A notícia do Diário de Notícias de ontem sobre o veto do nome do Ricardo Araújo Pereira pelo PCP e o post do Daniel Oliveira no Arrastão geraram uma longa discussão nesse blog. Muitos dos comentários ao post do Daniel partem de pressupostos errados pelo que, e apesar de concordar com o Daniel quando diz que o assunto vale o que vale, senti necessidade de repor a verdade sobre alguns dos factos em causa e tecer alguns comentários.
Presumo que alguns dos pressupostos errados têm a sua origem na nota de imprensa do PCP, publicada pela Lúcia Gomes no Arrastão. Pelo que gostava de deixar algumas notas acerca dessa nota de imprensa.
1. Diz a nota de imprensa: «a JCP apresentou e defendeu, desde o primeiro momento, por razões de actualidade política, a proposta (que chegou a ser consensualizada embora com a ausência da JS) de um jovem dirigente sindical (Pedro Frias) para a referida representação. É na sequência do desacordo manifestado já em momento posterior pelo representante da Juventude Socialista a esta proposta que o nome de Ricardo Araújo Pereira é apresentado e defendido (três reuniões mais tarde) pela JS e o BE».
É falso que tanto o desacordo manifestado pela JS relativamente à proposta da JCP, como a sugestão do nome de Ricardo Araújo Pereira tenham ocorrido três reuniões mais tarde de uma suposta reunião em que teria havido um suposto consenso («embora com a ausência da JS», como refere a nota de imprensa do PCP).
Foi precisamente na primeira reunião entre organizações juvenis, em que estavam presentes apenas três organizações (JS, JCP e ECOLOjovem), que a JS demonstrou o seu desacordo face à proposta da JCP e defendeu o nome de Ricardo Araújo Pereira. O desacordo face ao nome para fazer a intervenção jovem existiu desde a primeira reunião. Portanto, se houve consenso posterior foi apenas entre a JCP, a ECOLOjovem e a Interjovem.
É verdade que a JS não esteve representada em duas reuniões posteriores, mas o desacordo face ao nome de Pedro Frias (jovem enfermeiro e sindicalista que merece todo o respeito por parte da JS) existe desde o primeiro momento em que se discutiram nomes.
Mesmo assim a JCP insistiu com o nome e levou-o a uma reunião da Comissão Promotora das comemorações apresentando-o como tendo sido alvo de consenso. Nessa reunião foi dito que não era verdade que havia consenso e a Comissão Promotora reafirmou a necessidade de as organizações juvenis chegarem a um consenso.
Houve mais duas reuniões de organizações juvenis e na primeira destas, os dois nomes voltam a discussão: o nome de Pedro Frias defendido pela JCP, ECOLOjovem e Interjovem e o nome do Ricardo Araújo Pereira defendido pela JS e Jovens do Bloco. Os jovens da UGT não estiveram presentes mas anunciaram o seu apoio ao nome do Ricardo Araújo Pereira. Mais uma vez a reunião termina sem consenso.
Na última reunião não voltou a haver acordo e assim terminaram as tentativas de consenso. Provavelmente por culpa de todas as partes, pela primeira vez, não vai haver intervenção jovem nas comemorações do 25 de Abril.
2. A nota de imprensa do PCP termina assim: «É assim absolutamente falso que o PCP tenha "vetado" o nome do Ricardo Araújo Pereira».
Esta conclusão é no mínimo espantosa.
Só deixo uma pergunta: Se não foi o PCP quem foi?
3. Foi a primeira vez que não se chegou a um consenso e é a primeira vez que não vai haver intervenção jovem nas comemorações.
Que fique claro que se houve sempre consenso no passado foi porque a JS aceitou sempre o nome proposto pela JCP. Desta vez achávamos razoável que fosse ao contrário.
As comemorações do 25 de Abril não são propriedade do PCP ou da JCP. O PS e a JS também fazem parte da Comissão Promotora desde sempre, entre muitas outras organizações.
Não propusemos ninguém da área política do PS ou da JS. Julgo estarmos todos de acordo se disser que o nome do Ricardo é insuspeito de ser socialista.
Defendemos o nome do Ricardo porque queríamos que a intervenção chegasse aos jovens portugueses. O Ricardo Araújo Pereira tem visibilidade, é politicamente inteligente e articulado, é de esquerda e constituía uma boa forma de levar o 25 de Abril aos jovens portugueses para quem o 25 de Abril ou o fascismo dizem cada vez menos.
Importa lembrar que a intervenção jovem foi sempre ignorada pela comunicação social. Esta não seria de certeza.
Parece que o único defeito do Ricardo Araújo Pereira foi ter cometido o pecado original: ter abandonado o PCP.
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14 comentários:
É triste. Mas de facto existem alguns que se acham mais detentores do 25 de Abril que outros. E isso, felizmente, não é verdade
Nada melhor que comemorar o dia da liberdade à moda do PCP: calando os outros =D
Abraços!
Pedro,
Em primeiro lugar parabéns pela tua adesão à blogosfera. É bom militar numa jota onde o líder tem opinião.
