segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Incentivar?

A ideia de promover a moralidade fiscal a golpes de sorteios de carros topo de gama, e a expressão moralidade fiscal talvez aponte já para uma visão céptica em relação a esta iniciativa, só pode ter surgido de uma cabeça económica muito confiante no poder dos chamados incentivos: sendo os indivíduos “idiotas racionais”, para usar a expressão irónica de Amartya Sen, vamos alterar marginalmente a sua estrutura de custos e benefícios para favorecer um certo e determinado comportamento, terão pensado: o que desejamos mais, quais fetichistas da mercadoria, do que carros topo de gama? O poder é muito transparente nos seus desejos.

Numa reportagem da televisão dois lojistas falavam de incentivos, de cálculo, dizendo uma que isto até poderá “incentivar” no curto prazo, mas que assim que as pessoas começarem a ver que não ganham nada, tudo volta à suposta estaca zero. Uma hipótese baseada no incentivo, no ganho, a linguagem da mentalidade de mercado a colonizar tudo. Esta gente não anda a brincar aos sorteios. José Vítor Malheiros é certeiro:

 “O bando que ocupa o Governo tem uma dificuldade de raiz ideológica em construir um discurso em torno de conceitos como comunidade, bem comum, serviços públicos ou património público e, por isso, prefere incentivar o pagamento dos impostos através da possibilidade de um benefício pessoal. Benefício pessoal é algo que eles percebem.”


A literatura sobre a “corrosão das motivações intrínsecas” no campo das ciências económicas comportamentais aponta para uma ideia que este livro apresenta com grande rigor analítico e histórico: a ética e os incentivos económicos não casam muitas vezes bem, podendo acontecer que um uso abusivo dos incentivos, sobretudo em esferas cidadãs, como forma disfarçada de poder, oposta à persuasão, gere efeitos perversos, levando a uma redução do comportamento desejável, podendo mesmo ter efeitos duradouros no carácter. Os mecanismos potenciais são mais do que muitos: da dimensão expressiva dos incentivos, através do qual o poder público sinaliza que os cidadãos só sabem pensar em termos de custos e benefícios pecuniários individuais, sendo surdos perante a persuasão, fazendo alastrar a desconfiança e a desmoralização, até à perda de oportunidade para exercitar os chamados “músculos éticos”, cumprindo o dever fiscal no quadro de uma intencionalidade colectiva: o tal eu faço algo como parte de algo que todos nós fazemos.

É claro que os sentimentos que fazem comunidade são mais fáceis de cultivar em sociedades menos desiguais, onde a ligação entre as primeiras pessoas do singular e do plural é mais fácil de efectuar. A economia política – quem se apropria do quê e porquê?  – e a economia moral – que traços de carácter são promovidos e atrofiados pelas regras económicas prevalecentes? – estão sempre imbricadas. Para o bem e, neste caso concreto, para o mal.

7 comentários:

Anónimo disse...

Esta gente ( o bando de gandulos mafiosos) que se aboletaram com o país, estão apostados a todo o custo em alterar por completo a sociedade portuguesa e (como é óbvio) para pior, para muito pior.
Com estes gandulos mafiosos, colaboracionistas e fascistoides este país está a tornar-se irrespirável e impróprio para ser habitado por pessoas sérias e honestas que pretendam viver do seu ordenado ou pensão.
Nunca na história da Portugal se viu um governo cuja única preocupação é seguir á risca as ordens dos nazis alemães( sendo por isso um governo de traidores) com a finalidade de promover a miséria.
Governo indigno como este devia acabar na prisão, tantas e tamanhas têm sido as suas malfeitorias.

rui monteiro disse...

Este Blog está engraçado.

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Anónimo disse...

Não tenho privilégio de ser um cientista da economia, nem um priviliegiado na vida, mas muito bem se sabe que um dos grandes males da economia portuguesa está na fuga aos impostos, 25% da economia é a paralela. Quanto representa em valor de impostos surripiados? Não daria para acabar com o défice anual da economia? Não ajudaria a baixar os impostos mais rapidamente? Qualquer ideia que surja é de imediato atacada e menorizada na tentativa de que tudo permaneça na mesma. Como baixou a mortalidade nas estradas, não foi com um conjunto de atitudes, como as campanhas de sensibilização mas, também, como as inspecções periódicas das viaturas, com o aumento das multas e com o incremento dos radares e operações stop? Vamos esperar que todos se portem bem e vão em carreirinha pagar impostos? Utopias há muitas.

antónio m p disse...


A iniciativa de sortear "topos de gama" faz todo o sentido: "não" aumenta a importação de carros de luxo, "não" consomem muita gasolina importada e, uma vez que o cidadão comum não pode suportar as respectivas despesas e o vai tentar vender, "não" terá dificuldade em encontrar ricaços interessados em comprar um carro... usado!

Anónimo disse...

Se neste momento, vivêssemos em 1640,o bando de criminosos e traidores que nos desgoverna , já teriam sido atirados das janelas abaixo do Terreiro do Paço...

Jose disse...

Esta gente - falo dos moralistas progressistas - sempre colocam a perfeição num futuro que saberão construir ignorando as imperfeições do presente, uma vez que incorporá-las em qualquer acção logo a tornaria abjecta.
É a estrutura mental típica dos treteiros para quem a realidade é algo de ofensivo.
Partilham com a religião um mundo do além, ainda que acreditando permanecer em terra firme!

Anónimo disse...

Anónimo das 22:12

Às tantas a via seria a da cidadania , mas ensiná-la é pouco prudente além de que quem nos governa desconhece o assunto .