terça-feira, 3 de julho de 2007

Balanços do neoliberalismo (I)

Considero que a avaliação da experiência de dez anos de governo trabalhista, sob a liderança de Blair, é um dos tópicos mais importantes para o futuro da esquerda. Num post anterior argumentei que o governo trabalhista tinha mantido a pesada herança social de Thatcher: uma sociedade desigual com níveis de pobreza, sobretudo infantil, elevados. Tiago Barbosa Ribeiro apresenta dados, que embora contraditórios entre si, parecem apontar para uma diminuição da pobreza infantil. É curto para um governo de esquerda que esteve no poder dez anos. E estruturalmente pouco mudou. Aconselho a leitura deste estudo da UNICEF sobre o tema da pobreza infantil nos países desenvolvidos. O Reino Unido continua a ser, com a excepção dos EUA, o país com a maior percentagem de crianças a viver em famílias que auferem um rendimento inferior a 50% do rendimento mediano (16,2% para uma média de 11,2%). E continua a acompanhar os EUA no fundo da tabela quando se introduzem outros indicadores de bem-estar.

Aliás no ano passado registou-se um aumento da pobreza infantil. Assim se mostra que os mais pobres recebem mesmo as últimas migalhas do crescimento económico. Crescimento que tem sobretudo beneficiado as classes mais ricas. Por exemplo, em 1980, os gestores de topo das empresas cotadas no índice FTSE ganhavam dez vezes mais do que o trabalhador médio das suas empresas. Em 1990 ganhavam 31,5 vezes mais e em 2002 75,7. Não é por acaso que as abissais desigualdades na distribuição da riqueza e do rendimento são neste momento um dos tópicos mais discutidos na sociedade britânica.

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