quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Por um novo movimento da Paz

Cada vez mais me custa ver os noticiários. O medo instigado fala alto. Irrita-me. Parece que a nossa defesa tem de passar pela morte de alguém. Como naquele raciocínio siciliano: "É bom que matemos toda a família do inimigo para que não haja vinganças". Mas é impossível matar toda a gente. E matar justificará que nos matem a nós. Estamos perdidos.

A ausência de um caminho saudável para a política externa ocidental está afunilar as soluções nacionais. A França acordou em Novembro passado com um governo dito de esquerda a fazer o que qualquer governo de direita faria: tropas na rua, medidas de emergência, suspensão da Constituição. Hollande voa para os Estados Unidos e anuncia uma intensificação de bombardeamentos. Aviões começam a despejar bombas sobre a Síria. A Rússia entra no conflito e ataca as forças apoiadas pelo ocidente contra Assad. A Turquia toma conta do norte da Síria, bombardeia os curdos, ao mesmo tempo que diz bombardear o “inimigo externo” ocidental, enquanto lhe compra o petróleo, que serve para financiar o esforço de guerra contra Assad. Um mês depois, o resultado não se fez esperar. Uma política bélica de direita, praticada por socialistas, insufla eleitoralmente a extrema-direita. Quem parece mais sincero: Valls ou Le Pen?

Estamos a ser conduzidos para a guerra e assistimos ao espectáculo. No meio das imagens da morte crua, alguém se recorda da lufada de ar fresco que foi o discurso de vitória de Barack Obama, em 2009?

"Para a nossa defesa comum, rejeitamos como falsa a escolha entre a nossa segurança e os nossos ideais. Os nossos pais fundadores confrontados com perigos que mal imaginamos, esboçaram um documento para assegurar o Estado de Direito e os Direitos do Homem, uma carta consagrada pelo sangue de gerações. Essas ideias ainda iluminam o mundo e nós não vamos  abandoná-las por conveniência. (...) O nosso poder sozinho não nos pode proteger, nem nos dá o direito de fazer o que quisermos. (...) O nosso poder cresce com o uso prudente. A nossa segurança emana da justiça da nossa causa; da força do nosso exemplo; das qualidades temperantes da humildade e moderação. Somos os guardiões desse legado, guiados uma vez mais por esses princípios, podemos enfrentar essas novas ameaças que exigem um esforço maior, uma maior cooperação e compreensão entre nações."

Quantas bombas não caíram desde esse dia? Quantas mortes? Parece que, independentemente do pensamento de quem vota, há um corpo que fornece todas as informações erradas, tendentes às más práticas, que conduzem a um pântano cada vez mais profundo. A guerra justifica a guerra.

Nos anos 50, após a Segunda Guerra Mundial, um imenso movimento foi lançado em todo o mundo em nome da Paz. Parecia evidente a todos que nunca mais se poderia repetir tanta carnificina. As bombas de Hiroshima e Nagazaki estavam presentes. O mundo tornava-se um local perigoso. Esse movimento reuniu intelectuais de todos os quadrantes, gerou uma dinâmica funda na sociedade ocidental, contra o armamento e o armamento nuclear. Pela Paz e Cooperação. Todos esses esforços foram sabotados pela ideia, tão cara à política macartista de que, por detrás desse movimento, estava apenas a União Soviética e o comunismo internacional. Também estava, nomeadamente porque ainda não tinha a bomba atómica e, por paradoxal que possa parecer a um ocidental, isso tornava o mundo mais perigoso. A década de 50 foi palco de uma luta sem tréguas entre sistemas. A guerra da Coreia. Os anos 60 trouxeram a luta contra o colonialismo ocidental e ao seu reposicionamento. O Médio Oriente explodiu. E, mais uma vez, os povos foram lançados para a guerra. Acho que até hoje.

À luz do que vivemos, cada vez mais penso que era necessário recriar esse movimento da Paz. Um dia, acordaremos atacados e só saberemos pensar em defender-nos. Mas contra quem?

