quarta-feira, 1 de junho de 2011

Escolhas intoleráveis?

É obrigatório este artigo do editor de economia do Financial Times, Martin Wolf, onde se analisam os mecanismos de criação monetária europeia durante a presente crise à luz dos balanços dos bancos centrais nacionais. Os empréstimos de liquidez aos bancos nacionais têm sido feitos através das agências nacionais do BCE, replicando os desequilíbrios financeiros europeus que estão na origem da presente crise. Os bancos centrais dos países excedentes, como a Alemanha, emprestam aos bancos centrais dos países deficitários, como Portugal.

Há duas lições a tirar destes movimentos financeiros. A primeira, cada vez mais evidente, é que temos uma moeda única, mas sistemas financeiros nacionais, apoiados pelas agências nacionais do BCE. Nesta integração monetária europeia nem bancos europeus temos. Não surpreende, por isso, que Martin Wolf diga que um euro num banco alemão não é a mesma coisa que um euro de um banco grego. Daí as recentes notícias de fuga de capitais da Grécia, agudizando a crise, e sobre a qual o governo nada pode fazer devido às regras europeias. Mais uma prova de uma arquitectura monetária completamente disfuncional.

A segunda lição está na crescente socialização das dívidas (pública e privada) por parte dos bancos centrais. No dia em que se tiver que reestruturar, os contribuintes europeus vão ter de ser chamados a recapitalizar os seus bancos centrais. Uma transferência fiscal encapotada. Daí que Martin Wolf aponte que ou se reestrutura, com uma dissolução parcial da zona euro, ou se opta por um apoio financeiro europeu sem prazos. Na minha modesta opinião, a virtude está no meio destas duas opções. De qualquer forma, nenhuma destas alternativas parece possível no actual panorama político europeu.

Dia 5 há eleições.

3 comentários:

alfacinha disse...

Neste quadro de PieterBbreughel pode admirar um nau português , na altura o motor de prosperidade da Europa no século quinto .

João Carlos Graça disse...

Nuno
Se dispuser de alguma paciência para isso, pode, por favor, elaborar um pouco em torno dessa "dissolução parcial do euro" e do seu tal meio termo virtuoso?
Em suma, em que é que concorda com Wolf e em que é que discorda?
Obrigado!
Ah, sim, obrigado também ao alfacinha, claro. Bem visto...

João Mota disse...

Já que o Nuno parece dominar bem o jargão económico, gostaria de aproveitar para fazer uma pergunta muito simples (sou um leigo nessas matérias de economia). Um banco central cria 10EUR. Depois empresta esses 10EUR a um banco particular e pede-lhe que lhe devolva os 10EUR mais tarde, e com juros. Ou seja, dá 10EUR e pede 11EUR. A minha pergunta é: se todo o dinheiro é criado assim, onde está o dinheiro para pagar os juros?