segunda-feira, 23 de setembro de 2019

O espectro da americanização

Recentemente, ficámos a saber que se está a investigar o consumo de analgésicos opioides em Portugal por via do SNS, já que este mais do que duplicou nos últimos oito anos. Realmente, parece ser uma tendência preocupante. O espectro da chamada epidemia norte-americana, induzida pela indústria farmacêutica, parte do mais vasto capitalismo da doença, paira sobre esta sociedade desigual?

Felizmente, Portugal ainda tem precisamente o SNS como uma barreira entre a civilização e a barbárie do império norte-americano. A investigação é oportuna. Já nos EUA, o descontrolado consumo de opioides é parte do letal cocktail das chamadas mortes por desespero. Um fenómeno social que diz tudo sobre a economia política desse país, que tantos economistas por cá incensaram durante tanto tempo. Que dizer portanto da taxa de mortalidade crescente, da queda da esperança de vida entre segmentos importantes da população dos EUA ou da diferença de quinze anos entre a longevidade de um cidadão pertencente aos 1% mais ricos e a de um cidadão pertencente aos 1% mais pobres?

Como já se argumentou por aqui há mais de uma década, divulgando resultados da área dos determinantes socioeconómicos da saúde, que entretanto tem coligido evidência empírica cada vez mais avassaladora, a injustiça social mata.

11 comentários:

Anónimo disse...

"Felizmente, Portugal ainda tem precisamente o SNS como uma barreira entre a civilização e a barbárie do império norte-americano."

Não entendo esta frase à luz do facto de que, em Portugal, a mais do que duplicação do consumo de analgésicos opioides ter ocorrido por via do SNS ("o consumo de analgésicos opioides em Portugal por via do SNS, já que este mais do que duplicou nos últimos oito anos").

Quer dizer que teria sido ainda pior fora do SNS?

Geringonço disse...

É perturbante ver o que se passa nos EUA, o país que já foi o mais igualitário dos países ocidentais ter entrado na decadência que entrou.

É um aviso para aqueles que acham que atingido um certo nível o retrocesso não é possível...

Também é perturbante ver como os certos interesses querem que Portugal siga o exemplo dos EUA.

Determinados interesses andam há anos a criar a ideia na população portuguesa que o SNS tem os problemas que tem devido à incompetência do Estado (e não devido ao estrangulamento que este tem sofrido ao longo dos anos), mas esses mesmos interesses nada dizem sobre o facto de os EUA, país sem um SNS, o acesso aos cuidados de saúde ser pior e mais caro.

Às vezes penso que é um milagre o SNS ter sido criado tal é a vontade de determinados interesses em querem lucrar com a doença, e quando não conseguem lucrar é negar por completo o acesso aos cuidados de saúde.

Outro problema gigantesco nos EUA é a dívida estudantil, há hoje nos EUA várias gerações amarradas à dívida que foi contraída para tirar um curso universitário.
Aqui também se vê a decadência deste país, um país que permitiu a gerações mais antigas que não seriam reféns de WallStreet para terem acesso à educação.

Os EUA são um hoje um exemplo daquilo que não se deve seguir!

Jaime Santos disse...

E lá está o João Rodrigues de novo à caça de gambozinos. Existem provas concretas do envolvimento de farmacêuticas no aumento deste consumo, investigado pela ANM e não ainda pelo MP?

Num post anterior, falava da europeização das Universidades (os programas de financiamento da UE permitiram que a nossa Ciência saísse da mediocridade salazarista em que esteve mergulhada até aos anos 80) que conduziria à americanização das mesmas não se sabe bem como, agora tenta-se colar o caso português ao americano com o proverbial cuspe da analogia...

Chama-se a isto atirar o barro à parede para ver se cola (o termo é outro que não o barro, mas não é utilizável neste espaço)...

