Vítor Dias descasca muito bem o artigo de Vital Moreira no Público de ontem sobre a crise da social-democracia. Um processo de autodestruição, condicionado pela participação na viragem neoliberal da integração europeia, como já aqui ou aqui defendi. Acrescentaria um ponto ideológico: do que eu conheço, Vital Moreira é o melhor representante nacional do chamado ordoliberalismo de origem alemã, precisamente uma das mais destacadas correntes do colectivo intelectual neoliberal na economia política. Muito influente na construção europeia e na colonização ideológica da social-democracia. A expansão deliberada da concorrência de mercado como alfa e ómega do legislador e das politicas públicas: a mão invisível requer várias mãos visíveis. Uma defesa da pilotagem de um capitalismo em processo de purificação por mãos sem pressões da “turba” democrática. Um anti-keynesianismo feroz. Assim, ainda mais estranhas soam as diatribes tardias de Vital Moreira contra o neoliberalismo. Um pouco de transparência e de consistência, por favor.
Nota bibliográfica. Sobre o neoliberalismo, em geral, e o ordoliberalismo, em particular, leia-se o presciente “Nascimento da Biopolítica” de Michel Foucault, recentemente traduzido entre nós. E traduza-se, por favor, o livro acima indicado, que desenvolve as suas ideias.
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4 comentários:
Num post intitulado Ainda a crise da social-democracia, João Rodrigues, um leitor de vários livros franceses, censura o ordoliberalismo de Vital Moreira, um leitor de vários livros franceses, uma vez que o constitucionalista, e leitor de vários livros, às vezes franceses, se terá deixado contaminar - ou deixou contaminar a já tão fragilizada e esbelta adolescente sueca, também conhecida por social-democracia, deprimida pela «expansão deliberada da concorrência de mercado como alfa e ómega do legislador e das politicas públicas». Não vamos aqui expôr a relação, ou a contradição - para usar terminologia judaico-alemã -, entre as ideias das pessoas e aquilo que as pessoas fazem todos os dias com ou sem as suas ideias, sobretudo porque as ideias servem a sobrevivência do organismo, mesmo que por via indirecta (ler The Selfish Gene, DAWKINS, 1989, o que muito contribuiria para opiniões económicas mais avisadas), até parece, o sagrado coração de Maria seja louvado, que nunca ocorreu o ano de 1859, mas a verdade é que não podemos deixar de sorrir perante a ignorância dos economistas ou curiosos da economia, porque o riso é próprio dos homens, sempre enrolados nesta relação agri-doce perante o poder das ideias, mesmo quando a história mundial é um desfilar de sistemas e mecanismos mentais tão eficazmente determinados tanto pela expansão de conceitos abstractos como pelas necessidades fisiológicas de satisfação da vida - ah, o desejo -, e não consta que tenha sido encontrado o ponto médio onde se articulam os dois fenómenos da carne e do espírito (até custa a acreditar mas parece que é a mesma coisa). Quer isto dizer que o ordoliberalismo de Vital Moreira contribuiu provavelmente menos para a expansão da ideia de concorrência nas políticas públicas do que a aquisição do pc onde João Rodrigues digita os seus méritos bibliográficos, capazes de explicitar, não há almoços grátis, ainda que de forma deficiente, a crise da social-democracia, segundo os seus princícipios de sobrevivência, e se o João Rodrigues, leitor de livros franceses, tivesse lido Foucault com um pouco de atenção, saberia a parte que lhe cabe, a ele joão Rodrigues, na expansão da ideia de mercado, a menos que viva na caverna de Lascaux, e não seria necessário perder agora dez minutos de digitação, não há almoços grátis, a explicitar as estruturas sociais da economia, em deterimento do espectacular tema das relações de parentesco estabelecidas pelos escrivães do Público, Judicial e Notas na vila da Cachoeira no determinante ano de 1700.
Peço desculpa pela repetição, e juro, agora pelo sagrado coração de Jesus, que não foi uma estratégia de intensificação argumentativa pela cansaço visual, e ficarei eternamente grato se apagarem os dois comentários em excesso.
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