terça-feira, 2 de julho de 2019

Misturando alhos com bugalhos


Acabo de ouvir a Presidente do IGCP (instituto que gere a dívida pública) declarar na AR que a dívida pública da Itália e do Japão não correm risco significativo nos mercados financeiros porque é sobretudo subscrita por entidades desses países. Asneira.

No caso do Japão o erro é evidente. Sendo um país com soberania monetária, é irrelevante quem compra a dívida porque, no momento do vencimento, o pagamento está garantido pelo Banco do Japão. É por isso que, com mais de 200% do PIB em dívida pública, não há especulação.

No caso da Itália, mesmo com uma parte importante da dívida pública subscrita por bancos italianos, tem havido especulação. Sempre que há agudização do conflito com a CE, os juros da dívida italiana sobem. Se o BCE não vier ao mercado comprar essa dívida, podem subir mesmo muito. Para além disso, no âmbito da União Bancária, está em discussão a ideia de proibir os bancos italianos de comprarem dívida do Estado. Trata-se de fragilizar ainda mais a posição do governo italiano a pretexto de proteger os bancos. Quando os títulos da dívida italiana afundarem nos mercados - se o BCE assim o decidir -, isso não afectará o balanço dos bancos italianos.

Fica assim bem claro que não se podem misturar duas situações institucionalmente distintas. Uma coisa é a dívida soberana; outra coisa é a dívida em moeda estrangeira (caso do euro), qualquer que seja o seu detentor. No segundo caso, onde Portugal se inclui, a dependência dos humores dos mercados financeiros e da estratégia política do BCE é total.

Nota: Também misturou dívida externa do País, essencialmente dívida privada dos bancos, com os comentários à dívida pública portuguesa. A julgar pelo que vi no telejornal, o depoimento foi tecnicamente lamentável.

3 comentários:

Anónimo disse...

Espantoso !.

Paulo Marques disse...

Falta dizer o mais importante, um superavit em qualquer destes países é muito dinheiro a sair de poupanças e investimento, como devia ser óbvio.

Paulo Guerra disse...

Lamentável é constatar muito pouco. Talvez valha mais a pena a pergunta, como é que é possível?