terça-feira, 27 de setembro de 2016

Não olhem para a lua, reparem antes no meu dedo, que a aponta

«Os partidos fazem as notícias, quase as lêem e comentam-nas. Um pequeno partido de menos de 10% comanda canais e serviços de notícias. A concepção do pluralismo é de uma total indigência: se uma notícia for comentada por cinco ou seis representantes dos partidos, há pluralismo! O mesmo pode repetir-se três ou quatro vezes no mesmo serviço de notícias! É o pluralismo dos papagaios no seu melhor! Uma consolação: nisto, governos e partidos parecem-se uns com os outros. Como os canais de televisão.»

António Barreto, As notícias na televisão

É impossível, no essencial, não estar de acordo com a parte inicial do retrato que António Barreto faz dos espaços noticiosos nas televisões, nomeadamente quando refere a «banalidade que reina» e o «lugar-comum que impera», os diretos por tudo e por nada, as «cenas pungentes» e a ausência de «decoro e pudor» ou a «linguagem automática» e a «preguiça que é virtude». Tudo isto é certo e constitui um problema sério e complexo, não sendo neste plano, de facto, que o artigo de opinião no DN suscita reservas e perplexidade.

O que custa perceber e aceitar como válido não é só a ideia, defendida por Barreto, de que são os governos, os ministros e os partidos a preencher os espaços de informação e debate (até porque é justamente a esse nível que tem sido garantido - apesar de tudo - o contraditório e o pluralismo de opinião). O que custa perceber e aceitar - e essa é a maior perplexidade - é que o sociólogo não dedique uma única palavra ao monolitismo de opinião que há muito reina no espaço informativo das televisões, e através do qual analistas e comentadores (normalmente apresentados com a aura de especialistas, política e partidariamente neutros) continuam a debitar o mantra da austeridade e dos sacrifícios, nos seus diversos matizes. Isto é, como se a tese do «não há alternativa» permanecesse intacta e não fosse hoje, no mínimo, vivamente interpelada pela própria realidade. Aqui sim, estamos perante o pluralismo dos papagaios de que fala o sociólogo, com comentadores que se parecem uns aos outros, falando a uma só voz e sem contraditório.

Mesmo que António Barreto seja, desde a primeira hora, um fervoroso adepto da austeridade, o lastro de destruição, desigualdade e sofrimento inútil que a sua imposição deixou no país deveria bastar para o fazer parar e pensar. Mas não, quase fica a sensação de que fazer incidir as baterias no debate partidário é apenas a forma encontrada para desviar o olhar, parecendo ao mesmo tempo que se está a apontar para aquilo que justamente se pretende esconder ou ignorar.

15 comentários:

Paulo Marques disse...

O problema não é haver ou não contraditório. O heliocentrismo não precisa de contraditório, por exemplo. O problema é a defesa de uma teoria económico-política baseada em achismos e lugares comuns que nunca funcionaram e nem no excel batem certo.

Jaime Santos disse...

Se Barreto faz parte desse monólito de opinião, não devemos espantar-nos que diga o que diz. Mas uma coisa deve ser dita em seu favor. Se a discussão anti-austeridade se faz exclusivamente no campo da moral e não extravasa daí para o campo do possível, de quais os passos que é necessário tomar em concreto, não vale a pena queixarem-se. Enquanto se falar da saída do Euro, ou da renegociação da dívida (cujo estudo está entregue a um comité que tem felizmente mantido um prudente silêncio) recorrendo exclusivamente a slogans, não há quem nos valha. Os Gregos constataram que não basta ter um Ministro das Finanças colorido e que passa o tempo a falar das conversas que teve em privado para convencer a Alemanha. Eu sei que a tecnocracia é tipicamente identificada com o neoliberalismo, mas enquanto não existirem à Esquerda mais pessoas como Mário Centeno, não se espantem que os media não liguem nenhuma ao que dizem...

Anónimo disse...

Lambe botas do Pingo Doce.

Anónimo disse...

