domingo, 5 de fevereiro de 2017

O passado é um país que fica lá em cima


Os anos vinte e trinta são usados e abusados pela sabedoria convencional. São anos sombrios, claro. No campo da social-democracia, os EUA de Roosevelt e sobretudo a Suécia são duas ilhas.

Como sublinha Sheri Berman, no seu The Primacy of Politics, a social-democracia sueca, sob a liderança de Per Albin Hansson desde 1928, adopta a fórmula “casa do povo” (Folkhemmet), oriunda da crítica anti-liberal da direita nacionalista, dando-lhe um cunho igualitário substantivo, associado a uma noção de comunidade política densa, subjacente à construção do Estado Providência e a um “keynesianismo antes de Keynes”, que muito deve a figuras como Gunnar Myrdal, o grande economista do desenvolvimento social-democrata sueco (em 1974, lá terá de partilhar o Prémio dito Nobel com Friedrich Hayek).

A partir dos anos trinta, inicia-se o longo período, de mais de quatro décadas, de hegemonia social-democrata, de longe a principal força nacional. Não por acaso, os social-democratas suecos foram predominantemente cépticos em relação à CEE até ao final dos anos oitenta, estando, ao mesmo tempo, a Suécia na vanguarda da cooperação internacional, incluindo no auxílio aos movimentos nacionalistas anti-coloniais. As sociedades mais igualitárias, seguras na sua identidade, são mais cooperativas, sabemo-lo há muito.

Se escrevo sobre isto, é só para dar um exemplo de um tempo em que a esquerda social-democrata sabia que nacionalismos há muitos e que hegemonia é a capacidade de protagonizar um projecto nacional e popular orientado para o desenvolvimento inclusivo. E sabia que as Nações Unidas fazem sentido porque podiam ser um veículo anti-colonial e anti-imperial para uma nova ordem política e económica internacional, que tenha Estados fortes, com capacidade de controlar soberanamente os seus recursos, no seu centro. Em 1974, foi aí aprovado um projecto de ordem económica, refletindo o auge do chamado nacionalismo internacionalista, logo enterrado pelo neoliberalismo emergente.

Por várias razões, nos terríveis anos oitenta e noventa, à sombra dos quais ainda vivemos, a social-democracia esqueceu tudo isto, perseguindo miragens puramente pós-nacionais. Entre as razões para a desgraçada tendência está, elemento a que não se presta suficiente atenção, a crise internacional da alternativa comunista, que tinha afinal de contas permitido a uma certa social-democracia ser a verdadeira via do meio ou terceira via lá em cima. Não é por acaso que nos anos noventa a ideia de terceira via passou a estar associada à diluição da social-democracia...

23 comentários:

Anónimo disse...

Excelente post e com memórias assertivas que importam.

Jaime Santos disse...

Desgraçadamente, isto é verdade para todas as correntes políticas. Os comunistas ainda hoje têm dificuldades em aceitar que o modelo marxista-leninista deu origem a repressão política em larga escala, destruição ambiental e penúria absoluta, isto para além do imperialismo soviético que começa em 1939 com a partilha da Polónia no infame pacto Ribbentrop-Molotov e só terminou com a dissolução da URSS (eu percebo, investiram muito sangue, suor e lágrimas num deus que falhou, e isso naturalmente custa a admitir). O que não terminou, claro, foi a repressão política em regimes como o Norte-Coreano e o Cubano, lembrando eu que aqui atrasado se teciam aqui loas a Fidel Castro (cujo legado histórico não é totalmente negativo, admito). E cabe ainda lembrar que os ditos modelos de nacionalismo progressista no terceiro-mundo que tanto elogia também falharam todos na vertente económica e ou se converteram ao capitalismo mais selvagem (por exemplo, na Índia ou na China, onde o regime é oficialmente 'comunista'), ou ao capitalismo corrupto de Estado (em lugares como Angola ou a própria Rússia), ou então agonizam de forma insana (os seus resultados seriam dignos de uma farsa, se não fossem trágicos) como o modelo do petro-populismo de Chavéz, onde hoje falta tudo e onde os habitantes provavelmente invejam a situação dos moscovitas na URSS dos anos 70 e 80. Ah, e depois convém lembrar a guerrilha ideológica feita pelos comunistas aos social-democratas durante o sec. XX, para além da repressão nos países do ex-Bloco de Leste (não preciso de lhe lembrar como nasceu o SED, ou que o 17 de Junho foi uma revolta operária contra o governo da RDA, pois não?). Quer ser uma alternativa? Arranje primeiro uma política consistente que parta do que exista e não comece por o querer destruir às três pancadas (como aconselha aquela citação de Keynes que aqui reproduz amiúde), mas não uma que nos leve para o Monopólio (a pior coisa que o Capitalismo tem) de Estado que se chamava Socialismo Real e cuide de reparar os telhados de vidro que tem, abraçando a História também naquilo que de profundamente negativo ela possui... Depois poderemos falar...

