domingo, 3 de junho de 2007

Economistas de Combate (III) - Ha-Joon Chang

Ha-Joon Chang (n.1963) é um economista de combate de origem sul-coreana que é hoje professor na Universidade de Cambridge. É um dos mais relevantes economistas políticos do desenvolvimento da actualidade. Na sua já vasta obra tem procurado mostrar através de rigorosas análises históricas que as chaves para o desenvolvimento económico dos países não estão no célebre, mas fracassado, «Consenso de Washington». Este «Consenso de Washington» feito de desregulamentação, de definição estrita de direitos propriedade privados sobre tudo, de liberalização de todos os fluxos de capitais e de mercadorias resultou, sempre que foi aplicado em toda a sua extensão, em catástrofe económica e social.

Chang foi um dos economistas que contribuiu para desfazer o mito de que «o milagre asiático» teria assentado nas políticas neoliberais que o consenso teria apenas sistematizado. Através de uma análise histórica e institucional detalhada, focada no caso da Coreia do Sul, mostrou que o seu «modelo» assentou num importante envolvimento do Estado na afectação de recursos, o que na literatura aparece associado à noção de «Estado desenvolvimentista». O governo favoreceu deliberadamente o desenvolvimento de grandes conglomerados industriais (conhecidos na Coreia por chaebol e que acabaram por dominar os mercados interno e de exportação)através de uma política industrial vigorosa cujo objectivo básico era modificar a matriz dos preços e dos incentivos que as empresas enfrentavam na direcção preferida pelo governo que para eles canalizava os elevados investimentos públicos realizados em investigação tecnológica aplicada. A aposta central era a inserção estratégica destes grupos na economia mundial o que se traduziu na implementação selectiva de controlos sobre determinadas importações para proteger sectores industriais emergentes (proteccionismo selectivo). Esta inserção na economia mundial não envolveu durante muito tempo o sistema financeiro que estava submetido a um apertado controlo por parte do governo, sobretudo no que dizia respeito às operações financeiras com o exterior e que era alicerçado numa participação activa do Estado na concessão de crédito através de bancos públicos. Este foi o modelo que esteve e ainda está na base do «milagre asiático». Violou e ainda hoje viola quase todas as prescrições neoliberais.

Num dos seus livros mais recentes e mais celebrados, Kicking Away the Ladder (Derrubando as Escadas do Desenvolvimento), Chang alargou a sua análise e defendeu convincentemente que «quando os países desenvolvidos, como a Grã-Bretanha e os EUA, ainda estavam em desenvolvimento, não implementaram nenhuma das políticas de livre comércio que agora preconizam. O seu avanço tecnológico foi garantido por políticas protecionistas». Ha-Joon Chang é assim um crítico impiedoso da hipócrita ideia de que existe uma trajectória única de desenvolvimento assente num conjunto de instituições prescritas pelas instituições internacionais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional ou a Organização Mundial do Comércio. Controladas pelos países mais ricos, estas organizações pretendem impor aos países menos desenvolvidos soluções que os seus governos fazem bem em evitar. Soluções que reduzem a sua margem de manobra para forjar políticas públicas de desenvolvimento.

2 comentários:

Samir Machel disse...

Faz como eu digo, nao olhes para o faco (fiz)...

A. Cabral disse...

Ah! Mas o que nao se sabe entre os economistas e' que o irmao do Chang, o Hasok e' um importante filosofo da fisica. Trabalhando na UCL ele tenta mostrar que a historia da ciencia e' uma mina de teorias e ideias esquecidas que podem ajudar os cientistas de hoje.