Esta Malta tem a sua cabeça profissional e política a prémio. Passaram os quatro anos de governação de direita liberal a defender a política de empobrecimento ( austeridade é palavra imprópria é própria da linguagem do "império" ) e agorem temem que com outra política a coisa dê certo. É a sua sobrevivência que está em jogo. Estão assustados e são perigosos . Brecht dizia que não há ninguém mais parecido com um fascista do que um burguês assustado.

Anónimo disse...

Barreto personifica o próprio do monolítico.

O Euro vai acabar disse...

António Barreto é dos tais com fortes convicções esquerdistas que se tornaram direitistas neoliberais.

Antonio Barreto fala obviamente de barriga cheia quando promove austeridade.

Antonio Barreto tal como outros, tipo Medina Carreira, sacia-se frequentemente a malhar no “povo português”, como os portugueses são isto e aquilo e sempre inferiores aos lendários nórdicos, austeros e incorruptíveis.

António Barreto é uma espécie de Durão Barroso versão introvertida e menos bem sucedida no mundo político e empresarial neoliberal.

António Barreto é o remanescente salazarista que este país nunca conseguiu se livrar.

Não sei se vale a pena perder tempo com figuras como Barreto e Medina, são figuras que pararam no tempo e consomem-se com o ódio por não lhes darem a atenção que gostariam ter...

Anónimo disse...

Muito bom post a expor esta miséria intelectual que é Barreto. Barreto que continua todavia com o ventre inchado qual odre oco e vazio a tentar fazer passar por algo que não é. De facto nem é decente nem ibtelectualmente honesto.

Alguns já por aí disseram mais sobre tal traste. É a sua própria estatura profissional que está em jogo. E o que sobra é a lama viscosa dos que se vendem, quais prostitutos embonecados

Anónimo disse...


Custa a crer que os veículos da oposição de direita falem de um novo resgate, que o BCE faz, que o FMI diz, que, que e assim sucessivamente e se esqueçam de dizer que o mesmo FMI, ilegalmente, empresta rodos de dinheiro, algum a fundo perdido, a´ Ucrânia, estando esta muito pior que Portugal.
Porque esta omissão dos agentes da comunicação social, Comentadores e fazedores de opinião?
Ouvi muita coisa, li outro tanto, mas falar e escrever sobre este caso de dois pesos e duas medidas da Sra. Lagarde nicles… E´ chocante esta situação, bem sei que Portugal e´ periférico, bem sei… mas tanta sem vergonhisse e´ demais!
Ate aposto que o pai da destruição da reforma agraria (lembram-se da Lei Barreto?) calou tamanha afronta a democracia. De Adelino Silva

Jose disse...

Se há lamento incoerente é esse mesmo: se a necessidade de austeridade é uma evidência, porquê tanta gente a toma por uma evidência?

Outra questão mais coerente seria: porquê os que dizem que a necessidade de austeridade não é uma evidência, não dizem senão que ela é má, sem nunca dizerem com total inteireza como evitá-la?
Porque o que de facto vão dizendo até hoje, é que riscos de males maiores no presente e no futuro próximo, trariam benefícios no futuro longínquo.
Não será isso a defesa da austeridade, por outras vias, ainda que se sugira mais promissoras, se bem que seguramente mais arriscadas?

Sabe-se também que essa nova austeridade traria novos protagonistas, quer para a dirigir quer para a sofrer, tudo já experimentado no passado e de que o presente é ainda claro reflexo.

Anónimo disse...

Um marco na história da televisão, no apogeu da austeridade, do "ai aguenta, aguenta", foi a entrevista da sua senhora a falar sobre uma refeição no restaurante "A Travessa".

O casal atingiu aquilo a que eu chamo "a idade do tailleur". Há umas décadas atrás, aconteceu o mesmo à Zita Seabra (neste caso, com uma epifania pelo meio).

O António Barreto não tem epifanias, mas teve um oceano de coisas boas durante a austeridade promovida pelo cds/psd. Há que compreendê-lo.