Relativamente a esta questão a análise é simples: a juventude comunista contínua a minar o CNJ como tudo onde está inserida e contínua a não respeitar os seu ex-militantes. Calou o Ricardo Araújo Pereira, como calaria o Daniel Oliveira ou o Miguel Portas.
A JCP vive fechada da sociedade e sem conhecimento das ambições dos jovens. É um dever que a verdadeira esquerda democrática denuncie estes atentados à liberdade de expressão e combata ferozmente aqueles que no dia da liberdade desejam calar as vozes incómodas.
Um grande abraço!
J. Gomes
http://aquelaopiniao.blogspot.com
Mas afinal, é na celebração do 25 de Abril que reside a menor relevância? No hipotético veto do Ricardo Araújo Pereira (RAP) pela Juventude Comunista Portuguesa (JCP) como representante da juventude nas comemorações? Ou, simplesmente, na razão do veto dever-se à desfiliação do RAP do Partido Comunista Português?
E, se o assunto é de somenos importância, não devíamos interessar-nos pelas questões que realmente são importantes?
O assunto é relevante, pertinente e oportuno. Não pela necessidade de alterar o panorama, da não atenção, da comunicação social à intervenção jovem nas celebrações do 22 de Abril. A visibilidade não é um fim em si mesmo. É um meio. Um meio para atingir um fim. Para passar a mensagem, informar e reavivar a memória. Foi uma óptima ideia (tenha partido da JS, dos Jovens do Bloco ou de qualquer outra organização!).
Tratar-se-ia de utilizar o RAP (que utilizaria a comunicação social e certamente não se importaria de ser “usado” por esta causa) e lembrar, ensinar e explicar, aos portugueses, especialmente aos mais jovens, o que foi e significa ainda hoje para a realidade democrática portuguesa o 25 de Abril de 1974. Aproveitar o mediatismo do RAP para lembrar a todos um feito que nos engrandece como povo. A revolução sem armas. A democracia livre, sem tiros! Que perdurou. Que perdura.
Foi pena. Pode ser que RAP mantenha o destaque mediático e se consiga o entendimento em 2008.
Ricardo Araújo Pereira merece todos os elogios como uma melhores satíricos da política portuguesa de sempre, sendo que a sua encenação de Prof. Marcelo foi um dos melhores momentos da campanha do SIM.
Numa altura em que o nacionalismo exacerbado demonstra toda a sua estupidez...a voz de Ricardo Araújo fará falta a uma comemoração pluralista do 25 de Abril, onde ninguém é dono do património ou dos valores de Abril.
A decisão da JCP/PCP é apenas compreensível do ponto de vista da estratégia política mais básica e que não aceita uma visão do que seria melhor para o evento...com todo o respeito que a figura defendida pela JCP merece ele não teria qualquer impacto e como diz o Pedro é altura da JCP deixar de ser dona do 25 de Abril da Juventude.
Ao Pedro..e aos outros 3 "filhos" do ISEG uma boa "postagem"
Abraço!
Hugo Costa
Nao conheco as razoes do PC mas nao me convence que o RAP fosse a pessoa indicada para a funcao. Deixem a gataria arranhar quem quer, quando quer e como quer. Arruma-los em festejos rituais em representacoes proto-partidarias retira-lhes o perigo. O gato e' subversivo enquanto nao for classificavel ou previsivel. Nao va a esquerda fazer aquilo que a direita nao consegue fazer e disciplina-los.
Exacto, por determinado grupo de pessoas se achar dono e, pior ainda, responsável pelo 25 de Abril e pela Liberdade é que cada vez menos este acontecimento é levado a sério e o seu legado se dissipa no quotidiano dos jovens que cada vez menos lhe entendem o significado e lhe dão valor.
O 25 de Abril está a ser a capa que esconde o podre de algumas organizações.
Esta atitude só ilustra o comportamento persecutório do PCP/JCP, pensam que o 25 de Abril foi feito só pelos comunistas e como tal só eles podem "comemorá-lo" pois os"outros" não fizeram a Revolução, eles é que são a Esquerda protectora dos Nobres valores da Nação! Uma atitude muito parecida com a de uns senhores mais chegados à direita. Quanto à escolha de Ricardo Araújo Pereira para fazer o discurso dos jovens acho que era certa!
A. Cabral, tenho todo o gosto em deixar-lhe aqui a noto do Gabinete de Imprensa do PCP:
PCP esclarece notícia do DN
Quinta-feira, 19 Abril 2007
A propósito da notícia do DN hoje publicada sob o título «PCP veta "Gato"» o PCP entende esclarecer que só por absoluta inexactidão, ou declarada má fé, se pode atribuir ao PCP, como é intenção da peça, a atitude de veto de Ricardo Araújo Pereira a propósito da intervenção de um jovem em representação de organizações juvenis na iniciativa de comemoração do 25 de Abril. A propósito da noticia do DN hoje publicada sob o título «PCP veta “Gato”» o PCP entende esclarecer o seguinte:
● Só por absoluta inexactidão, ou declarada má fé, se pode atribuir ao PCP, como é intenção da peça, a atitude de veto de Ricardo Araújo Pereira a propósito da intervenção de um jovem em representação de organizações juvenis na iniciativa de comemoração do 25 de Abril.
