segunda-feira, 18 de junho de 2007

As origens da crise da UE (III)

«O primeiro-ministro José Sócrates chamou a S. Bento, na tarde de sábado passado, representantes de sete das maiores empresas de construção civil e de duas instituições bancárias para lhes propor um plano de captação de liquidez externa para investimentos no território nacional (. . .) E explicou que, do seu lado, o Governo fará o trabalho de casa para limpar os entraves que normalmente se colocam, nomeadamente do ponto de vista da burocracia, à rapidez e desenvolvimento dos investimentos privados (. . .) Com esta medida, o primeiro-ministro tenta de uma só vez obstar a dois problemas: à falta de liquidez do Estado para investir (o que ficou bem patente no Orçamento para este ano) e à dificuldade em criar empregos que sustentem uma quebra da taxa de desemprego».

E assim se alargam os canais de influência dos grandes capitalistas na definição das regras do jogo e das prioridades do Estado democrático. É o governo a correr o risco de ficar reduzido ao papel de «comité executivo dos negócios da burguesia» (Marx e Engels, 1848). Com a preciosa ajuda de Bruxelas.

13 comentários:

JMS disse...

Cada vez mais os governos têm por verdadeiro "eleitorado" os detentores do poder económico. É a eles que o governo responde, é sobretudo às suas necessidades que atende. Não se percebe porque ainda se dão ao trabalho de convocar eleições...

Ricardo G. Francisco disse...

jms,

É assim porque os governos têm poder que vale a ser comprado.

É tirar ao Estado o poder económico e veremos...

Privatizações, fim dos lenciamentos e do corporativismo....pequenos grandes passos para o fim da corrupção.

Hugo Mendes disse...

Se isto não é defesa da estratégia do "quanto pior, melhor"...

L. Rodrigues disse...

"pequenos grandes passos para o fim da corrupção"

Pois, porque entre privados não se chama assim. É outra coisa qualquer.

Mas o resultado é o mesmo: uma larga fatia da população fica privada de voz e poder, porque os votos deixam de contar, e o "votar com a carteira" fnciona como nos clubes de futebol, uns sócios têm mais votos do que outros.

JMS disse...

Ricardo

Você tem piada. Eu digo-lhe que a terapia está a matar o doente, e você sugere que se duplique a dose...Esse "tratamento" tem sido largamente experientado nos EUA, e veja o resultado: médicos cada vez mais ricos, pacientes cada vez mais mortos.

José M. Sousa disse...

A propósito da saúde: estudo comparativo de seis países (o melhor é o Alemão, sendo apenas o 3º mais caro; o dos EUA é o pior e o mais caro, quase o dobro do alemão):

http://www.commonwealthfund.org/newsroom/
newsroom_show.htm?doc_id=362992

João Rodrigues disse...

Não existe capitalismo sem Estado forte. Um e outro estão imbricados. Não é corrupção, é poder com origem na economia.

A questão em democracia é saber quem é que detém o poder. Como sempre a democracia implica colocar limites ao poder que o controlo dos activos sempre dá. Existe uma tensão entre o desenvolvimento da democracia e o desenvolvimento do capitalismo.

"votar com a carteira" e os detentores do capital como "eleitorado" são de facto boas metáforas.

José M. Sousa disse...

http://www.cbsnews.com/sections/i_video/main500251.shtml?id=2635796n

Eis um exemplo do poder político usurpado por interesses privados. Vídeo de reportagem do "60 minutos" sobre votação no Congresso dos EUA relativo a comparticipação de medicamentos.

Ricardo G. Francisco disse...

"A questão em democracia é saber quem é que detém o poder. "

Existe uma questão antes. É qual o poder sujeito ao voto da maioria do momento.

E por isso uma consituição que limita o poder do estado sobre os indivídos é tão importante. Uma limitação do memso poder que pode ser influenciado por um ou outro interesse.

Um estado com poderes limitados não tem interesse para corruptores.

JMS disse...

"Um estado com poderes limitados não tem interesse para corruptores."