Jose disse...

Sempre suspeito das boas 'soluções' do passado.
Quando muito foram-no e seguramente não o serão.


Geringonço disse...

Os actuais "sociais democratas" defendem a finança parasitária, defendem as guerras humanitárias, são anti-trabalhador e anti-democráticos!

Algo aconteceu de muito significativo desde do Brexit, e especialmente desde que Trump foi eleito, o neoliberalismo que se fazia passar por social democracia foi desmascarado e agora uma considerável parte da população vê aquilo que verdadeiramente é o neoliberalismo, e o vê como o projecto totalitário global no qual os donos do Capital tudo podem!

Anónimo disse...

Depois poderemos falar?

Mas ó Jaime Santos. Você não fala. Você vomita ( perdoe-se a expressão) a sua vulgata e depois retira-se, mesmo após se ter demonstrado nalgumas ocasiões a sua falta de coerência e de rigor.Uma espécie de toca e foge. Com alguma cobardia pelo meio

A sua resenha de dados "pseudo-históricos",desde a URSS até ao suor e lágrimas mais o capitalismo corrupto é uma cassete. Já ouvou falar? A corrução é endémica neste tipo de sociedades e é por isso que há quem se bata pelo socialismo. Sem o trair.

Porque depois de despida a sua cassete, o que se revela é a nudez forte da verdade. Um zero à esquerda como alternativa ( a alternativa é mais do mesmo, com o tal manto diáfano de fantasia) e a traição aos ideais da propria social-democracia.

Lembra-se que mesmo após a colocação aqui de frases de Gunnar Myrdal o JS teve o despudor de investir contra este? De forma quase tão assanhada como a sua penosa prece em torno dos maus da fita?

E depois não tem vergonha de ocultar os pactos de Hitler com os ditos países "aliados"? Os crimes inenarráveis do Capitalismo? Os cirmes inenarráveis do colonialismo? os crimes inenarráveis de Churchill qie de vez em quanto gosta de citar?

E depois não se lembra de não ter dito nada sobre as loas a Fidel de Castro por personalidades socialistas, com uma outra dignidade e uma outra postura que não a dos vendilhões de princípios?

Anónimo disse...

Seguramente herr Jose.

Em frente marche. Seguramente herr joseph

Jose disse...

Ó das 13:28 não fiques por aí, ilumina o mundo com a tua clarividência.
Deixa-te de atacar os mensageiros, favorece-nos com as tuas ideias...
Avança na diferenciação entre os dos Sudetas e a Crimeia.
Fala-nos dos crimes do Churchil.
Não hesites e traz o Zeca Estaline para a ribalta das tuas luzes. Nao te esqueças daquelas cenas de Katyn, Holodomor, Gulag e outros feitos bolcheviques.
Não sejas má-língua, traça um quadro do futuro como o ambicionas ver formulado.
Não sejas Cuco.

Anónimo disse...


Levamos uma vida inteira a complicar o que e´ simples e de fácil solução. A ligeireza com que se fala por bem ou por mal da social-democracia, do comunismo, do socialismo ou do liberalismo faz-me lembrar que antes de ser de um partido politico ou de uma ideologia, sou um ser humano e, e´ como tal que devo ver e ser visto.
Muito embora ainda vivamos a era política de partidos políticos, me parece que outra era política, que temos dificuldade em definir, já conviva com essa última.
Estamos a passar por uma fase social em que o «velho» ainda vive e o «novo» ainda não assumiu o testemunho! E esta abstração/convivência não tem sido benéfica para a sociedade.
E´ o movimento actual das sociedades humanas que determina o seu futuro. Temos e´ de encarar a novidade como um balsamo natural.
Se quisermos progredir nesta vida não devemos ressuscitar os “acidentes” de percurso das sociedades humanas.
Vide´ hoje a deflorestação da Amazónia, ou a secagem do mar de Aral, entre outras certezas criminosas feitas pelas mãos do homem…de Adelino Silva

Jose disse...

Adelino, e o que se passa aí pelas tuas redondezas nessas reservas ecológicas?

Anónimo disse...

Ó das 13 e 28 por favor ilumina-nos com a tua clarividência.
Diz-nos por favor o motivo pelo qual esse tal jose está obcecado pelos cucos. Sabemos que os cantos destes entravam pela casa materna e deliciavam os sentidos lá da família. Felizmente que apreciadora das belas-artes e com uma abertura de espírito polivalente e digna de apreço.
Mas ainda à volta com os cucos?
Ó das 13 e 28 depois esclarece-nos por favor o motivo pelo qual o jose vem aqui a toda a pressa tentar pegar na mão de Jaime Santos.
Uma delícia, não achas mesmo?

