quinta-feira, 5 de abril de 2012

A morte monetária da social-democracia?


Presidente do BCE diz que modelo social europeu “está morto”. É por estas e outras que eu escrevi, há quase dois atrás, o seguinte:

As declarações do BCE são performativas, ou seja ajudam a criar a desgraçada realidade que aparentemente se limitam a descrever. É que o BCE, apesar de não ter qualquer controlo democrático, tem poder monetário.

Hoje é claro para todos que é da natureza do BCE só usar o seu poder para tentar salvar os bancos, transferindo os custos sociais por estes gerados para os cidadãos. Quem paira acima da democracia submete-se sempre às fracções mais poderosas do capital. Hoje também é claro quem é que tinha razão nos debates, iniciados na década de noventa, sobre a relação entre esta arquitectura do euro, os estados sociais e o trabalho com direitos. Aposto que Pedro Nuno Santos é o dirigente socialista que melhor conhece estes debates. Daí que não possa surpreender a sua frontal tomada de posição perante uma direcção do PS que aceita uma austeridade sem fim, uma austeridade que oferece novas condições para que o “diagnóstico” de Draghi, já aqui criticado por João Galamba, se torne verdadeiro.

Em complemento a uma consistente crítica económica à arquitectura desgraçada de um euro que também foi feito para ter a política monetária controlada por antigos vice-presidentes da Goldman Sachs, Galamba defendeu ontem a tese da inconstitucionalidade do Tratado de Merkozy. Fê-lo em nome de princípios que nas presentes circunstâncias são todo um programa de resistência e de transformação, já que são incompatíveis com toda estes arranjos institucionais: “1) o princípio da soberania nacional; 2) o princípio da soberania popular; 3) o princípio democrático; 4) o princípio da soberania orçamental”.

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