Em 1º lugar, não se trata propriamente de corruptores, mas de lobistas, que influenciam em seu exclusivo benefício a gestão da coisa pública. Em 2º lugar, defender o Estado mínimo é dar carta branca aos empresários para usarem a seu bel-prazer o poder que o capital lhes confere, contribuindo assim para agravar ainda mais a desigualdade económica e reduzir (ainda mais) o poder político a um formalismo vazio. O político substituido pelo económico representa o fim da democracia e da liberdade. S´+o quem acha que há liberdade a mais e democracia a mais é que pode defender tais aberrações.

Ricardo G. Francisco disse...

jms,

Corruptores ou lobistas o princípio é o mesmo: Uso de meios financieros para influenciar o poder discricionário do estado. Continuo a prefeir combater este problema tirando poder ao estado, não conferindo-lhe ainda mais poder. Mas isso sou eu que sou um tonto liberal.

Agora, eu acho que há liberdade a menos e por isso quero limitar o poder autoritário do estado. O estado garante a liberdade, mas tambem pode ser o seu maior inimigo. Eu não faço distinções entre autoritarismo de esquerda ou de direita...mas isso sou eu que sou um tonto liberal.

Eu tambem não acho que exista democracia a mais. Não aceito a opressão de minorias pela maioria. E tenho a certeza que tambem não a aceita, pelo menos se imaginar que pode pertencer a uma minoria. Há direitos que não devem estar sujeitos à vontade da maioria do momento. Como a História o tem demonstrado, já que gosta de História.

Acabando, não defendo o estado mínimo. Mas defendo algo muito mais próximo doe stado mínimo do que um Estado Cubano ou Norte Koreano...pode ter a certeza.

JMS disse...

Se tirar ao Estado o pouco poder que ele ainda tem, adivinhe em que mãos irá cair esse poder... Nas da maioria, vulgo povo? Nã! Nas da minoria, vulgo oligarcas.

"O estado garante a liberdade, mas tambem pode ser o seu maior inimigo". A quem o diz. Receio contudo que para um liberal a única "liberdade" realmente importante seja a liberdade económica, ou seja, a liberdade da minoria para agrilhoar a minoria. "Liberdades" dessas, obrigadinho, mas não.

"Não aceito a opressão de minorias pela maioria"
Já conhecia essa piada. Mas obrigado por tê-la contado. Faz-me sempre rir. Quem é que a terá inventado? Terão sido os mentores da Rev. Americana, assustados com a eventualidade de a populaça vir a "oprimir" os direitos da minoria que os explorava? Ou terá sido já o filósofo Locke? Hei-de ver. Mas que está bem esgalhada, lá isso está.

"Defendo algo muito mais próximo do estado mínimo do que um Estado Cubano ou Norte Koreano"

Como se alternativa ao Estado mínimo tivesse que ser o despotismo...

Ricardo G. Francisco disse...

jms,

Como teme que "o poder" caia na mão de alguns, coloca imediatamente o poder na mão em alguns...

Por isso é que é importante à partida prevenir a concentração de poder. E no caso de concentrar o poder (económico) na mão do estado a consequência é particularmente grave já que se junta esse à segurança e à justiça, ao monopóplio do uso da força.

"Receio contudo que para um liberal a única "liberdade" realmente importante seja a liberdade económica, ou seja, a liberdade da minoria para agrilhoar a minoria. "Liberdades" dessas, obrigadinho, mas não."

Não sei de que liberais está a falar...talvez possa fundamentar essa acusação com algum texto meu por exemplo? Talvez esteja a falar dos liberais mitológicos do partido comunista. Se quiser respondo com o comunistas mitológicos comedores de criancinhas...mas não me parece sério.

As liberdades económicas tambem são caras a alguns conservadores, mas não os confunda com liberais. Embora tenham mais pontos em comum do que com quaisquer colectivistas, quer sejam de direita ou de esquerda, nacionais-socialistas ou socialistas.

"
Como se alternativa ao Estado mínimo tivesse que ser o despotismo..."

Não tem, concordo consigo. Gostava de saber quais são apra si ou para um João Rodrigues os limites de actuação do estado.