quarta-feira, 17 de julho de 2024

Siempre


A festa do Primeiro de Maio português é um marco na História da dignidade humana. Aconteça o que acontecer no futuro, acontecimentos como os que se viveram nesse dia na capital de Portugal são a prova do esforço feito ao longo de milhares de anos para que o ‘macaco nu’ se vestisse com o manto da respeitabilidade conquistada à custa de muito sacrifício. Foi uma festa de solidariedade, que teve ainda a virtude de transformar em algo concreto e exemplar essa velha e prostituída abstração chamada liberdade.

Manuel Vásquez Montalbán, 13 de maio de 1974

Obrigado, Rita Luís, pela seleção, organização, tradução e informativa introdução. O resultado, também graças a mais uma bela capa de Vera Tavares, é um magnífico livro da Tinta da China. É realmente um gosto poder ler as crónicas, escritas entre 14 de março de 1974 e 29 de dezembro de 1975, do meu escritor e ensaísta favorito, sobre a nossa revolução democrática e nacional.

Lembro-me de um Domingo de 2003. Comprei o Público numa banca perto dos pastéis de Belém e li a notícia da sua súbita morte em Banguecoque. Fazia sol, mas tudo ficou negro e amargo. Um camarada de tantas horas de leitura e de bem regadas e alimentadas discussões imaginárias tinha súbita e precocemente morrido.

Assassinato no comité central foi o primeiro livro que li dele, creio que foi o primeiro da série do icónico detetive Pepe Carvalho a ser lançado entre nós, e o último, até ontem, tinha sido o ensaio histórico sobre Dolores Ibárruri, Passionaria y los siete enanitos, que não está editado entre nós. O meu romance favorito é O Pianista, sublime história de amor e de memória. Recentemente, ofereci ao meu filho a adaptação, sob a forma de novela gráfica, de Os Mares do Sul.

Montalbán vive, porque o continuamos a ler. Siempre.

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