quinta-feira, 29 de julho de 2021

Fugir dos factos como o diabo da cruz (II)

Irritado com a recente aprovação dos novos referenciais curriculares para o ensino básico e secundário, que põem finalmente termo às metas curriculares e demais tralha antipedagógica de Nuno Crato, o publisher do ECO, António Costa, decide agitar de novo o fantasma do «fim dos exames no 4º ano», associando esta medida à quebra de resultados dos alunos portugueses no TIMSS de 2019, alegadamente reveladora de uma «degradação do ensino» a partir de 2015 e do «facilitismo» da esquerda (o chavão fácil a que a direita recorre para disfarçar o seu vazio de ideias em matéria de educação).


O publisher do eco não deve ter acompanhado, no final de 2020, o debate sobre os resultados deste relatório, que avalia os conhecimentos dos alunos do 4º ano em Matemática. Isto é, dos alunos que ingressaram no 1º ano do ensino básico em 2015 e concluíram o respetivo ciclo em 2019. Se o tivesse feito (sem o facilitismo de ler apenas o que lhe convém e sem incorrer em associações cronológicas simplistas), teria percebido que os alunos a que se refere como vítimas de «um ensino para manter o sistema, para criar facilitismo», frequentaram praticamente todo o 1º ciclo sujeitos aos referenciais curriculares de Nuno Crato (como se demostra no gráfico aqui em cima).

Sim, é verdade que os alunos que participaram no TIMSS de 2019 não realizaram os exames do 4º ano (introduzidos por Nuno Crato em 2013 e extintos em 2015). Mas o que deve ser pedido ao publisher do ECO é que explique o progresso notável feito por Portugal entre 1995 e 2011 (ver gráfico aqui ao lado), conseguido sem a realização de quaisquer exames do 4º ano e sem as metas curriculares de Crato. Como foi possível, Dr. António Costa?

Aliás, importa relembrar sempre também, a todos quantos recorrentemente se indignam com o fim dos exames do 4º ano, decretado pela maioria de esquerda em 2015, que nessa data - e sendo apenas parcialmente acompanhado pela Bélgica francófona - Portugal era o único país europeu que tinha exames nos seis primeiros anos de escolaridade. A generalidade dos Estados membros, de facto, apenas realiza provas de aferição, à semelhança do que hoje sucede, felizmente, no nosso país.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ainda dizem que não há Estadistas.
Excelente exemplo, uma vez mais.

António Nunes

Anónimo disse...

Os exames são terríveis.
Mas o que parece aqui é que, ao mesmo tempo que se faz pressão para se subirem as notas administrativamente se tira um controlo independente da escola.
Se se sancionarem as escolas e os professores que dão más notas ao mesmo tempo que se acabam com os exames, temos a certeza que as notas sobem, os alunos é que não ficam a saber mais.
Entretanto vamos jogando com as palavras:
Já houve objetivos, metas, níveis de aprendizagem e competências, tudo palavras para descrever a mesma coisa mas que os proponentes declaram que não!!!, são coisas diferentes.
Já não há ensino, há ensino-aprendizagem (parece que se pode ensinar sem ninguém aprender)
E todos os anos os nossos responsáveis pela educação andam a descobrir a pólvora no ensino e na organização das escolas, como se fosse uma atividade que nunca tivesse sido feita antes. Porque as legislaturas duram 4 anos e é preciso deixar a sua marca, nem que seja uma marca feita de cretinices. De qualquer modo não há perigo, o cretino seguinte vai cancelar tudo.

Zeca Gancia disse...

Viva o Ensino em Portugal, pena que seja a caminho da incompetência, das incapacidades gerais e mínimas dos alunos de se munirem de ferramentas capazes de tornarem cidadãos aptos, defenderem-se e vencerem na vida, ficando inexoravelmente à mingua de elites partidarizadas.
Fui professor e chegamos ao ponto de fazer 2 testes, um de treino na sexta e outro igual só com alteração da ordem das perguntas para a semana seguinte. Objetivo? Não existirem negativas. Tudo isto em turmas que os alunos chegam ao 8º e 9º ano sem saberem escrever, incapazes de passar á prosa a ideia mais simples de forma coerente, morfológica e sintaticamente corretas. Ensino é para ser levado a sério? Não é não. Quanto mais ignorantes, mais os que nos desgovernam fica melhores. Telenovelas, futebol, entre outros coisa sempre vão distraindo este pessoal que cada vez mais é tratado como gado. Portugal está doente, mas alguém está interessado em modificar a situação? Tenho muita pena de professores que ainda vivem no mundo de serem prestáveis e reconhecidamente competentes, com o objetivo de ajudar a formar cidadãos vencedores em toda a linha. É uma batalha perdida, porque não é esse o propósito. As escolas estão a servir de depósitos da cidadãos para não virem fazer maldades para a sociedade muito cedo. É triste quem precisa de "ensinar" para sobreviver.