domingo, 23 de junho de 2013

Tudo o que é sólido se dissolve no ar…sem passar pela fase líquida


Semana animada nos mercados financeiros, onde a dissincronia da actual crise em diferentes palcos geográficos se tornou mais saliente. Três diferentes países: EUA, China e Chipre. O mesmo problema: falta de liquidez. A turbulência que se faz sentir no centro da esfera financeira internacional pode ter efeitos exacerbados no resto mundo. Sobretudo na frágil zona Euro, onde Estados sem soberania monetária continuam à mercê dos mercados.

Tudo começou nos EUA, onde, com bons resultados económicos a aparecerem (crescimento, aumento do emprego, etc), o banco central norte-americano anunciou a diminuição do apoio extraordinário concedido ao sector financeiro, nomeadamente através dos seus programas de “quantitative easing”, onde o banco central compra um conjunto alargado de activos ao sistema financeiro, fornecendo-lhes liquidez abundante e quase ilimitada, provocando, por sua vez, uma descida histórica das taxas de juro. Com este anúncio, os mercados financeiros ficaram nervosos. Há boas razões para isso. O aumento esperado das taxas de juro pode trazer más noticias para (sobretudo pequenos) bancos que, entretanto, emprestaram a taxas de juro demasiado baixas e que verão agora os seus custos de refinanciamento aumentar. Não parece existir ainda confiança suficiente para o sector financeiro se suportar a si próprio. A seguir os próximos episódios.

Entretanto, na China, o problema também é falta de liquidez no sistema financeiro, sobretudo no mercado interbancário, onde as taxas de juro dispararam. Tal como nos EUA, a intervenção pública é a chave. No entanto, não necessariamente pelas mesmas razões. Aparentemente, o governo chinês quer constranger a actividade de fundos de investimento, muito dependentes do financiamento interbancário. Até aqui nada de grave, mas esta pode ser uma aposta arriscada do governo chinês face aos riscos sistémicos de potenciais falências que tal medida pode implicar. As enormes reservas detidas pela China e a capacidade de injectar a liquidez reduzem os riscos sobremaneira, mas tais medidas alimentam o nervosismo reinante nos mercados financeiros. Por outro lado, nos mercados financeiros não há coincidências e esta falta de liquidez na China pode bem ser a reversão de fluxos financeiros recentes vindos dos EUA em busca de taxas de juro mais elevadas. Como o diferencial agora se tornou mais pequeno, a capacidade de atracção de capitais por parte da China é menor.

Finalmente, o presidente cipriota veio pedir “humildemente” uma revisão dos termos do resgate financeiro a Chipre. Problema? Falta de liquidez. Segundo a carta enviada ao Conselho Europeu, aquando do resgate a Chipre, o banco Laiki foi forçado a vender as suas sucursais gregas, de forma a prevenir riscos de contágio à Grécia (o que não deixa de ser irónico já que os seus problemas tiveram como causa próxima a reestruturação da dívida grega e subsequentes perdas no sistema bancário cipriota). Ora, nesta transacção o banco que ficou com a “parte boa” do Laiki no seu processo de resolução, o Banco de Chipre, ficou com as dívidas incorridas junto do Eurosistema por parte do Laiki, mas ficou sem os activos que serviam de garantia, sendo forçado a colocar os seus próprios activos como garantia. Conclusão, o acesso ao financiamento de emergência do Eurosistema está agora altamente condicionado, já que este banco tem poucas garantias para fornecer. A sua actividade fica assim completamente paralizada e só não assistimos a um colapso financeiro graças aos controlos de capitais entretanto instituídos (uma mais que provável corrida aos depósitos fica diminuída graças a estes controlos). Assim, a economia cipriota, se já não lhe bastasse a austeridade e a dívida, vê o seu sistema financeiro completamente inoperante. Sem crédito, não há economia.

Agora, acrescentem os mais recentes problemas de liquidez, causados pelos dois primeiros países, e consequente desvalorização dos activos usados pelos bancos cipriotas como garantia dos seus empréstimos junto do Eurosistema. Chipre parece estar entre a espada e a parede. Ou a Europa cede, ou não resta a Chipre declarar incumprimento sobre a dívida e sair do Euro.

3 comentários:

luis disse...

entao e o japao? liquidez la nao falta e as coisas nao estao assim tao boas...

Luís Lavoura disse...

declarar incumprimento sobre a dívida e sair do Euro

Não vejo a razão para a constante associação entre as duas coisas.

Uma coisa é utilizar uma determinada moeda conjuntamente com outros países. Outra coisa, totalmente distinta, é cumprir com as dívidas que se tem.

Não vejo em que é que o incumprimento leve necessariamente à saída do euro.

Lowlander disse...

1 - Crescimento anualisado de 4.1% e de facto pessimo... coitados dos Japoes!

2 - Nao "ve" porque:

2.1 - Nao sabe ler. O post diz claramente que "Ou a Europa cede (i.e. permite um incumprimento controlado da divida ou permite a injeccao de mais capital por exemplo), ou etc etc etc"

2.2 - E mentiroso. E perfeitamente claro que a UE com a sua actual arquitectura institucional, nao tem previsto nos seus estatutos incumprimentos de dividas Estatais, por isso e que se tem arranjado estes esquemas todos a margem dos tratados Europeus. Para alem disso, se um pais nao cumprir a sua divida e se mantiver no Euro, perde inteiramente a capacidade de financiamento a sua economia, porque os bancos deixam de emprestar e dentro do Euro essa e a unica forma de um pais se financiar porque nao pode desvalorizar nem imprimir moeda.
O Lulu sabe perfeitamente isto porque o Lulu ha anos que le este e outros blogues de economia. Mas como e um sonso troll, mente descaradamente.
Enfim, tipica direita realmente existente.
Volte sempre :)