sábado, 27 de abril de 2019

Pobreza, repressão e impunidade

«A violência de agentes das forças de segurança do Estado nos primeiros 100 dias do ano, como a execução de 11 suspeitos em Guararema (SP), pela polícia militar, e os 80 tiros disparados contra o carro de uma família por militares no Rio de Janeiro, pode apontar a ampliação do que já era evidente no Brasil: a licença para matar. Mais frágeis entre os frágeis, os ataques a moradores de rua podem demonstrar uma sociedade adoecida pelo ódio: em apenas três meses e 10 dias, pelo menos oito mendigos foram queimados vivos no Brasil. Bolsonaro não puxou o gatilho nem ateou fogo, mas é legítimo afirmar que um Governo que estimula a guerra entre brasileiros, elogia policiais que matam suspeitos e promove o armamento da população tem responsabilidade sobre a violência.» (Eliane Brum, Cem dias sob o domínio dos perversos).

A três dias de ser empossado, Bolsonaro reafirmou o compromisso de alargar o direito de posse de arma no Brasil. Duas semanas depois de assumir o lugar, assinou o decreto e manteve a promessa de aligeirar os critérios de porte de arma. Alegando que o povo brasileiro decidira «comprar armas e munições» no referendo de 2005 (com 64% a votar contra a proibição da generalização do seu comércio), Bolsonaro optou por ignorar os resultados da sondagem da Datafolha de dezembro de 2018, na qual 68% dos brasileiros se opunham à ideia de facilitar o acesso a armamento e 61% consideraram que a posse de arma devia ser proibida, por constituir uma «ameaça à vida de outras pessoas» (valor superior aos 55% de outra sondagem, realizada dois meses antes). Resultados que não surpreendem, dado o aumento de homicídios nos últimos anos (mais de 60 mil em 2016, com cerca de 40 mil causados por arma de fogo).

Com uma das mais elevadas taxas a nível mundial, os homicídios no Brasil têm vindo a aumentar desde pelo menos meados da década de noventa. Depois de um acréscimo contínuo entre 1995 e 2003, com valores anuais a passar da ordem dos 40 para 50 mil, registou-se contudo um período de redução e de relativa estabilidade entre 2003 e 2012 (com o número de homicídios a oscilar em torno dos 50 mil por ano), voltando a aumentar a partir dessa data e a ultrapassar os 60 mil em 2014 e em 2016 (ver gráfico acima).

Dois fatores ajudam a compreender a redução e estabilização das taxas de homicídio nesse período. Por um lado, a aprovação pelo Congresso em 2003, já sob a presidência de Lula, do Estatuto do Armamento, que restringiu o acesso a armas de fogo (estimando-se que a lei possa ter poupado a vida a mais de 113 mil jovens). Por outro, a melhoria da situação económica e, sobretudo, ao nível da diminuição de pobreza, que cai a pique ao longo deste período (de 24 para 7% no caso da taxa de pobreza e de 7 para 3% no caso da pobreza extrema). Uma evolução a que não são obviamente alheias as medidas dos Governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff, que permitiram aumentar o rendimento médio mensal em cerca de 18% (entre 2003 e 2016), retirando da pobreza cerca de 28 milhões de brasileiros.

De notar que é nos jovens (15 a 29 anos) que se registam as mais elevadas taxas de homicídio, com valores acima de 50 em cada cem mil, tendo-se atingido os cerca de 66 por cem mil em 2016, depois de uma redução de 57 para 54 por cem mil, entre 2003 e 2011, e de um recrudescimento desde então. A seguir aos jovens, surgem os negros, com taxas de homicídio entre 30 e 40 por cem mil, que superam os registados entre os não negros, a oscilar entre 20 por cem mil (até 2003) e cerca de 15 por cem mil (desde essa data).

Estas diferenças, que denotam uma incidência socialmente seletiva em termos etários e raciais, têm aliás vindo a acentuar-se, sobretudo desde 2011, num contraste cada vez maior entre a estabilização da taxa de homicídios entre os não negros, desde 2003, e o aumento progressivo entre os negros e o acréscimo muito relevante entre os jovens, nos anos mais recentes.

Com a deterioração da situação económica e o agravamento do desemprego, é de esperar um aumento das situações de pobreza e exclusão, reforçado pela política de cortes sociais que o Governo de Bolsonaro se prepara para implementar. Junte-se a este contexto a instigação generalizada à violência, desde logo pela maior facilidade de acesso a armas de fogo, mas também reforço das garantias de impunidade, em particular das forças policiais, e percebe-se a situação de descontrole e retrocesso civilizacional em que o Brasil está a mergulhar.

22 comentários:

Anónimo disse...

Há criminosos que nunca serão punidos...

Jaime Santos disse...

