sexta-feira, 4 de junho de 2010

Para lá dos ralhetes moralistas...

“A minha análise é que a origem da crise não tem nada a ver com dívida pública, mas com a acumulação de dívida privada (…) A pressão dos mercados e da Alemanha é muito perversa. Estes países estão sob pressão para reduzir a dívida pública demasiado depressa e o resultado é que transferem, de novo, o problema do sector público para o privado, como se fosse uma batata quente. Ou seja: a explosão da dívida privada foi durante a crise transferida para os governos. Agora, os governos são pressionados pelos mercados a fazer o contrário. Isto é um grande problema que poderá levar a uma recessão (...) que tornará ainda mais difícil a redução da dívida (…) Certamente não o que estão a fazer agora, que é o que a Alemanha quer, ou seja, equilibrar os orçamentos. É uma ideia parva. O que precisam é de fazer alguma coisa em conjunto para eliminar os desequilíbrios da zona euro, e isso significa que a Alemanha terá de assumir também as suas responsabilidades. A Alemanha poderia fazer hoje alguma coisa para estimular a economia. Porque se Portugal, Espanha, Grécia ou Irlanda têm défices na balança de transacções correntes, isso também acontece porque a Alemanha tem excedentes na sua. E não se pode dizer que o primeiro grupo é mau e o segundo bom, porque não é assim que as coisas funcionam.”

Excertos de uma entrevista ao economista Paul De Grauwe. Vale a pena ler: mais um marciano que prefere fazer análises a mandar ralhetes moralistas à nação, especialidade dos economistas do plano inclinado. O Daniel Oliveira já disse tudo o que havia para dizer sobre estes hábitos intelectuais nacionais com difusão televisiva. Enfim, discordo de De Grauwe num ponto: a necessidade de reduzir salários em Portugal e nas periferias endividadas como forma de ajudar a resolver os desequilíbrios estruturais europeus. O problema em Portugal, como o Nuno Teles já argumentou, não é salarial: a evolução dos salários reais tem estado alinhada com a evolução da produtividade, mas as desigualdades salariais são abissais num país onde cerca de 40% dos trabalhadores ganha 600 euros líquidos ou menos por mês. O problema principal, como este estudo indica, é a contenção salarial que os trabalhadores alemães suportam há muito anos e que tem impactos negativos à escala europeia. Aliás, a pergunta da jornalista revela que interpretou mal a análise de Krugman: a prescrição de um corte salarial de 30% nas periferias destinava-se a revelar a natureza utópica de um projecto de integração económica que tem nos salários a sua única variável de ajustamento. Já escrevemos em vários sítios sobre os problemas dos salários e da construção neoliberal europeia(ver aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui). Que fazer? Talvez por aqui, aqui, aqui ou aqui.

[Publicado, em simultâneo, no Arrastão]

18 comentários:

O Puma disse...

Esta europa dos pequeninos

com dois médios e um grande

resvala para becos sem saída

mesmo considerando a porta do fundo

Caporegime disse...

MAIS UMA VEZ A ATIRAR AREIA Á CARA DAS PESSOAS!

Os nossos salários são baixos porque o nosso Capital Humano não tem qualificações ou quando as tem são em áreas lotadas e de consumo interno!

Em paralelo, temos um estado gordo e ineficiente que alavanca o custo desses 600€ líquidos para os 1000€ brutos que são realmente pagos pelas empresas.

A culpa das nossas baixas notas não é do aluno mais esforçado que se recusa a cedermos os seus apontamentos... É NOSSA! ESFORCEMO-NOS!

ENOJA-ME ESSA VISÃO DA ECONOMIA COMO UMA CAIXA DE PETRI COM BACTÉRIAS ACÉFALAS CUJA ACÇÃO REAGE APENAS E SÓ ÁS VARIÁVEIS DA ENVOLVENTE!
EU não sou uma bactéria acéfala! A minhas acções enquanto indivíduo têm um impacto sistémico! As acções de cada um de nós, Portugueses, têm impactos sistémicos e podem vir mais da nossa consciência, responsabilidade, mérito e esforço do que de variáveis contextuais!
NÓS NÃO ACREDITAMOS EM QUEM TENTA DIZER QUE SOMOS BACTÉRIAS ACÉFALAS!

CCz disse...

