quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Confiar na bancarrotocracia

A banca não confia na banca, preferindo os depósitos no BCE, que batem recordes, o que só nos indica como a concessão de crédito à economia requer hoje a socialização da banca, única forma de superar a desconfiança e a descoordenação mercantis. No entanto, o governo português confia nos accionistas dos bancos privados, fazendo de tudo para não diluir a sua posição. Só assim se explica a ideia peregrina de capitalizar os bancos ditos privados através de um instrumento híbrido, uma espécie de obrigação que só eventualmente se transformará numa acção. A imaginação financeira adia o inevitável. O crédito pode esperar?

5 comentários:

Alexandre de Castro disse...

Na relação dos bancos com o Estado, Portugal evidencia uma capacidade inventiva extraordinária, o que não se verifica em outros sectores de actividade. Veja-se também a manobra da transferência dos Fundos de Pensões dos bancários para a Segurança Social, que, da forma como esta operação foi concebida, vai conduzir no futuro à descapitalização desta instituição. A maior parte do dinheiro fica nos cofres dos bancos, a título de pagamento da dívida do Estado, mas a Segurança Social vai ter de pagar as reformas, as actuais e as futuras, aos trabalhadores bancários. Pode-se pois dizer que vão ser os reformados, cujas pensões irão ser reduzidas por falta de sustentabilidade da Segurança Social, a pagar aquela dívida, quando, em nome da equidade, aquela dívida deveria ser paga através do Orçamento de Estado, para onde confluem os impostos de toda a população, quer os derivados dos rendimentos do trabalho, quer os dos rendimentos do capital.

meirelesportuense disse...

Pois é isso mesmo que se perspectiva, no futuro -eu até diria, já a seguir- os reformados bancários vão pagar, como os outros, as dívidas colossais que foram criadas por diversas entidades como já é suposto ser conhecido...Uma coisa eu estranho:-Como é possível que na Madeira os Impostos sejam mais baixos que no Continente?...E continua a existir taxa intermédia.
Isto é de loucos, os Madeirenses criam um buraco de 6 mil milhões de Euros , o BPN outro buraco igual, e quem paga esses buracos de forma muito dura, são os Funcionários Públicos e os Reformados, especialmente os do Continente!
Será que estou a raciocinar de forma errada?...Ou estou apenas a ter um Pesadelo?

Alexandre de Castro disse...

Caro meirelesportuense: A Madeira é um caso extremo do populismo e do oportunismo eleitoralista. A chantagem permanente que o Bokassa da Madeira exerceu e exerce sobre os diferentes governos mostra bem a degradação a que chegou a democracia portuguesa, que já não consegue libertar-se dos lobies políticos, económicos e corporativos, que as afixiam. Por outro lado, o calculismo eleitoralista, para alcançar as confortáveis maiorias absolutas, e que Cavaco Silva iniciou como prática política na preparação das eleições para o seu segundo mandato, prevaleceu no âmbito das decisões dos sucessivos governos, que mandaram às urtigas o interesse geral.
Julgo que o regime já não consegue reformar-se a si próprio, tal como o marcelismo não conseguiu cortar com a pesada herança salazarista, que caiu de podre. A mudança terá de ser operada fora do regime, ou por uma revolução popular ou por um levantamento militar, que espero que seja de esquerda. Não vejo outra alternativa. Em qualquer dos casos a saída de Portugal da moeda única é inevitável.

meirelesportuense disse...

O que é preocupante é estarmos completamente nas mãos da máquina laranja...De que nunca nos libertamos desde Sá Carneiro e do apoio pedido a este pelo "Dr" Mário Soares.
Todas estas enormes golpadas institucionais têm a chancela dos dois grandes Partidos que dão corpo e vida ao Centrão Nacional...E isso é coisa que é extremamente difícil de extirpar, é da natureza do nosso Sistema Político, criada muito antes da implantação da República...Diria que é uma União Nacional disfarçada de Conservadora ou Progressista mas sempre carreirista e criadora de um certo tipo de caciquismo local e central...Liberal ou Miguelista, Monárquica ou Republicana, Popular ou Socialista...A zona em que todos os tachos se trocam com cumprimentos e cumplicidades, uma espécie de Linha do Estoril da Política...
A revolução não me parece possível porque a maioria do cidadão é passivo, talvez por isso a taxa de Natalidade tenha decrescido bastante em Portugal...Só um acidente ou incidente exterior pode(?) deitar abaixo toda esta porcaria.
Os militares estão sob absoluto controlo, não existem hoje os homens de 1974, essa geração está gasta.

meirelesportuense disse...

Isto configura em absoluta conformidade com os cânones tradicionais, uma reposição da situação Política de antes do 25/04...Apoiada numa situação especial dada pela entrada em Portugal do FMI.
Estou convencido que muitas das regras vertidas no tão mencionado acordo Político da Troika é obra dos três Partidos envolvidos nessa negociação...Estou a falar nas questões políticas, nas financeiras será diferente ou não!?!...
Por isso algumas medidas nele mencionadas são facilmente descartáveis e outras não.