● Em rigor o que se pode afirmar é que esta questão, a exemplo do que sucedeu com a inviabilização do acordo sobre o “Apelo” dos promotores, é expressão da atitude dos que, no quadro da comissão promotora, agiram para impedir nas comemorações quaisquer referências ou juízos críticos à acção do governo do PS.
● Na actual situação – de agravamento dos problemas dos jovens e em particular dos jovens trabalhadores, que a recente lei sobre trabalho temporário veio acentuar, e de que a acção de luta de jovens trabalhadores de 28 de Março foi expressivo testemunho – a JCP apresentou e defendeu, desde o primeiro momento, por razões de actualidade política, a proposta (que chegou a ser consensualizada embora com a ausência da JS) de um jovem dirigente sindical (Pedro Frias) para a referida representação. É na sequência do desacordo manifestado já em momento posterior pelo representante da Juventude Socialista a esta proposta que o nome de Ricardo Araújo Pereira é apresentado e defendido (três reuniões mais tarde) pela JS e o BE. Perante o desacordo destas organizações àquela proposta foi ainda adiantado em alternativa, por iniciativa da Interjovem o nome de Joana Bastos para eventual consideração.
● Foi a falta de consenso entre as várias organizações juvenis – indispensável no processo de construção de decisões da comissão promotora das comemorações do 25 de Abril – que inviabilizou o acordo necessário para a referida escolha.
● O sentido que o título do DN e a peça que o acompanha pretende atingir é assim manifestamente tendencioso. Com igual «rigor» o DN poderia ter titulado “PS (ou BE) veta jovem sindicalista”.
● É assim absolutamente falso que o PCP tenha “vetado” o nome de Ricardo Araújo Pereira. Para o PCP, a presença de todos quantos, como Ricardo Araújo Pereira, e tantos outros designadamente dos meios artísticos e culturais, se queiram associar às comemorações de Abril é sinal de uma desejável manifestação de vontade democrática de participação e de afirmação dos valores de Abril.
http://www.pcp.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=28151&Itemid=245
Meus caros
A vigarice intelectual não é nem será sancionada pelo actual poder, nem pelos seus apoios à direita e à esquerda, por isso propõe-se que o Ricardo Araújo Pereira estivesse presente na tribuna do 25 de Abril. Julgo que o próprio por uma questão de inteligência não o aceitaria! Fá-lo-ia em nome de quê? Na mesma linha de ideias o RAP seria o representante da juventude e os outros oradores deveriam ser o Herman José para os de meia idade e Raul Solnado para os da 3º idade!!! Haja um minimo de seriedade!!!O argumentário dos defensores da presença do RAP é nauseante e a proposta para a sua participação só pode nascer de uma mente chico esperto a fazer curriculo para estar pronto para ocupar no futuro o lugar do putativo sócrates. Como diria o Eça isto é uma choldra!!!
Gente deste jaez não é travada por nenhum vício lógico. Camilo ( não é o que vocês estão a pensar, não é o Oliveira é o Castelo Branco!)olha para esta gente e vê a farta matéria prima que tinhas para as tuas sátira! depois de os ler é possível fazer algum comentário sério?
Caro,
ainda acreditas mesmo que alguns não se acham donos do 25 de Abril!!!
Por essas e por outras é que este ano não vou descer a Avenida...as suas bandeiras vermelhas e a ostensiva participação de alguns que têm a mania de quererem ser donos desse dia...como se tivessem sido os unicos a sofrer na pele a ditadura...leva-me a pensar que qualquer dia o irão fazer sozinhos...
Não se negoceia com quem defende a ditadura...seja de extrema-direita seja de esquerda!!!
Achas mesmo que cedendo nos outros anos cederiam nestes!!!
Quem é fascista será sempre defensor de uma ideia única...a sua...a opinião dos outros...em organizações que defendem a democracia interessam...em organizações que defendem a ditadura...não!!!
Por isso não se espantem...
Pôr um sindicalista deles...alguém que não passe a mensagem é melhor...alguém que só estes conheçam...e que seja etediante...como das outras vezes...é isso que estes chamam passar a mensagem aos jovens...
Mas uma vez fascista seja de esquerda ou de direita...sempre fascista!!!
Por isso viva o 25 de Abril...mas sem fascistas sejam de direita ou de esquerda...
É sempre bom ver alguem como o Pedro Nuno a vir a terreiro defender uma consciencia critica da nossa Sociedade, como o Ricardo A. Pereira, (aliás outra coisa nao seria de esperar de ti Pedro).
Agora o que eu lamento é que a ao fim de tantos anos alguns pensem que aindam estão na "clandestinidade" e andem sempre na caça às bruxas.... nem oito nem oitenta e oito.
Abraço
NC
Se fosse pelo PCP, o 25 de Abril tinha durado uns meses e estaríamos a comemorar o 25 de Novembro.
O 25 de Abril não foi uma conquista dos partidos, mas da população.
Já se lamenta que toda a interveção cívica passe obrigatóriamente pelos partidos, mas assim é demais!
PCP, esse flagelo da nossa nacionalidade.
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