"O problema principal, como este estudo indica, é a contenção salarial que os trabalhadores alemães suportam há muito anos e que tem impactos negativos à escala europeia."
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Treta, o artigo mente... mentir é capaz de ser forte demais. O artigo não mostra os números todos.
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O artigo não ilustra que os salários alemães têm sido contidos. O que o artigo mostra, páginas 22 e 23 e figura 10, é que os Custos Unitários do Trabalho na Alemanha se mantiveram constantes.
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O que um economista não engajado deveria fazer era olhar para a nota 6 no final da página 22 e mergulhar num dado em falta: qual a evolução do salário real dos alemães?
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Entre 2002 e 2007, na antiga Alemanha Ocidental, o salário médio subiu 9% (ver tabela 1 da página 6 do artigo "20 years of German unifi cation: evidence on income convergence and heterogeneity")(http://www.sachverstaendigenrat-wirtschaft.de/download/publikationen/arbeitspapier_03_09.pdf)
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O que os economistas engajados por um lado e os macro-economistas tipo Vítor Bento, Ferraz da Costa, Daniel Bessa e Daniel Amaral não conseguem é abandonar a visão marxiana e perceber como funciona a economia de um país com moeda forte. Os salários podem crescer porque o valor dos produtos e serviços gerados cresce mais depressa que o aumento dos salários. O que é claro para quem olha e percebe a figura 1 deste artigo da HBR (http://www.tbmc.com.tw/tbmc2/COMPUSTAT/pdf/ManagingPriceGainingProfit.pdf) o efeito de alavanca é muito maior mexendo no preço do que mexendo nos custos fixos.
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http://balancedscorecard.blogspot.com/2010/05/custa-assim-tanto-meter-isto-na-cabeca.html

CCz disse...

O código completo é http://www.tbmc.com.tw/tbmc2/COMPUSTAT/pdf/ManagingPriceGainingProfit.pdf

CCz disse...

http://www.tbmc.com.tw/tbmc2/COMPUSTAT/pdf/
ManagingPriceGainingProfit.pdf

Anónimo disse...

O João Rodrigues perdoará o uso talvez abusivo desta via para lhe colocar uma questão: o conteúdo da informação que consta no site http://web3.cmvm.pt/sdi2004/emitentes/docs/JURO28961.pdf, significa que os investidores continuam a receber juros, ou não se trata de nada que mereça reparo? A pergunta é sincera porque receio não estar a interpretar correctamente. Se não tiver interesse, p.f. esqueça e desculpe o incómodo.
Com a melhor consideração.
AA

O bom anarquista disse...

Eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada.

Estado
e
Patrões descapitalizados, cuja tábua de salvação é o estado, ou esmifrar o capital proletário.

Eu quero é fugir para a ilha, dizem que lá há mais utopia.

Anónimo disse...

Comentadores da treta.!!!!!!!
Mesmo que a verdade esteja á frente do nariz recusam-se a vê-la.!!!
Este caporegime, então, nem se fala. Chissa penico.!!!! O fulano é mais de direita do que o próprio Esteves.!!!Porra.!!!

Caporegime disse...

Esse tipo de desabafos é típico de quem ficou desarmado de argumentos!!

Anónimo disse...

O estado é um instrumento da classe dominante que gera vilolência. No momemento actual, o estado gera violência económica sobre quem trabalha. Chupando até à última gota, se for necessário, o sangue dos contribuintes. Quandohá buracos no sistema financeiro, lá está o estado a salvar o sistema tranferindo o produto da sucção à finaça privada sobre a forma de diversos esquemas. Para disfarçar todo esta engranagem, o estado, na pessoa dos governos iligitimamente eleitos, por processos manipulatórios e demagógicos e pela mentira mais descarada, utlizam a caridadezinha, tipo, apoios de reinserção para continuar a transferir aquilo que é dos contribuintes para a banca privada e para os reis e imperadores do cimento.
O problema neste momento é que a Alemanha ( ou cetentores do poder na Alemanha) como imperialismo emergente precisa de uma acumulação de capital para levar em frente o sue projecto imperial e monopolista.

Anónimo disse...

Já sei que vocé é que é bom, ó caporegime.!!
Já sei que nunca lhe faltam argumentos mesmo que sejam o mais estapafurdios, como aquele de que os nossos salários são baixos porque os trabalhadores não têm qualificações.!!!!
Parece então que quem não sabe ler e escrever neste país e são mais do que se pensa, não têm direito a nada.! É trabalhar e ganhar o que lhe der o patrão, é isso.!!???
Os salários são baixos porque a politica dos politicos malfeitores que tanto lhe agradam decidiram remunerar melhor o capital do que o trabalho.
Compreende.!?
Pelo que leio nos seus brilhantes argumentos, é adepto da eugenia não é.!? Olhe que o Hitler também.!!!

Caporegime disse...

E quem ganha bem? Há muito trabalhador que ganha bem.. e tem muitas vezes o mesmo patrão de quem ganha mal e não é por cunha. Como explica isso? Acha que a procura e a oferta não têm nada a ver com as condições salariais??
Se há coisa que eu quero é que os portugueses ganhassem melhor... Mas pelos mecanismos de um mercado livre... pelo aumento da procura de mão-de-obra.. pelo aumento do investimento.. só assim é sustentável! Mas enquanto acharem que os rendimentos do capital são para serem taxados a torto e a direito, enquanto acharem que as empresas servem para gerar emprego e não trabalho... aí nunca lá vamos!