Anónimo disse...

O lamento incoerente parece que é uma agenda dos coitadinhos envergonhada. Mas como se trara do Barreto, como se sabe amesendado à mesa dos vampiros apatece agora como uma evidência a tentar parecer evidente.

Um mimo.

Anónimo disse...

Mas o comentário não se fica pelas inevitabilidades das evidências evidentes que alguns evidentemente não querem tomar como evidente.

Fala-se em " seguramente mais arriscadas" depois em "novos protagonistas" e depois no "experimentado no passado" e outras csbotinices encavalitadas.

Vejamos. O processo austeritario foi defendido à exaustão por coisas como Schlaube e Psssos Coelho. E por coisas como Barreto e o das 17 e 55. De forma trauliteira e esganiçada.

Agora vir choramingar-se em torno duma palavra esquecendo o compromisso ideológico da tralha neoliberal por esta é sinal de perturbadora mistificação. Porque quem assim esboça tal choradinho é um conluiados com Bsrreto. Porque se sabe que este processo foi um pretexto para um enorme recuo nas condições sociais de quem trsbalha e uma transferência gigantesca de recursos para as mãos dos que têm o poder económico. E porque tal situação foi apresentada como evidência evidente e evidentemente como caminho único a trilhar

Anónimo disse...

O que não se pode admitir é que um beato da austeridade faça o seu papel de charlatão de forma impune como Barreto o tenta fazer.

Tal como não pode deixar de ser lembrado que um histérico amante do retrocesso social e da concentração do capital, como o tal das 17 e 55, tente misturar alhos com bugalhos e passe de entusiasta defensor do roubo de salários e de pensões para um clownesco gritador que estão a saquear os ricos e que afinal a austeridade etc. e tsl

O que demonstra mais uma vez que há mesmo luta de classes. E que neste aspecto o das 17 e 55 contribui e bem para o demonstrar. À evidencia

Jose disse...

Quero tornar muito claro que acredito na Luta de Classes.

A classe dos treteiros luta freneticamente para que não se confrontem argumentos produzidos pela classe dos argumentadores racionais.
A classe dos trabalhadores sofre generosamente o sustento das classe mais solidária dentre todas - a das melgas e vampiros - que lutam ferozmente para nela se manterem sob a liderança de políticos indigentes e muito sensíveis à mudança.
A classe dos proprietários imobiliários aguenta com a classe dos inquilinos coitadinhos protegidos dos políticos com extrema sensibilidade social, Tão extrema que nem é nada com eles.
A classe dos invejosos espuma sobre todas as demais classes, excepcionando a classe dos coitadinhos que aí permaneçam em estado de humilde prostração.

E por aí fora...numa interminável luta de classes.

Anónimo disse...

Herr jose profere um credo. Ele acredita. Ámen

Ele também acreditava em muitas outras tretas. O problema é que, o que ele "acredita" ou não, é um problema exclusivo dele. E se se quer dar a estas cenas circenses por meio destes salmos de seita religiosa em riscos de perder o dizimo é lá com ele. Longe vão os tempos em que raivoso invocava os preceitos corporativos como contraponto à luta de classes.

Porque o faz? Para ver se passa? Para ver se se esquecem os seus próprios berros de beato irado a exigir a troika e mais a troika e a troika uber alles? Para ver se apaga o choradinho miserável que faz em torno do "saque dos ricos" e outras tretas do género? Para ver se não se fala mais do seu protegido, o Barreto?

Temos assim a panóplia:"A classe dos treteiros,freneticamente, classe dos argumentadores racionais, classe das melgas e vampiros, políticos indigentes,sensíveis mudança, classe dos proprietários imobiliários, classe dos inquilinos coitadinhos, extrema classe dos invejosos, classe dos coitadinhos, estado, humilde, prostração".

Herr jose profere um credo. Ele acredita. Ámen.

Até onde vai o processo de fuga e de mistificação da realidade?