segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Para tirar o neoliberalismo e o imperialismo das nossas cabeças


É que o neoliberalismo nas nossas cabeças também é isto. É acreditar que o Estado nem funções na regulação deve ter, quanto mais na provisão e na produção – coisa que os privados naturalmente agradecem. É acreditar num relativismo total de valores e finalidades (afora alguns tabus, como o direito à exploração, à propriedade ou ao lucro), forma de desalojar um acervo adquirido de correcção política. E é também acreditar que a liberdade de expressão, em particular a das empresas, pode ser algo de absoluto que não tem de se conciliar com outras liberdades e direitos. Quando pensamos num caso como o dos Blocos de Actividades, todas estas escolhas de sociedade estão convocadas.

Sandra Monteiro, Blocos de actividades para o Estado e para o mercado, Le Monde diplomatique – edição portuguesa, Setembro de 2017.

[O] ponto de equilíbrio da política externa dos Estados Unidos resulta cada dia mais da soma das fobias republicanas (Irão, Cuba, Venezuela),muitas vezes partilhadas pelos democratas, e dos ódios democratas (Rússia, Síria), apoiados pela maior parte dos republicanos. Se existe um partido da paz em Washington, por agora ele é indetectável. O debate presidencial do ano passado sugeria, contudo, que o eleitorado americano pretendia romper com o tropismo imperial dos Estados Unidos. Trump não fez grande campanha sobre temas de política externa. No entanto, quando falou dela foi para sugerir uma linha de conduta bastante oposta à dos poderes instituídos em Washington (militares, peritos, think tanks, revistas especializadas) e à que hoje persiste.

Serge Halimi, Donald Trump ultrapassado pelo partido anti-russo, Le Monde diplomatique – edição portuguesa, Setembro de 2017.

3 comentários:

Jose disse...

Só faz sentido lutar contra o liberalismo se a luta incluir acabar com um generoso pacote de liberdades - sem dúvida uma inferência muito lógica!

Anónimo disse...

Boa leitura da situação bipartidária dos States. Infelizmente, ainda há muita gente dita "de esquerda" na Europa que, numa busca desenfreada pelo gambozino escondido, pretende haver uma influente "esquerda democrática" pró-paz nos EUA...
Enquanto essa esquerda europeia dorme nos braços de um lírico Morfeu, os EUA continuam a manter tropas de ocupação na Europa (e daí retiramos que, para essa Europa, a II Guerra Mundial nunca acabou) e teimosa e cegamente insistem em amontoar a lenha com que, pensam eles, consumarão o auto-de-fé que consumirá a RPC e a Federação Russa. No entanto - make no mistake - quem se consome em fogo brando são os próprios EUA, essa inteligente potência que precisa de 5 triliões de dólares para recuperar as suas infraestruturas, mas que enterra biliões e mais biliões em armas com que destrói a vida e o país dos outros.

Anónimo disse...

Fala-se em neoliberalismo, jose fala em liberalismo. Para parecer coisa séria e com retoques da escola certificada

Um processo conhecido.

Mas é estranho que jose fale em acabar com o generoso pacote de liberdades...o generoso pacote proibido pelas botas do outro e vigiado simiescamete pela Pide?

Ou será que Jose confirma de todo o que Sandra Monteiro diz:
O projecto meoliberal é defender um Estado sem funções na regulação, (coisa que os privados e os consultores financeiros naturalmente agradecem). É acreditar num relativismo total de valores e finalidades (afora alguns tabus, como o direito à exploração, à propriedade ou ao lucro), forma de desalojar um acervo adquirido de correcção política. É também acreditar que a liberdade de expressão, em particular a das empresas, pode ser algo de absoluto que não tem de se conciliar com outras liberdades e direitos.

E também acreditar que os bordeis tributários são úteis à economia. Mas aí o próprio jose tem doutrina produzida e regra geral ao lado dos criminosos de colarinho branco