Olhe.. em vez de ser um tretas.. FAÇA ALGO! Crie uma empresa, contrate 10 senhoras com 50 anos e a 4ª classe.. e pague-lhes ad eternum um salário de 1000Euros..(para ai 1600€ ou mais de custo efectivo) Vá.. dê o exemplo! Depois venha aqui dizer alguma coisa! De treinadores de bancada está este país cheio!

Anónimo disse...

Não há dúvida que vocé é um tretas, ó caporegime.!!! Fala um treinador de bancada puro e simples.!!
Vocé é trabalhador por conta de outrem e deve ganhar muito bem.!! Portanto, beije as pedras da calçada que o seu patrão pisa.!! Não faz mais do que o seu dever.!!!
Mas o que é que é isso do "mercado".!! Gostava de saber onde é que ele pára.!
Será que é o dito mercado dos combustiveis em que se assiste á pouca vergonha das companhias estarem mancomunadas umas com as outras (nada escrito, claro, era o que faltava.!!)para manipularem os preços a seu belo prazer.!!!!
Mas vocé é dos que falam muito contra o que é público e se calhar quando lhe convém(porque no privado lhe custa os olhos da cara) serve-se é do SNS (que os seus queridos patrões querem á viva força destruir.).
Tenha juízo.!!! A Politica não é nenhum benfica/sporting.
A politica deve tratar do bem comum.

Caporegime disse...

Porque é que vocês comunas não se juntam todos e criam os bancos "que não roubem", as empresas "que paguem salários acima do preço de mercado" e as bombas de gasolina que "baixam imediatamente os preços da mesma"?

Responda-me simplesmente a isto...

Anónimo disse...

Por acaso enganou-se redondamente, ó caporegime.!!
Eu, porém, não me enganei sobre o que é que vocé é, e que está á vista logo na alcunha. !!!!

João Aleluia disse...

1."E não se pode dizer que o primeiro grupo é mau e o segundo bom, porque não é assim que as coisas funcionam.”"

Errado, é precisamente assim que as coisas funcionam!

Ninguém obriga os PIIGS a importarem da Alemanhã. Só importam porque produzem muito pouco de seja o for, e o que produzem tem, regra geral, uma fraquissima relação preço - qualidade.

Todos os PIIGS já tinham balanças comerciais altamente desiquilibradas antes de entrarem no euro, e até antes de entrarem na CEE.

Os alemães só exportam mais porque são muito mais produtivos.

2. O comercio beneficia todos os intervenientes. Se os PIIGS vivessem em autarcia e não importassem nada seriam muitissimo mais pobres do que são hoje.

3. No caso Português (e não só), enquanto que as exportações para Portugal são insignificantes para a Alemanhã, as exportações de bens Portugueses para a Alemanhã são muito significativas para Portugal.

4. Os economistas do plano inclinado não mandam apenas ralhetes (que você faria bem em ouvir). Os economistas do plano inclinado são das poucas pessoas neste país que têm coragem de vir à televisão dizer a verdade.

5. O "paper" do Nuno Teles, para além de não ter nada de cientifico, é um exercício de aldrabice e de desonestidade intelectual. Mas enfim, sobre isso já comentei várias vezes.

6. A redução nos salarios reais, que será provavelmente superior aos 30%, não é uma necessidade, é uma consequência inevitavel de se ter inflacionado a economia atraves da despesa publica durante os ultimos 25 anos. Pois uma vez que se acabaram os fundos de coesão e o estado já não pode cobrar mais impostos para sustentar a despesa crescente, o empobrecimento será inevitavel.

7. Pior ainda é que devido ao falso crescimento dos ultimos 25 anos ignoraram-se (e em alguns casos deterioram-se ainda mais) os vectores do crescimento verdadeiro.
Destruiu-se a poupança e o sistema de educação publico, cresceu um polvo à sombra do estado central e local do qual depende toda a actividade economica do país, nada se fez para desburocratizar e simplificar os serviços publicos, deixou-se a justiça degradar-se ao ponto do absurdo, permitiu-se a emergência de monopolios privados, etc.... (enfim, na opinião do João Rodrigues tudo isto é com certeza culpa dos Alemães!)

8. O salario não é unica variavel de ajustamento, o salario é apenas a ultima variavel de ajustamento, quando todas as outras foram ignoradas.

Anónimo disse...

Cala-te mas é, ó melga Natalicia.!!!!

Anónimo disse...

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