quarta-feira, 31 de outubro de 2007

O declínio do SPD (ou da social-democracia)

O SPD alemão foi o primeiro grande partido socialista da história do movimento operário. O seu rumo, as suas lutas internas e as suas cisões marcaram a história do movimento socialista ao longo do século XX. A sua influência dissipou-se, mas continua valer a pena acompanhar de perto o que se passa no maior partido socialista europeu. Durante os anos Schroder, o partido virou à direita e tentou aplicar a cartilha da liberalização do mercado de trabalho e redução dos benefícios sociais (bem simbolizada na famigerada Agenda 2010). Tais políticas contribuíram para um maior dinamismo do sector exportador da economia, mas a estagnação salarial, a alta percentagem de desemprego e a crescente polarização social travaram o consumo interno e, consequentemente, o crescimento económico.

Estas políticas regressivas não contaram com o apoio incondicional do partido. Pelo contrário, em 2005, o ex-ministro das finanças de Shroeder, Oscar Lafontaine, liderou uma cisão e criou o WASG, um partido que não esquecia o que é a social-democracia. Este partido veio a coligar-se com o PDS (Partido do Socialismo Democrático), herdeiro do partido comunista da RDA, com uma forte implantação na antiga Alemanha de Leste, que nos anos noventa atravessou uma profunda renovação ideológica. Esta junção de vontades foi muito bem sucedida. Graças à deriva liberal do SPD, a coligação obteve 9% dos votos, vindo, mais tarde, a resultar num novo partido, o Partido da Esquerda. Hoje, as sondagens tornam-no o terceiro partido alemão, à frente de liberais e verdes.

Isto tudo, para explicar a encruzilhada com que o SPD se depara. O partido continua no governo chefiado pelos conservadores de Angela Merkel, mas as sondagens dão-lhes 25% dos votos, um recorde negativo. Face a esta situação o Partido da Esquerda propôs uma coligação no governo no início do Verão, substituindo a actual SPD-CDU. A coligação foi rejeitada e o congresso do passado fim-de-semana deixou, grosso modo, tudo na mesma. Não basta um discurso "mais social e mais «próximo das classes assalariadas»", se a orientação no governo continua a mesma. Enfim, retrato de um partido agarrado ao poder, em crise, que recusa olhar para a esquerda.

Não é difícil imaginar um cenário futuro, parecido ao alemão, num certo país do canto sudoeste da Europa...

8 euros de salário mínimo (por hora). Garantido por lei.
Partido da Esquerda.

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