição foram alertando ao longo do tempo, em especial quando a coisa voltou para cima da mesa em tempos de hegemonia neoliberal. Em Portugal, também foi assim...

2 comentários:

simon disse...

ai, é boa, a casa às avessas !

rui fonseca disse...

Que os problemas que abalam hoje a União Europeia, e, muito particularmente, a Zona Euro, só podem ter solução política, só não vê quem não quer ver. Mas olhar quarenta anos para trás, e tirar do armário uma afirmação acertada mas inconcretizada, só lembra a coleccionadores de barcarolas com rendimento de investigação social garantido.


Porque a história política da Europa é uma narrativa de conflitos alargados quase permanentes, intercalados por raros e curtos períodos de paz, onde nos períodos mais sangrentos alguns tentaram colocar o continente inteiro sob a sua alçada. Falharam todos, sempre derrotados por um se qualquer.

cont. aqui: http://aliastu.blogspot.pt/2012/08/se-ca-nevasse.html