Pode sempre contar-se com a classe média para, numa situação de incerteza e insegurança, se pôr ao lado das forças mais reaccionárias e é por isso que quem defende a política do medo e da ruptura deveria ter cuidado com o que diz, porque lhe pode cair um Bolsonaro em cima. Cuidado com o que se deseja...

Os subalternos muito raramente se recomendam, se se recomendassem, não eram subalternos... Bolsonaro, por exemplo, era um mero subalterno... Mas depois foi o que se viu...

Anónimo disse...

Um bolsonaro em cima?

Com a classe média assustada a colocar-se ao lado das forças mais reaccionárias?

Ainda por cima com a política do medo e da chantagem, como se tem visto continuamente com o caso do RU e do brexit? Algo que já é sobejamente conhecido, não é verdade Jaime Santos?

E o pior, o pior é esta complacência terrível e sinistra com as forças que bolsonaro representa.

Até é recebido aqui, com Augusto Santos Silva na cadeira ao lado

Os subalternos são assim. Querem que se continue toda a vida subalternos. E impingem subalternos como não o sendo, quando de facto continuam bem subalternos

Anónimo disse...

Para quem eventualmente não tenha percebido:

Ao lado de Augusto Santos Silva está Sérgio Moro, um bolsonaro de cepa

Calcula-se que esse não seja já tão subalterno


Entretanto este excelente comentário frontal e corajoso de JM Correia Pinto

"A Faculdade de Direito de Lisboa, o 25 de Abril e o governo português"

http://politeiablogspotcom.blogspot.com/2019/04/a-faculdade-de-direito-de-lisboa-o-25.html

Pedro disse...

Jaime Santos.

Estou sempre a ler bocas suas aos "subalternos".

Já vi que é um admirador fervoroso de quem está no topo, tipos que se recomendam, assim como o Ricardo Salgado...

Anónimo disse...

Pois é

O pedro está sempre a ler bocas dos subalternos. Não há direito. Quer também uma carta de alforria.

Um verdadeiro rebolucionário. A pedir emprestado até o Ricardo Salgado como testemunho da sua condição.

Lolol. Mas tão forçado o disparate, que só nos lembra o pimentel ferreira.

Anónimo disse...

A 27 de abril de 2019, pelas 15:34 , o "pedro" atira-se a Jaime Santos. Está sempre a ler bocas. Dele

A 22 de abril de 2019, pelas 15:22, o "pedro" declarava a sua estima e admiração pelo Jaime Santos

https://www.blogger.com/comment.g?blogID=4018985866499281301&postID=5111051065156579886


Bora lá dar conteúdo a esta coisa do "pedro"

Jose disse...

Só o título da Eliane já dá para perceber o grau de rigor da avaliação.
É só dramatização dos tadinhos e nada sobre territórios ocupados e dominados por bandidos.
É o 'normal' da morte de policiais e o anormal de que defendam as suas vidas.

Jose disse...

«... percebe-se a situação de descontrole e retrocesso civilizacional em que o Brasil está a mergulhar.»

O que se percebe é que a azia da vitória do Bolsonaro está para durar.

Pedro disse...

Caro troll estalinista.

Sim, em certas coisas concordo com o Jaime Santos.

Em outras não.

Veja lá que em muitas coisas até concordo com você.


É complicado de entender para clubista bronco como você, não é ?

Ah, já percebi. Você concorda com tudo, seja o que for, que alguém diga, ou absolutamente nada, consoante a cor da camisola.


Perfeito exemplo de fanático atrasado mental.

Anónimo disse...

Jose parece que está com azia.

Só o nome Eliane lhe dá azia. Ainda mais lhe dará o que esta denuncia


(Este jose tentou numa certa altura imitar Bolsonaro, Enamorou-se do termo "esquerdopatas" em uso pelo capanga e tentou ( em vão ) usá-lo em vez do seu termo predilecto até então:"esquerdistas".

A sua identificação com o seu aparente novo ídolo ainda na altura era demasiado incorrecta do ponto de vista politico. )


Agora aparece aqui a suspirar todo afobado pelo título que denuncia a crapulice da extrema-direita: "Cem dias sob o domínio dos perversos".

O que terá acontecido a jose para lhe darem agora estes achaques de prima-dona com estes pruridos ?

Anónimo disse...

Pedro pimentel ferreira está de volta.

Usemos a sua expressão "fanático atrasado mental", prova indesmentível do seu desnorte e irritação. E, com um pedido de desculpas à nossa estimada amiga Nadia, utilizemos tal frase como uma imagem em espelho do próprio pedro

Conjuguemos esta sua pequena auto-crítica com a sua prévia dissertação sobre o Ricardo Salgado. A propósito, imagine-se, de Jaime Santos. Quando se denuncia a violência institucional no Brasil.

Lolol.

Joga a bota com a perdigota?

O que faz um pobre tipo para usar tais chavões medíocres só para manter a carantonha de provocador em trânsito?

Anónimo disse...

Diz pedro joão pimentel ferreira:
"Sim, em certas coisas concordo com o Jaime Santos. Em outras não."