Mas tem toda a razão, a injustiça social mata. Deve ser por isso que a taxa de mortalidade na URSS aumentou nos anos 60 e 70, fruto dessa outra droga que é o álcool:

"All of the former Soviet countries have followed the universal tendency for mortality to decline as infectious diseases are brought under control while death rates from degenerative diseases rise. What is exceptional in the former Soviet countries and some of their East European neighbors is that a subsequent increase in mortality from causes other than infectious disease has brought about overall rises in mortality from all causes combined. Another distinctive characteristic of the former Soviet case is the presence of unusually high levels of mortality from accidents and other external causes, which are typically associated with alcoholism."

(citado na página da Wikipedia 'Demographics of Russia')

Jose disse...

Neste paraíso à beira-mar, em que ninguém stressa sob a capa protectora do estado social - estudos e livros à borla, ainda que calinos, saúde à borla, ainda que comportamentos de risco (abortos incluídos), rendimento mínimo, ainda que calaceiros - o consumo de opióides é o barómetro mais expressivo da vigência da 'doutrina dos coitadinhos'.

A vida não pressupõe sacrifícios ou sofrimento, o direito à felicidade é direito fundamental que cabe ao Estado garantir.
Tens uma contrariedade - toma lá uma pastilha, coitadinho.

E a quase satisfação - seguros da geral compreensão - com que se dizem em 'depressão'!!!

Geringonço disse...

"Os fabricantes de drogas conspiraram para piorar a crise dos opióides."

"Johnson & Johnson e outros lucraram com o vício e morte - e ainda assim não acham que nada fizeram de errado"

https://www.theguardian.com/commentisfree/2019/aug/29/opioids-crisis-drug-makers-pharma


Tal como os psicopatas da Banca, arruinaram a economia, são salvos pelo Estado e acham que nada de errado fizeram.

O sistema em que vivemos é doentio.

Paulo Guerra disse...

O milagre do SNS não aconteceu tanto no momento da sua criação, com um ambiente muito mais propício. Mas sim no facto de ter conseguido resistir sempre ao ponto de chegar ao dia de hoje.

Anónimo disse...

"... a injustiça social mata."

A injustiça social mata e mata muito, os criminosos que se passeiam por todo o lado a defender a desigualdade têm de ser apontados. Todos os esquemas que são utilizados para privar as pessoas do direito à vida têm de ser denunciados. Não há sitio civilizado onde a barbárie é o poder. Há demasiada gente que se move numa cortina de fumo escondendo as implicações dos seus actos, num cinismo total e absoluto, todos os que procuram o entendimento com a indecência não são parte da solução são parte do problema.

Anónimo disse...

O aonio eliphis pimentel ferreira etc tem agora um outro etc
“ Paulo guerra” como seu novo nick

Agora assume a capa de rebolucionario, admirando-se com a persistência do SNS

Ontem defendia o tratado orçamental e a austeridade troikista/passista, assim com paninhos quentes, para não se ver ao que anda

Entretanto a criação do SNS não foi efectuada em nenhum momento mais propício. Foi realizada pela acção decisiva da esquerda, contra a direita e a tralha neoliberal. E havia muito dirigente do PS também ao lado dessa mesma tralha

Um dos inimigos rancorosos do SNS é precisamente o joão Pimentel Ferreira, adepto convicto dos seguros de saúde, das PPP e dos negócios privados à custa da doença dos cidadãos

Agora anda nisto, a ver se arranja lastro para fazer campanha

Anónimo disse...

Dinfe a conclusão é óbvia: a tralha neoliberal ê a barbárie ao assalto

Anónimo disse...

A idiotice em letra de forma:

“ ninguém stressa sob a capa protectora do estado social”

A idiotice, repita-se, é de marca maior e nem vale a pena ir por aí, já que se assume de per si.

Agora há outra cousa que sobra. É o ódio patológico duma direita gasta e serôdia, trauliteira e vampiresca, ao Estado Social

Anónimo disse...

A admiração de mister multinick pela resiliência do SNS...
O trabalhinho dos multinicks não está a ser tão eficaz, graças também à luta dos portugueses e ao brio profissional dos seus trabalhadores.
Estes interesses privados a sonharem com ainda mais lucro à custa da nossa saúde
Parecem chacais. Admirados