terça-feira, 8 de agosto de 2017

Toda uma história da economia política


Realmente, Gillian Tett do Financial Times tem razão: o gráfico acima, retirado de um estudo convencional, é um dos mais impressionantes, ajudando a compreender o contexto da última crise, cujo início faz agora dez anos. Nele podem ver como as fases de “desregulação financeira”, ou seja, de regulação conforme aos interesses da finança, foram acompanhadas, desde o início do século XX até à actualidade, de um aumento dos salários no sector financeiro em relação aos que são pagos no resto da economia dos EUA. Aposto que isto vale para a generalidade das economias financeirizadas, incluindo a nossa: lembrem-se das inacreditáveis justificações para os salários dos Paulos Macedos desta banca, com o sector público a ser contaminado pelas lógicas de um sector privado por reformar. Deve ser por causa da produtividade...

Enfim, o primado de uma regulação consciente dos desmandos da finança de mercado tem sido acompanhada de uma normalização, de uma maior moralização, digamos, dos rendimentos neste sector crucial. Este retrato é ainda mais impressionante quando o juntamos com outro gráfico histórico de alguma forma relacionado: a circulação irrestrita de capitais à escala internacional (a vermelho), a tal mobilidade de capitais indissociável dos períodos de liberalização financeira, é acompanhada por um aumento do número de crises bancárias (a azul); pelo contrário, e como o gráfico abaixo também ilustra, os períodos de menor mobilidade são muito mais tranquilos financeiramente. Reparem, por exemplo, nos chamados trinta gloriosos anos a seguir à Segunda Guerra Mundial. É toda uma história da economia política dos capitalismos realmente existentes.


7 comentários:

Anónimo disse...

Toda uma história da economia política de facto

Por cá ainda se incensa a alta finança considerando-a como a Igreja na Terra e deus no céu.
Entre os panegíricos de fino recorte há direito a odes e a missas cantadas.

À medida que as coisas se vão dando a conhecer a um maior número de pessoas os salmos vão diminuindo de volume. Mas o essencial mantém-se.

Só esperam de tempo e de condições favoráveis para se voltarem a manifestar em toda a sua sinistra extensão.

Geringonço disse...

A economia e a sociedade estão capturadas pela máfia CEO!

Mas os rendimentos absurdos dos CEOs e as transferências grotescas do futebol são o resultado de uma economia que existe para criar rendas para um pequeno grupo de indivíduos, não uma economia para providenciar uma vida boa à generalidade da população e garantir o progresso humano.

Jose disse...

O que nos vale é termos a Caixa Geral de Depósitos.

Anónimo disse...

Lá saberá o que vale o sujeito das 00.00

Mas que é um mimo este atirar para o lado a ver se...lá isso é.

Anónimo disse...

(Vale o que vale, de facto o esforço do Jose. Mas estamos um pouco desiludidos. Nós a pensarmos que teríamos direito a um poema heróico decassilábico com sílabas tónicas nas posições 6 e 10...em honra dos banqueiros terratenentes e outras idiotices do género )

Anónimo disse...

Um post oportuno e certeiro que tem esta qualidade surpreendente.
Responde antecipadamente aos disparates surgidos na caixa de comentários.

CGD?

"lembrem-se das inacreditáveis justificações para os salários dos Paulos Macedos desta banca, com o sector público a ser contaminado pelas lógicas de um sector privado por reformar. Deve ser por causa da produtividade..."

Parece que era (é?)um coio de muitos boys do bloco central de interesses. Com o PP à ilharga , pois então. E trampolim para a actividade banqueira privada, numa promiscuidade superior aos lupanares do Estado Novo

Anónimo disse...

«lembrem-se das inacreditáveis justificações para os salários dos Paulos Macedos desta banca, com o sector público a ser contaminado pelas lógicas de um sector privado por reformar. Deve ser por causa da produtividade...» Ora aí está.

Um post excelente.
É favor dar conhecimento em S. Bento, no Largo do Rato e ao Vital Moreira e, de caminho inscrever o troll das 00:00 no 1º Ciclo na E.B. mais próxima.