Pois, lolol.

Discorda assim deste modo e aqui:"Estou sempre a ler bocas suas aos "subalternos".Já vi que é um admirador fervoroso de quem está no topo, tipos que se recomendam, assim como o Ricardo Salgado..."
( bem a propósito do tema do post, auf auf)

E concorda assim uns dias antes:
"Caro Jaime Santos.Muito bem dito.Só que é deitar pérolas a porcos.Estes gajos..."


Não se sabe o que admirar mais. Se a ternura para com Jaime Santos, entretanto convertida num sermão à Ricardo Salgado, se o tom de caceteiro malcriado em uso pelo mesmo sujeito

Não há mesmo dúvidas. O estilo é uma assinatura. Isto é mesmo coisa do pimentel ferreira,lolol

Anónimo disse...

Diz jose:"É só dramatização dos tadinhos e nada sobre territórios ocupados e dominados por bandidos."

Não é um primor? Esta espécie de conivência com crimes cometidos sem julgamento por canalhas tipo ku klux klan?

O silêncio de cumplicidade com a execução de 11 suspeitos em Guararema (SP), pela polícia militar? e com os 80 tiros disparados contra o carro de uma família?


Também nada é comentado sobre os números reais: "Os homicídios no Brasil têm vindo a aumentar desde pelo menos meados da década de noventa. Depois de um acréscimo contínuo entre 1995 e 2003, com valores anuais a passar da ordem dos 40 para 50 mil, registou-se contudo um período de redução e de relativa estabilidade entre 2003 e 2012 (com o número de homicídios a oscilar em torno dos 50 mil por ano), voltando a aumentar a partir dessa data e a ultrapassar os 60 mil em 2014 e em 2016"

Anónimo disse...

Diz jose: "É o 'normal' da morte de policiais e o anormal de que defendam as suas vidas"

Está esquecido o jose.

As acusações que polícias fazem parte de gangues armados e de gangues ligados à droga são demasiado evidentes para estas justificações da treta (e da trampa) de execuções feitas por canalhas em serviço

Está ainda mais esquecido o jose

Parece que entre polícias há capangas que se apressam a cumprir ordens de assassinato selectivo de adversários políticos , como o caso de Marielle Franco. Com ligações directas imagine-se ao próprio covil de Bolsonaro

Ou os assassinatos dos indígenas brasileiros

Anónimo disse...

A expressão de jose:
"O que se percebe é que a azia da vitória do Bolsonaro está para durar"

é afinal o remate final duma admiração demasiado néscia (por demasiado evidente) para com Bolsonaro

Também por cá os viúvos de Salazar e comparsas se agitaram, sonhando com bolsonaros lusos

Por que jose não os devia imitar?


Quando se tem que invocar a azia para esconder, mostrando, a admiração por um fdp como bolsonaro, é porque as coisas vão mal

Pedro disse...

Sim, até um anormal como você ás vezes diz coisas acertadas.

Gosto é do choradinho do malcriado quando você não pára de espalhar mentiras a respeito de toda a gente.

Entretanto obrigado por ter publicado o link do tal Pimentel que você diz que sou eu. Não cheguei a ler ainda nada, mas como você gosta tanto dele ao ponto de já lhe ter referido o nome uns centos de vezes nos últimos dias, vou espalhar aquele link em sua honra.

Anónimo disse...

Ahahah
Pedro Pimentel Ferreira vai espalhar-se. Por ele próprio

O caceteiro malcriado já pediu desculpas? Também a Jaime Santos pelo noivado tão breve?

Anónimo disse...

Não é admirável como num post em que se fala no retrocesso civilizacional no Brasil e se foca Bolsonaro, não haja uma única palavra sobre o tema por parte do Pedro etc etc etc?

Logo ele, que passa aqui o tempo com o bolsonaro na boca, para justificar o seu fundamentalismo anti- democrático europeísta?

Estes silêncios tão comprometedores... com a pobreza, repressão e impunidade.

Estas simpatias ocultas pela extrema-direita, mascaradas pelos berros de euroinomano impenitente

Jacinta disse...

A culpa da violência do Brasil é do neoliberalismo, do Euro, e do eixo franco-alemão que impõe políticas austeritárias à população global! E claro, Passos e a sua tralha neoliberal também têm culpas pelo estado a que chegou a miséria no Brasil.

Anónimo disse...

A jacinta está apenas a tapar o cheiro fétido do bolsonaro com sandices. Daquelas que fazem lembrar o pedro qualquer coisa.
E enquanto faz estes exercícios de colaboracionista com a extrema-direita, acena com a bondade do euro, do neoliberalismo, das políticas austeritárias e, claro, do Passos Coelho?

Onde nós já lemos isto?

Anónimo disse...

Mais outra a fazer olhinhos ao Bolsas. Depois vem arrependida perguntar onde pode abortar