segunda-feira, 25 de junho de 2007

Um museu especulativo


Hoje abre o Museu Berardo no Centro Cultural De Belém. Lisboa ficará com um importante museu de arte contemporânea, um «must» na política cultural urbana.

O especulador bolsista cede a sua colecção e reforça assim a fama do bom mecenas - depois do Sport Lisboa e Berardo ficamos com o Museu Berardo. No entanto, as opções que o Estado tomou, através do Ministério da Cultura, são, no mínimo, discutíveis. A colecção fica nas mãos da fundação Berardo, controlada pelo especulador, mas financiada com dinheiros públicos. Entretanto, o Estado cede a melhor montra de arte do país, compromete-se a pagar o funcionamento do museu e a reforçar anualmente com um milhão de euros a colecção e eventual programação de actividades. No final do período da generosa concessão, o Estado terá opção de compra sobre uma colecção (muito) valorizada por anos de exposição pública.

O mais chocante nesta enorme trapalhada (ainda não terminada) é que o património museológico nacional vive, talvez, a maior crise financeira de sempre. Muitos museus estão literalmente a cair, não há pessoal suficiente para os manter abertos, para já não falar da quase inexistência de fundos para programação de actividades. O argumento sempre foi o dos constrangimentos orçamentais, ou assim parecia, até ao aparecimento da colecção Berardo, do Museu Hermitage, do Smithsonian, etc.

Enfim, não surpreende tal política de uma ministra que defendeu que «(. . .) a colecção museológica portuguesa» seria «excessivamente nacional e 'pobre' do ponto de vista internacional» (DN, 21/02/05).

2 comentários:

baldassare disse...

"blogs on Spirituality"? Hummm... :-)

Quanto ao museu:
Se o estado não tivesse conseguido esta colecção, e ela fosse parar ao Georges Pompidou ou a qualquer grande cidade europeia que não a nossa Lisboa menina e moça, estariamos todos a refilar e frustrados com o destino do país onde tivemos o azar de nascer. Um país sem cultura! Ai! Tirem-me daqui!...

Mas a colecção sempre ficou em Portugal... o que é bom. O que não é bom é tudo o resto, como este post bem mostra... por exemplo, os painéis de S.Vicente estarem fechados... ou os museus estarem a caír de podres...

Este museu será muito visitado, terá muitas Visitas de Estudo das escolas, atrairá muitos turistas e será importante para a imagem de Portugal no estrangeiro. O balanço, apesar de tudo, é positivo.
Não seria mau que o estado, assim que pudesse, accionasse a opção de compra, para esta colecção ficar para a história e Portugal fosse conhecido também por uma das melhores colecções de arte contemporânea.

Esperemos que o Berardo não accione a opção de compra sobre a República Portuguesa... o Benfica foi comprado - já só falta o resto...

Ricardo disse...

"No final do período da generosa concessão, o Estado terá opção de compra sobre uma colecção (muito) valorizada por anos de exposição pública."

Uma pequena correcção... no final do período o Estado terá opção de compra sobre uma colecção já avaliada a preços actuais. A suposta valorização não entra nestas contas.

Cumprimentos,