10 comentários:

Anónimo disse...

Sonhar e´ fácil…mas a realidade dos pesadelos diz-nos outra coisa…não tem que ser sempre assim, dizem! Fico-me naquela…
A Guerra esta´ na massa da albarda humana, no ADN e não tem sido possível modifica-la…
Nasci com a guerra civil de Espanha e ate a´ data, pouco ou nada de PAZ tenho vivido. Ate´ o “revolucionário” Durão Barroso, do MRPP. como 1º ministro de Portugal, aceitou como bem a invasão do Iraque…Não que esteja contra a mais um “novo impulso” em prol da Paz, mas e´ que julgo que não servira, para mais nada, senão para entreter a malta. Não pensem que a guerra acaba por si…
As estruturas ate´ hoje criadas pelo “homo económicus” levam todas elas a´ guerra. Nem mais… de Adelino Silva

Anónimo disse...

Se toda a gente mais ou menos sabe que todas as guerras foram e são desencadeadas por razões explícitas ou tendencialmente económicas, para guerras económicas só a paz sócio-económica.

Anónimo disse...

No dia em que os soldados resolverem não ir à guerra
acreditam que os chefes de estado que as declaram
decidam ir?

Moral: os culpados da guerra são os soldados. Você é soldado? De certeza?


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Jose disse...

O que é segurança de direita e segurança de esquerda!
Armas e banhos de água de rosas?

Carlos disse...

Até concordo com o que diz.
Mas tomar como exemplo um discurso do Obama?! e, ainda por cima, apelidá-lo de lufada de ar fresco?!...
Há que ter mais rigor nos exemplos que se usam...

Anónimo disse...

Como sempre o Jose é muito fraquinho, muito fraquinho
no dia em que o Jose emitir algo que se possa chamar pensamento, um lampejo que prove que ele tem cérebro eu prometo que mudo o cognome dele de sabujo para Bobby

fernanda disse...

Escrevi faz já algum tempo que "republicanos e democratas, nos Estados Unidos, e socialistas ou sociais-democratas na Europa, mais não fazem do que administrar politicamente o sistema de economia capitalista" e este sistema, para se sustentar, precisa de guerras como do pão para a boca: as guerras dão ocasião a oportunidades de investimento, as guerras destroem e depois é preciso construir. Otimas oportunidades de negocio muito importantes numa época como a nossa em que os salários baixos inibem o consumo e o crédito já nos deixa um pouco desconfortáveis. Parte-se para a destruição criativa ao inves de ir a raiz dos problemas, ao que está a montante. Por isso é que não acabam logo de uma vez por todas com o financiamento dos jiadistas que é um segredo de polichinelo.

Maria disse...

No chile quando pinochet fez golpe de estado houveram soldados que se recusaram a participar ... foram os primeiros a serem fuzilados.
Em portugal no 25 abril os soldados juntaram se aos capitaes eo povo os seguiu.
Hoje o premio nobel da paz, que recebeu o titulo antes de se mostrar merecedor do mesmo, ja desencadeou mais guerras mas agora com drones.
Desde cedo criancas em todo mundo jogam cenarios de guerra nos videojogos. Amanha chacinarao populacoes inteiras a partir de milhares de km pensando ser um videojogo.
As mentalidades ja estao a ser manipuladas para o efeito.
Viva paz com os olhos postos na guerra.

Anónimo disse...

Então, de acordo com as tradições mais recentes, Segurança de direita é lançar bombas e despedir os antagonistas e outros. a de direita é dizer que o josé é fascista.

João Ramos de Almeida disse...

Caro Carlos,
Tem razão em relação a Obama. Mas digo isto por contraste em relação aos discursos de 2001, a seguir às Torres Gémeas, em que Bush assumiu muito prontamente o discurso guerreiro. Tal como Hollande o fez agora.
A lufada era isso. Apenas.