segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Banca na corda da bamba

António de Sousa, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, afirmou em entrevista que a banca nunca viveu uma situação tão grave como a actual. São aparentemente estranhas estas declarações, sobretudo depois dos surpreendentes resultados recorde da banca nacional (com as taxas de IRC a caírem a pique devido às fantásticas provisões contabilísticas). Contudo, dada a sua especificidade na economia, não é difícil perceber como podem, simultaneamente, os bancos estar em apuros e conseguir lucros espantosos.

O sector financeiro é responsável por mais de metade (55%) do endividamento externo nacional (contra 29% do sector público). Dada a fragilidade da economia portuguesa e do sistema financeiro, em particular, a sua reputação anda pelas ruas da amargura, estando o tradicional mercado interbancário internacional fechado à banca portuguesa - a Euribor, taxa à qual a maioria dos nossos empréstimos está indexada, é a taxa a que os bancos emprestam uns aos outros na zona euro. Numa situação imaginária de mercado puro, os bancos já teriam declarado falência. No entanto, a banca beneficia do crédito extraordinário que o BCE, uma instituição pública, lhes disponibiliza, a uma taxa mais baixa do que a própria Euribor (1% contra 1,4%). Conclusão, as margens dos bancos têm aumentado, já que nós pagamos cada vez mais em relação ao seu custo de financiamento, permitindo-lhes uma rápida recapitalização (ajudada pela evasão fiscal).

Qual é, então, o problema? O problema coloca-se de três formas diferentes: 1- Quanto mais um banco está dependente do BCE, pior a sua reputação nos mercados financeiros e maior a dificuldade em voltar ao mercado interbancário; 2- As maturidades dos empréstimos do BCE são normalmente inferiores às do mercado interbancário, colocando os bancos portugueses sob pressão (os nossos empréstimos são de 20, 30 anos); 3– Agora que a banca dos grandes países europeus parece recuperar, o BCE prevê limitar o crédito à banca europeia nos próximos tempos. Isto não vai ser fácil…


P.S. Já reparam que, sem subestimar os problemas de financiamento público, o Estado se encontra numa situação mais confortável do que a da banca nos mercados financeiros? No entanto, desta última pouca gente fala.

2 comentários:

José M. Sousa disse...

Julgo que é António de Sousa

http://www.apb.pt/Apresentacao/MensagemPresidente/

Nuno Teles disse...

Tem toda a razão. Acto falhado.
Obrigado