Anónimo disse...

Não.

Infelizmente não se pode pactuar com quem assim afirma os seus preceitos educativos assim desta forma como o faz o sujeito das 16 e 22.

Compreende-se que esteja perturbado e que no meio da sua perturbação arraste a asa a cucos ( há gostos para tudo) e tente tratar os outros quiçá da forma como o trataram ou trataram a sua mamã ou papá.

Mas aqui estamos em casa de gente séria e há que se dar ao respeito.

Pelo que o pedido de favorecimento de ideias e da diferenciação solicitada tenha a resposta adequada a quem trata os outros como cretinos.


Anónimo disse...

Entretanto que saia da sua zona de conforto e que vá estudar as questões. Que já foram debatidas um sem numero de vezes ( e que voltarão a ser debatidas na altura certa) pelo que mais não resta que pesquisar o que se disse.
Tal como os crimes de Churchill. Ainda há cerca de um mês foram citados Que diabo o vende-pátrias do Passos não era o primeiro a invectivar quem assim procedia?

O quadro do futuro não ficará assim esclarecido. Como Gramsci disse ( e já aqui citado) o «velho» ainda vive e o «novo» ainda não assumiu o testemunho. É provável que na sua proverbial ignorância o sujeito das 16 e 22 não perceba o seu significado e peça esclarecimentos.

Uma ultima nota sobre um tal zeca estaline e sobre katyn e hodomor e outras coisas muito más.
O desespero já atingiu o vigário do Capital para não conseguir postar nada que desminta o tema do post e fuja ( infelizmente tal como JS ) assim desta forma, a trote para os bolcheviques e afins?

Infortunadamente não passa. Para o dito sujeito. A arte da fuga afinal não é uma arte, mas apenas se assemelha ao trote de um poltrão.

Anónimo disse...

Esperem.
Então o tipo que declina o verbo cretino agora vem choramingar sobre o ataque aos mensageiros?
Tch...tch...tch

Jose disse...

Embora julgue ser claro o conceito, não tenho inconveniente em, elaborar um tanto sobre o tema.
No geral, o Cuco depende do trabalho dos outros em tarefas definidoras da personalidade – desde logo no «eu penso». Ora aplaude acriticamente ora rejeita sem cuidar de saber porquê e a troco de quê. Guia-se por um formulário simplificado equiparável ao que na natureza define os ninhos capazes de acolher a espécie.
Sendo isso o essencial, é-lhe típico colecionar citações e adoptar uns dichotes-tipo que o mantenham ao abrigo do risco de formular um argumento.
Óbviamente que sempre há formas mais ou menos elegantes e imaginosas de ser Cuco. Mas raramente se encontra algo que ultrapasse a mediocridade.
Também os há mais ou menos sérios; estes últimos respeitam as citações que fazem e não adulteram/ apropriam o que é criação alheia.
E sempre subsiste a questão do bom-gosto, que se exprime em dichotes onde, como sempre acontece, se exprime o berço e a cultura do Cuco. É sobretudo por este aspecto que se individualiza o Cuco, pois raramente se desmente.
Isto dito, importa realçar que, embora sendo improvável, há pensamento que pode classificar-se como «à medida do Cuco». Quando se diz:
«o «velho» ainda vive e o «novo» ainda não assumiu o testemunho»
subjaz a dispensa de formular, de dar testemunho do futuro, mas certo é que se admite a condenação, sem mais, do presente.

Anónimo disse...

Por favor herr Jose.

O que isto? Um anedotário pessoal em forma de ataque ao mensageiro inda ha pouco condenado?

Quer um espelho? Não tem amigos que lhe façam ver a figura que faz?
Esses reflexos pavlovianos são por demais primários. Vá lá, faça um esforço e debata o que se discute. Não fuja

Deixe-de de missas cantadas em torno de cucos e doutras pieguices trôpegas. Seja um homenzinho. Veja lá se foi por culpa dos cucos que adornaram a sua infância que ficou assim tão primorosamente educado e se foi por imitação parental que adquiriu esses hábitos de familiaridade tão suspeitos como malcriados.

Agora repita comigo. Estamos a debater o que ficou da social-democracia do passado. Valeu?

Anónimo disse...

Confessemos que há pormenores deliciosos.

A choraminguice em torno de quem não se desmente, a tentar defender os aldrabões de feira, requentados políticos e serôdios comentadores que hoje dizem uma coisa e amanhã outra. Por exemplo, ontem andavam a gritar que Angola era nossa, hoje andam a dizer , quais vende-pátrias vulgares,que Portugal é da Alemanha.

