quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Banco do Sul

A liberalização dos mercados financeiros das últimas décadas foi vendida aos países em desenvolvimento como a solução para a captação de poupança e investimento externo. Entretanto, a consequente instabilidade financeira custou caro a muitos destes países, com as crises financeiras a multiplicarem-se por todo o globo (Tailândia, Coreia, Argentina, Turquia, entre outros).

Como precaução, estes países passaram a acumular gigantescas somas de reservas cambiais estrangeiras de forma a fazer face a potenciais períodos de instabilidade. Assim, os mercados financeiros ficam mais tranquilos. Como indica o gráfico abaixo, estas reservas são, em termos relativos, três a quatro vezes maiores do que as detidas por países desenvolvidos. Um escândalo que, segundo alguns cálculos, custa quase 1% do crescimento anual do PIB destes países.

Felizmente, parece existir uma outra face para a mesma moeda. Usando estas vastas reservas, a Venezuela e Argentina avançaram com a ideia da criação de um «Banco do Sul» que substituísse as instituições de Washington (FMI e Banco Mundial) no apoio ao desenvolvimento. Hoje, a ideia de Chávez contou com o importante apoio de Joseph Stiglitz, Nobel de Economia e ex-economista chefe do Banco Mundial. Considera Stiglitz que «uma das vantagens de haver um Banco do Sul é que ele deverá reflectir as perspectivas dos que são do Sul».


6 comentários:

A. Cabral disse...

A New Yorker nao e' uma fonte reconhecida de comentario economico, ainda que o Bob Heilbroner tenha la escrito durante decadas. Esta semana o colunista regular, James Surowiecki, faz uma analise curiosa 'a queda do dolar.

O Rodrik decompoe onde estao estas reservas monetarias? O meu palpite e que e' sobretudo na China e India, e que a reserva e' o dolar. O incentivo do Oriente e' evitar um dumping do dolar para nao castrar o poder de compra do seu principal cliente: os EUA. Os Chineses estao a subsidiar o consumo Norte Americano e as exportacoes Europeias (vendendo dolares compravam euros e era um upa upa de valorizacao).

Nuno Teles disse...

Acompanhei o teu palpite. No entanto, a tendência divergente entre economias em vias de desenvolvimento e países industrializados altera-se muito pouco com a subtracção da China.

O Rodrik tem cuidado. Vê o segundo gráfico do paper:

The Social Cost of Foreign Exchange Reserves

aqui
http://ksghome.harvard.edu/~drodrik/papers.html

José M. Sousa disse...

O desejo de manter dólares como reserva de valor está a sofrer fortes abalos, sobretudo depois da reacção da FED à crise do subprime reduzindo as taxas de juro:

http://www.nytimes.com/2007/09/25/opinion/25roach.html?_r=2&incamp=article_popular_5&oref=slogin&oref=slogin


L'indexation au dollar des monnaies du Golfe de plus en plus contestée
http://fr.news.yahoo.com/afp/20071001/tbs-cha-idc-prev-f41e315_1.html

Sobre a relação entre dólar, euro e China, uma opinião diferente:

Rising Euro Is What China Needs to Dump Dollar
http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=20601039&sid=af6setTpU2SA&refer=columnist_mukherjee

A. Cabral disse...

Pois e', Nuno, nao se nota diferenca nenhuma extraindo a China.

Os dados do Rodrik vao ate 2004, pode ser que a acelerada queda do dolar seja sombra de uma tentativa lenta de vender reservas (embora o dolar esteja em queda desde 2002 e nao 2004)? Com o dolar cada vez a valer menos ficar sentado em cima das notas e' perder dinheiro.

Filipe Melo Sousa disse...

Estranho raciocínio. Considerar que a autorização em liberalizar os mercados financeiros está dependente de uma "nobre justificação", e não a simples liberdade em si é algo que já não me admira neste blog.

Tal como já propus em posts anteriores, nada tenho contra a criação de bancos mundiais e regionais. Pelo contrário, que se dê liberdade à emissão de moedas.

Só uma pergunta: o propósito será de substituir um monopólio por um monopólio regional, ou de dar mesmo liberdade aos mercados monetários?

Nuno Teles disse...

Filipe,

Este tipo de banco não é nem um Banco Central (as autoridades monetárias, nem um banco comercial.
É um banco de apoio ao desenvolvimento, como o Banco Mundial ou o Banco de Investimentos Europeu.
Não faz sentido falar de monopólios neste caso.

12 de Outubro de 2007 13:16