Filha das ilusões tecnopolíticas da “primavera marcelista”, a Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), fundada em 1970, é “herdeira ética de Sá Carneiro”, para usar a fórmula do seu atual presidente, Álvaro Beleza. Ou seja, é herdeira do liberalismo que sempre preferiu evoluções pouco democráticas a revoluções democráticas. É hoje uma das sedes do neoliberalismo.
O anúncio de um estudo coordenado por Abel Mateus, economista consistentemente neoliberal desde os anos 1970, e por Álvaro Beleza, médico de direita que milita no P sem S e consistentemente peneirento, confirma esta hipótese.
O resto da crónica pode ser lido no setenta e quatro.
6 comentários:
«liberalismo que sempre preferiu evoluções pouco democráticas»
Por definição o liberalismo liberta a expressão da acção individual e consequentemente a expressão da multiplicidade de valores que aí se podem encontrar.
Na expressão desses valores individuais ninguém nega ao Estado o dever de a condicionar na sua acção às leis que fazem prevalecer os valores que preservem a segurança e bem-estar colectivos.
Preservar a democracia, como qualquer outro valor definido em lei para o colectivo, sempre é responsabilidade do Estado pela acção de quem é governo e não duma qualquer acção individual ou de um colectivo menor.
O Estado, pela sua acção ou falta dela, é que se vem constituindo uma ameaça para a democracia.
Macron anunciou o fim da “era da abundância”!
https://www.theguardian.com/world/2022/aug/24/macron-warns-of-end-of-abundance-as-france-faces-difficult-winter
A propagandista Teresa de Sousa já escreveu uma porcaria qualquer a defender o querido supremo líder europeísta.
https://www.publico.pt/2022/08/28/mundo/opiniao/macron-fim-abundancia-2018541
Estão a ver como a UE e Euro sempre foram armas da classe dominante contra a maioria da população?
Quão mais explicito tem que se tornar?
Esta gentalha que tem boa vida diz que a “era da abundância” acabou a tantos que têm sido privados de bens materiais básicos, mais imundos não conseguem ser.
“A austeridade vai criar as condições para o crescimento económico” insistiam (e ainda insistem) os propagandistas. Nunca a austeridade teve como objectivo criar as condições para o crescimento económico, o objectivo era empobrecer a maioria da população, SEMPRE foi o objectivo!
Será que estas “elites” ao empurrarem tanta gente para o desespero esperam criar uma revolução? É que parece mesmo que as “elites” querem que os povos se revoltem...
Caro Jose, na prática do liberalismo, especialmente desde os anos 80, não há multiplicidade de valores, há apenas um valor individual, nomeadamente aquele que se mede em €€€.
Mas tem razão quando diz que o Estado deve zelar pelo bem-estar colectivo. Sugiro-lhe então uma olhada pelos primeiros parágrafos deste texto, onde se narra como o Partido Liberal britânico encarava, na década de 70, essa função do estado. Aqui ficam alguns pontos: salário mínimo decente, justa distribuição da riqueza, desmantelar monopólios de poder político e económico (!), e a verdadeira cereja no topo do bolo: abandonar a política de ter aumento do PIB como objectivo principal!!
O que acha que a malta da SEDES pensaria disto?! (Ou como diria um já falecido jornalista: "E esta, hein?!")
Caro Óscar, quando as complexidades individuais e sociais parecem criar situações irresolúveis sempre tenho achado utilidade em tomar por referência o extraordinário desempenho da vida na Terra.
Daí derivo que a estabilidade é uma soma de vitórias e de derrotas, que sempre encontra limites temporais, tão inesperados quanto inevitáveis.
Nada reflete mais claramente essas dinâmicas do que a economia onde a estabilidade é uma miragem, onde crescer é não raro a condição de sobreviver.
Assim, percebo a boa intenção, mas a estabilidade não é objectivo de política.
Acrescer mínimos de segurança, parece-me bem mais adequado.
Caro Jose, tem certamente razão quando diz que devemos aprender com a natureza, mas essa aprendizagem que tem que ser feita com cuidado: afinal de contas, a extraordinária resiliência que ela possui é obtida, entre outros mecanismos, matando sem dó nem piedade tudo o que não funciona (isto é um simplismo, mas para esta discussão é suficiente). Imagino que não seja algo que queira ver reproduzido nas sociedades humanas, daí a ressalva que acrescenta no fim sobre "mínimos de segurança".
Contudo, a minha principal objecção nem é essa. Diz que "crescer é não raro a condição de sobreviver", mas isto não é dizer tudo. Na natureza, nada cresce para sempre, porque nada pode crescer para sempre. Mais: tudo o que cresce, fá-lo apenas até atingir um determinado estádio do seu desenvolvimento -- e depois estabiliza (e quando uma população cresce demasiado, também decresce depressa; cf. o modelo de Lotka-Volterra). Excepto, aparentemente, na economia, onde crescer para o infinito e mais além, e independentemente do tamanho que a economia já tenha atingido, é algo bom e salutar, dizem os (neo)liberais... -- e quando surge o subsequente e inevitável colapso, aí já é culpa da esquerdalhada!!
Estamos, portanto, perante mais uma aldrabice liberal, onde se agarra numa narrativa (neste caso a inspiração na natureza), escolhe-se os pontos em que essa narrativa é útil -- e varre-se o resto para debaixo do tapete. Mentira por omissão, como de costume -- nada de novo debaixo do sol, como já dizia o outro...
Caro Óscar, só lhe posso dar razão: soluções finais não há senão nas tragédias.
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