Ou quando pieguicima mas sobretudo religiosamente se fala na condenação do presente , qual impotente aprendiz de inquisidor-mor.

Infelizmente estas pérolas não justificam as fugas em dó menor e queiume maior

Anónimo disse...


Há certas pessoas com subtileza tal que são capazes de tirar os ovos de baixo de uma Carriça… alguns se parecem com “Popas” que fazem seus ninhos de trampa…
Vem isto a propósito dos “Cucos” que como pássaros que são só fazem obra guiados pela sua natureza.
E´ verdade que leio livros escritos por outros, leio jornais e revistas também escritos por outros, ate´ venho aqui aos LdB ler o que outros escrevem, e´ verdade, e se possível memorizar alguns bocados de prosa fico melhor. As citações públicas de criadores literários…não as enjeito e ate´ servem para ajudar a compilar e a compreender outros textos. De Adelino Silva

Anónimo disse...

Infelizmente parece que a previsão da ignorância do sujeito que anda aos cucos se confirma.

Uma frase de Antonio Gramsci descreve de modo magnífico o longo período de transição perigosa que vivemos actualmente: “O velho mundo morre, o novo mundo tarda a aparecer e nesta clareza-obscuridade surgem os monstros”. Este período vai finalmente terminar mas os monstros ainda se agitam.

Custa ler que daqui se tire como conclusão a "dispensa de formular, de dar testemunho do futuro". E não se pode deixar de soltar uma gargalhada com o "testemunho do futuro". Quem quiser que classifique tal idiotice.


Jose disse...

Popas? Poupas Adelino, e na tua idade tens obrigação de saber que merda selou muita porta de forno de pão..
Onde há o dichote «Angola é nossa» há Cuco pela certa.

Quanto à social-democracia basta que se saiba que foi criada forçando a partilha mas sem ameaçar a propriedade, exigindo mais mas partilhando responsabilidades, requerendo e prestando rigor profissional.

Nada que diga respeito à comunada residente que, de revolucionários falhados, se transformaram em democratas forçados e, se as circunstâncias os forçam a darem-se ares de sociais-democratas, não se dispensam de expressar a sua contrariedade sendo grossos e mal-agradecidos.

Anónimo disse...

"dispensa de formular, de dar testemunho do futuro".
Ahahahaha

Anónimo disse...

Podemos concluir sem grande margem para dúvidas que o testemunho do futuro reivindicado por jose confirma uma coisa que já se suspeitava.
Aquilo que escreve é um monte de tretas.
E que provavelmente ele próprio é o próprio cuco.

Pelo que se pode também concluir que as tretas debitadas sobre os cucos familiares, não deixando de ser tretas, mais não são que o reflexo ao espelho duma sua auto-crítica patética. Pobre é certo, mas definitivamente patética.

Confirmado pelo Angola é Nossa que assumia sem rebuço antes de ser apanhado com as calças na mão a 25 de Abril

Anónimo disse...

Infelizmente há mais, havendo necessidade de corrigir mais disparates ditos como se de verdades fossem. Com a arrogância própria de ignorantes presumidos. A fazerem-se passar por peritos

A frase :
"Quanto à social-democracia basta que se saiba que foi criada forçando a partilha mas sem ameaçar a propriedade, exigindo mais mas partilhando responsabilidades, requerendo e prestando rigor profissional."

Não "basta" nada que se digam tais asnices.
"Historicamente, os partidos sociais-democratas advogaram o socialismo de maneira estrita, a ser atingido através da luta de classes".
"Na maioria dos casos, estes partidos eram declaradamente socialistas revolucionários, visando não só a introduzir o socialismo mas também a democracia em nações com poucas instituições democráticas. A maioria destes partidos era influenciada pelas obras de Karl Marx e Friedrich Engels, que, na época, estavam trabalhando para influenciar a política europeia continental em Londres".
"Os social-democratas, que fundaram as principais organizações socialistas da época, não rejeitavam o marxismo"

Isto não é de nenhum manula de "comunada residente " e outras coisas muito más.Isto vem na pobre Wikipedia.

Que o tal tipo jose vá estudar e vá aprender em vez de fazer estas figuras patetas

Anónimo disse...

Quanto às expressões " comunada residente"..." revolucionários falhados" ...mais a "merda que selou a porta do pão".

A confirmação (serena) do desbragamento do sujeito em causa.
Desbragado e irritado. Desbragado , irritado e um pouco vesgo. Do rancor.

Mais do que o plano educativo, mais do que o plano ideológico, a impotência (argumentativa) também passa por aqui.