domingo, 31 de agosto de 2014

Credibilidade e confiança (II)


«Ainda sou do tempo em que o alegado primeiro-ministro assegurava que o Estado não interviria no BES: "Não há nenhuma razão que aponte para que haja uma necessidade de intervenção do Estado num banco que tem capitais próprios sólidos, que apresenta uma margem confortável para fazer face a todas as contingências, mesmo que elas se revelem absolutamente adversas, o que não acontecerá com certeza". Dias depois, a Miss Swaps confirmava a garantia dada por Passos Coelho: "Cabe aos privados resolver os seus problemas".
Acontece que o Estado interveio no BES. À grande e à francesa: 3,9 mil milhões de euros.
Hoje, como quem nos prepara para o pior, a Miss Swaps deixou cair, com uma enorme candura, que a intervenção do Estado no BES pode vir a ser considerada por Bruxelas uma «operação que tem impacto no défice». Pois, está em causa dinheiro do Estado.»

Miguel Abrantes, De mentira em mentira

Como resgatar discretamente um banco, em três actos, às custas do Estado? Primeiro, garante-se que esse banco não precisa de nenhum resgate público (chegando-se a colocar o presidente da República a afirmar que «as folgas de capital são mais que suficientes para cumprir a exposição que o banco tem à parte não financeira, mesmo na situação mais adversa»). Depois, avança-se para a intervenção do Estado propriamente dita, garantindo porém que se encontrou uma solução que não implica perdas para os contribuintes. Por fim, e após de se ter garantido que Bruxelas não irá considerar, em termos orçamentais, os efeitos da injecção de dinheiros públicos, basta admitir que essa «operação tem impacto no défice». É simples, basta dosear adequadamente a informação a transmitir à opinião pública (e esperar que as pessoas não tenham grande memória).

3 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite.
Não sou economista, contabilista, etc. Em suma, não sei nada deste assunto mas gostaria que me explicassem uma coisa.
De onde vieram os tais 3.6 mil milhões que o Estado emprestou ao Fundo de capitalização do Novo Banco.

Pelo que li foi muito complicado o impacto de uns 500 milhões causado pela confirmação de ilegalidade feita pelo Tribunal constitucinal.
ora se 500 milhões até obrigaram a retificativo como apareceram os 3 mil milhões?
Podem ensinar-me de modo a que um leigo entenda?

Nuno Serra disse...

Caro Anónimo,
Os 3,6 mil milhões (que eram inicialmente 4,9 mil milhões) vêm de uma parcela do empréstimo da troika destinada justamente a «salvar» os bancos (em caso de necessidade).
Teoricamente (sublinhe-se o teoricamente), o Estado não entrará portanto com dinheiro no resgate do BES, porque:
- Ou a venda prevista do banco permite repor os 3,6 mil milhões e os juros subjacentes ao empréstimo da troika;
- Ou os bancos (que já atenuaram o valor inicial de empréstimo do Fundo, em 1,3 mil milhões) suportam o montante não coberto pela venda do «Novo Banco».
O «detalhe» - e, como se diz, o diabo encontra-se nos detalhes - é que é manifestamente improvável que se consigam cumprir os pressupostos anteriores. Ou seja, nem é provável que se consiga vender o Banco por um valor que suporte o «empréstimo» de 3,6 mil milhões nem - nesse caso - que os bancos estejam em condições de assegurar (para preservar o Estado) esse valor.
Além de que, em termos contabilísticos - e ao contrário do que foi a dado momento garantido pelo governo - o valor parece que vai mesmo entrar para o cálculo do défice.

Anónimo disse...

Miss Swapps continua alegremente a mentir com quantos dentes tem na boca.
Claro que isto nada tem de estranho ou não fosse ela ministra do governo mais aldrabão de que há memória neste país.
Mas estas coisas são mesmo assim. É que esta gentinha trabalha e muito para garantir que quando forem corridos( e sê-lo-ão)irão para lugares de pouco ou nenhum trabalho mas de boa remuneração. Veja-se o Gaspar, o Alvaro Pereira, o Moedas e mais recentemente, o tal Rosalino(com que então já somos administrador do BdP. nada mau hã...).
Digam lá se não compensa fazer as maiores malfeitorias e ser lambe botas. Qual será o lugar que a Merkel tem reservado para o P.Coelho (o lambe botas Mor.)