sexta-feira, 16 de julho de 2021

Uma questão que pode ter resposta


Ando com esta questão: porque é que a esquerda e o centro-esquerda social-democratas da América Latina tomam posições solidárias com Cuba, como se pode atestar por esta cuidadosa declaração do Grupo de Puebla, e por essa Europa afora, cada um à sua maneira, só os comunistas, sectores da chamada esquerda europeia ou figuras como Jeremy Corbyn, ligados a campanhas de solidariedade com Cuba, o fazem? A mesma questão se pode colocar, aposto, comparando as esquerdas asiáticas e africanas com a maioria do que resta das europeias.

Porque, por cá, demasiados esqueceram ou nunca quiseram conhecer a realidade histórica bem material, bem física, muito para lá do discurso e da representação volúveis, do imperialismo, vivendo numa espécie de fim da história, divulgando a última versão do totalitarismo de vencedor de guerra fria, agora na figura da caça ao populista, padrão tão bem exemplificado na crónica de Rui Tavares da passada segunda-feira, comparando um discurso de mobilização do Presidente cubano com a extrema-direita latino-americana de Bolsonaro e quejandos. 

Por lá, ninguém minimamente consequente pode esquecer quem esteve sempre do lado da literalmente saudável emancipação anti-imperialista e quem, só para remontar à Guatemala de Arbenz, cujo derrube foi um momento marcante da educação política de Fidel ou de Che antes da Serra Maestra, esteve sempre do lado das classes possidentes mais abjectas, fomentado velhos e novos golpes, velhas e novas desigualdades mortíferas. Por cá, é mais estatocídios, mas sempre por razões humanitárias, claro. 

Sim, a avaliação internacional, das relações de força e de poder internacionais, tem muitas cambiantes e até, vejam lá, contradições. Não é nunca uma dedução de princípios liberais ahistóricos, de resto muito selectivos na teoria e ainda mais selectivamente aplicados na prática. 

    

7 comentários:

TINA's Nemesis disse...

Porquê considerar Rui Tavares como esquerda?

Rui Tavares é pró-Nato;
Rui Tavares é pró-invasões “humanitárias”, como a da Líbia;
Rui Tavares acha que a Rússia está por detrás de todos os males dos EUA e da Europa;
Rui Tavares acha que a União Europeia e Euro não são sistemas de opressão (austeritária), na realidade até são construções dos povos (não da classe dominante) e democráticas;
Rui Tavares dá-se muito bem com facilitadores da extrema-direita, como João Miguel Tavares;
Rui Tavares venera capitalistas, por exemplo, aquele que o permite estar na comunicação social assiduamente.

A sério, o que é que faz de Rui Tavares esquerda? São as causas identitárias e minorias que Rui Tavares explora e tira proveito pessoal? Se é isto, não parece ser o suficiente para considerar Rui Tavares esquerda, é sim mais do que suficiente para considerar Rui Tavares oposição controlada...

Abraham Chevrolett disse...

Porque não deixar que a totalitária,ignorante e maldosa Cuba se transforme no ridente paraíso do Haiti ?
Este não é comunista ,tem na História o bonacheirão Duvalier, gente boa, nada barbuda...

Abraham Chevrolet disse...

O Haiti fica a oitenta (80) km de Cuba,não é o clima que influencia o seu destino...

Miguel Moreira disse...

Cuba é uma ditadura, na medida em que por exemplo não existem eleições livres. As pessoas protestam porque não têm comida e outros bens essenciais. Porque não existe imprensa livre. Sou de esquerda, mas não podemos lutar contra o regime húngaro e polaco e calar perante o romantismo cubano. Menos...

TINA's Nemesis disse...

Acho que é visível para um número crescente de pessoas a duplicidade dos fazedores de opinião da comunicação social convencional.
Estes fazedores de opiniões, que apenas repetem talking points aprovados por Washington, dizem que o regime de Cuba tem que acabar, que há falta de liberdade, curioso, não há falta de liberdade na Arábia Saudita, país que decapita quem crítica o regime?
Onde estão os artigos dos liberais opinadores sobre mais um crime contra humanidade no Iémen perpetrado pelo regime Saudita com o apoio do regime aliado dos EUA?

E por falar em manifestações, quando elas acontecem nos EUA onde estão os liberais opinadores a exigir o fim do regime norte-americano?
Acham que a brutalidade policial que se vê nos EUA não é resultado de um estado policial? Não lhes interessa quando a polícia norte-americana brutaliza e assassina?
Não é coisa para exigirem mudança de regime?

É transparente, os fazedores de opinião querem lá saber do bem-estar dos cubanos, venezuelanos, nem das próprias populações dos seus países eles querem saber…

E concordam os liberais opinadores com o Presidente da Câmara de Miami quando ele defende que Cuba devia ser bombardeada?

“Presidente da Câmara de Miami diz que EUA deveriam considerar ataques aéreos contra Cuba”

https://www.businessinsider.com/miami-mayor-says-us-should-consider-air-strikes-against-cuba-2021-7

Que “humanitário”! Ele só quer que os cubanos sejam livres…

Anónimo disse...

Miguel Moreira, Cuba não é nenhuma ditadura e tem eleições livres que elegem os membros representativos tanto municipais como legislativos. A ideia que Cuba não tem eleições livres, é errada.
As pessoas têm comida, mas também sofrem muito de um bloqueio criminoso, imposto pelos EUA que , por exemplo, impede que os mesmos recebam medicamentos e vacinas. Em todo o caso, a espantosa medicina cubana já conseguiu fazer duas vacinas anti-COVID.
Existe imprensa livre. Tenho amigos cubanos que optam por ler vários links da internet com imprensa alternativa que o Miguel Moreira não lê em Portugal (caso do La Iguana).
Creio que o seu comentário, Miguel Moreira, é influenciado por culpa de uma comunicação social que temos, anti-socialista (tanto cubana, como venezuelana).

Anónimo disse...

«Cuba é uma ditadura, na medida em que por exemplo não existem eleições livres. As pessoas protestam porque não têm comida e outros bens essenciais. Porque não existe imprensa livre. Sou de esquerda, mas não podemos lutar contra o regime húngaro e polaco e calar perante o romantismo cubano. Menos...»

Esta é a conceção social-democrata burguesa de quem vota BE, sobre os cubanos.