quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Diario 3 de Fevereiro

3 de Fevereiro de 2012, 

a ex-ministra das Finanças de Durão Barroso - aquela que assinou com o Banco Citigroup um contrato de titularização das futuras receitas fiscais (tentanto ao máximo nunca divulgar o contrato), a ministra que homologou um polémico acordo com o SL Benfica por causa de dívidas fiscais do clube - essa mesma ex-ministra disse há nove anos que não havia alternativa à austeridade que o Governo PSD/CDS quis impor. 

No grande auditório do ISCTE, em Lisboa, num debate subordinado ao tema “É possível ser um país mais justo e alcançar a consolidação orçamental?”,  um estudante perguntou-lhe o que diria a Passos Coelho se ele lhe telefonasse a pedir conselhos. E ela respondeu: 

“Tenho muitas dificuldades em desenhar uma política melhor que esta com os actuais condicionamentos. Não existe dinheiro para financiar as despesas e temos o dinheiro que as entidades externas nos dão. Não podemos ir ao mercado buscar dinheiro”.

Ferreira Leite não fez qualquer interpretação da intenção essencial do resgate. Não falou da imposição pela Comissão Europeia de uma ajuda a Portugal para pagar aos bancos alemães e franceses - que tinham tentado ganhar com as altas taxas de juro de dívida pública nacional e que se arriscavam a ficar expostos face às dificuldades orçamentais de Portugal - obrigando o povo português a pagar esses desmandos oportunistas. Como iria pagar o povo português? Com mais impostos, menos gastos públicos na Saúde e Educação e funcionalismo em geral, e com a venda de activos públicos. 

Ferreira Leite disse apenas que a única coisa que faria diferente seria...  explicar melhor as medidas de austeridade aplicadas aos funcionários públicos.

“Os funcionários públicos são as pessoas com a pouca sorte de trabalhar numa empresa falida”

 No mesmo jornal, noticiava-se entretanto que 

Mais de 40 mil estudantes que se candidataram a bolsas de estudo no ensino superior viram o seu pedido recusado. A taxa de indeferimento dos processos aumentou para 45% devido às novas regras de atribuição dos apoios do Estado. No total, há menos 15 mil bolseiros neste ano lectivo, uma quebra que afecta so- bretudo os estudantes do primeiro ano. 

E Passos Coelho anunciou

numa entrevista publicada no semanário Sol, que António Borges, antigo director para a Europa do FMI, vai liderar uma equipa governamental que funcionará no âmbito da Parpública para acompanhar os processos de privatizações. 

Pela Europa, percorre uma onda neoliberal - ou devo dizer "liberal"? O primeiro-ministro italiano é fortemente criticado por ter gozado com quem quer segurança no emprego. 

Um emprego fixo para toda a vida? “Isso já não existe”, assegurou o primeiro-ministro italiano numa entrevista televisiva. E, além disso, assegurou, com um toque de humor britânico, também é “monótono”... Choveram críticas sobre Monti, num dia em que em que houve um debate aceso sobre a reforma do mercado de trabalho, com direito a um debate dos parceiros sociais sobre o tema transmitido em directo na televisão.

Pedro Passos Coelho não iria ficar atrás nessa moda "liberal".  

9 comentários:

Jose disse...

A Ferreira Leite arranjou à esquerdalhada mais uns impostos para derreter. Ingratos!

Jaime Santos disse...

Havia alternativa à Troika? Claro, mais do que uma, até.

A primeira chamava-se PEC IV e todos os Partidos da Oposição a rejeitaram, a começar pelo PSD e CDS e a acabar no BE e no PCP. Implicaria menos sacrifícios para os Portugueses do que aqueles infligidos pelo programa de austeridade. Era má, mas do mal o menos...

A segunda implicava uma saída desordenada do Euro, com reestruturação automática da dívida e perda de acesso aos mercados de dívida. Ninguém verdadeiramente a contemplou e às suas consequências (ausência de reservas de moeda forte para pagar bens importados essenciais, inflação, etc), bem como as políticas necessárias para mitigar esses efeitos e os muitos sacrifícios a pedir à população, coisa de que BE e PCP não querem nem ouvir falar, o que faz do seu discurso um discurso puramente demagógico.

Há alternativas? Claro, o que não há é almoços grátis...

Anónimo disse...

O PEC IV era uma programa troikista. Em que o PS ainda se colava mais ao PSD, mais do que manda os limites da moral
Altura para ainda um maior sufoco na legislação do trabalho.
Quanto aos almoços grátis, estas são afirmações do agrado daqueles neoliberais fundamentalistas. Ficam bem na boca de Jaime Santos

João Ramos de Almeida disse...

Claro, Jaime Santos.
Ninguém disse que a vida ia ser fácil.

Agora, a questão coloca-se sempre ao contrário: quais são os nossos objectivos? Qual o custo de os atingir? A pior das respostas é dizer: não há alternativa e come - perde o SNS, perde educação pública, perde apoios sociais, degrada a sociedade em geral, aumenta a desigualdade, promove interesses egoistas - e cala-te.

Por acaso, esta estratégia coincidia com os objectivos "liberais" de um PSD mais à direita, de uma direita do PS, para já não falar de um CDS e outros mais à direita e de um sector privado da Saúde, para não falar de outros interesses (verdadeiros interesses, já que não estou a falar de sindicatos ou grupos de trabalhadores estigmatizados como privilegiados...)

João Ramos de Almeida disse...

Caro José,
Manuela Ferreira Leite o que fez foi precisamente retirar receita fiscal ao consigná-la ao banco Citigroup durante anos, para que pudesse arranjar - de repente - quase 2 mil milhões de euros para cumprir as "estúpidas" metas orçamentais de 2003 e 2004. Recebeu 1,7 mil milhões por conta de ... 11,45 mil milhões de dívidas fiscais e à Segurança Social.

https://www.publico.pt/2003/12/19/jornal/governo-cede-ao-citigroup-dividas-fiscais-por-15-por-cento-do-seu-valor-209161

E o problema é que acabou mesmo por pagar mais receitas porque - tal Novo Banco - o Citigroup foi encontrando cada vez mais dívidas incobráveis e que exigiu que fossem sendo substituídas por "boas dívidas" cobráveis!


Anónimo disse...

Derreter impostos foi coisa do Núncio. Antes de eles serem taxados. E José andava bem contente com os trafulhas
Mas a memória do José anda pelas ruas da amargura. Ou são apenas entorses democráticos

Jose disse...

Caro João,
Falei de mais impostos não de cobrança dos até então existentes.

Anónimo disse...

Essas falcatruas dos impostos não servem. São de amigos, não contam, diz José apressado

Monteiro disse...

O PEC IV caiu sozinho por incapacidade política de Sócrates e foi tão grande a queda que ainda hoje ele não se ergueu.