No início deste mês, Ângela Merkel apelou, em Berlim, ao reforço de uma "cultura da estabilidade" financeira na zona euro. A expressão é, em abstracto, poderosa. Como também o seria o apelo a uma “cultura da confiança” política. Mas Merkel apenas poderia privilegiar o princípio da confiança se tivesse uma visão substantivamente diferente da política económica europeia e do papel das suas instituições.
Infelizmente, para a chanceler alemã a estabilidade constitui uma condição necessária, um requisito prévio essencial à conquista da confiança por parte da economia financeira. O que significa que a acção política, assente no princípio da estabilidade, se subordina ao princípio da confiança dos mercados (que são por natureza, e demonstradamente, instáveis).
O desastre europeu radica, em larga medida, nesta inversão de valores. O reforço de uma cultura da confiança, como primado da política, significaria um robustecimento do papel directo das instituições europeias junto dos Estados em dificuldade e na condução de políticas de crescimento. Ao travar a vertigem especulativa dos mercados financeiros, instigando neles uma "cultura da estabilidade", a política assente numa "cultura da confiança" permitiria colocar um termo ao ciclo infernal da austeridade, possibilitando a saída da crise e fomentando a coesão económica e social do continente europeu.
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2 comentários:
Parabéns, Nuno Serra. Um naco de texto muito bem escriturado mas sem substância nenhuma.
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Ab
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