quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A alternativa é o Banco de Portugal



Com a economia em recessão grave, causada pela contracção da procura interna decorrente da austeridade, o governo “bom aluno” afinal não cumpriu o objectivo do défice para 2011, está a preparar austeridade adicional para tentar cumprir o de 2012 (aliviado pela troika para 5%) e não sabe o que fazer com o Orçamento de 2013, agora encurralado pelo repúdio nacional e por uma sentença do Tribunal Constitucional (não é só na Alemanha!).

Os portugueses já perceberam que este caminho não tem saída e levará ao desastre. Fartos do teatro na política, desiludidos com os partidos bem vistos em Bruxelas, talvez possam começar a fazer o luto do euro e abrir-se à ideia de recuperar a soberania monetária e, com ela, o crescimento e o emprego. Perguntará o leitor, saindo do euro, como poderia o Estado pagar no imediato salários e pensões? A resposta é simples, conhecida há muito tempo e funciona em todo o mundo desenvolvido, excepto na zona euro. A alternativa à troika e aos mercados financeiros é o Banco de Portugal.

(Excerto do meu artigo no jornal i)

14 comentários:

JP disse...

OK, é verdade que o BdP poderia imprimir dinheiro... mas os bancos seriam nacionalizados??? O que aconteceria aos depósitos e, sobretudo, aos empréstimos, nomeadamente os para habitação?

Maria J. Velho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bufarinheiro disse...

"A alternativa à troika e aos mercados financeiros é o Banco de Portugal"
Só se limpassem muito bem o lixo que por lá impera.
Não se esqueçam de que aquilo ainda está cheio de sacanas que sublimam Constâncios e Ferreiras Leite (bem como a intocabilidade dos seus proventos mesmo que o dos outros se afunde, claro)

Anónimo disse...

Boa noite,

Gostava que me respondessem a uma questão se fosse possível.
Acredito que a maioria dos países industrializados estejam em recessão, mas no caso de Portugal, Espanha, Grécia com os níveis de desemprego (mesmo os oficiais, para não falar dos não oficiais), e tendo em conta outros indicadores o termo mais indicando não será "depressão" em vez de "recessão"?
É que o nível de desemprego nos EUA durante a grande depressão não ultrapassaram os 20%, em quanto já vai a Espanha, a Grécia, e não tardando muito Portugal? ...

Anónimo disse...

Tanta pergunta para quê?É muito fácil, o Banco de Portugal fazia dinheiro (o preço do papel até tem vindo a cair!), logo, qual era o problema de pagar salários e pensões? Dívida externa? Não se pagava se não quisessem receber em escudos! Além disso, Portugal com a readquirida SOBERANIA brandia o seu poder face aos credores e que nem se atrevessem a faltar com as divisas para comprar o petróleo, os cereais e as mais bagatelas em que Portugal é deficitário! (apesar de tudo sempre produzimos 5% do trigo com que fazemos as carcaças e os bijous). Se começassem com arrecuas sempre poderíamos ameaçar com a nossa ZEE ou mesmo mudar de campo estratégico cedendo bases aos soviéticos... Era vê-los tremer...

Anónimo disse...

Falta saber qual o nível de empobrecimento imediato que causaria a saída do euro.....

Jorge Bateira disse...

Caros leitores

Os detalhes que o artigo não podia tratar (há um limite de caracteres) e as dúvidas que naturalmente suscita são abordados num longo texto que escrevi para o Congresso Democrático das Alternativas a realizar no dia 5 de Outubro em Lisboa.

Ainda assim, deixo aqui as seguintes notas:

- Sim, isto está a passar de recessão grave a depressão.

- Uma proposta política de ruptura com o Memorando implica admitir, e estar preparado para, a saída do euro. Romper com a austeridade e decretar uma moratória à dívida pública terá como mais que provável reacção o corte da liquidez que o BCE fornece e de que hoje dependemos para que os bancos funcionem. Portanto, significa a imperiosa necessidade de introduzir a nova moeda ... ou capitular!

- Os bancos e seguradoras seriam nacionalizados pelo menos temporariamente, até porque se assim não fosse ficariam falidos; o Banco de Portugal teria nova administração e seria retirado do Eurosistema.

- Eu defendo (mas há outras opções) a manutenção dos depósitos em euros para evitar a corrida aos bancos. Haveria limitações aos levantamentos em cash para evitar saídas de capitais. As máquinas ATM seriam carregadas com notas carimbadas com o novo escudo. As dívidas, e todos os contratos sob lei nacional, seriam convertidos na nova moeda ao mesmo valor nominal.

- O défice externo a financiar já é pequeno e não seria difícil obter créditos bilaterais de natureza comercial. Recordo que a Argentina não pagou a dívida ao FMI e, mesmo assim, obteve garantias deste organismo para créditos comerciais.

- O empobrecimento: esse é um argumento-espantalho, muito usado para assustar as pessoas e fazê-las aceitar o empobrecimento real e definitivo para que nos encaminhamos agora. Uma província pobre de uma Europa germanizada.

- No imediato, o país perde poder de compra face ao exterior, mas é importante lembrar que haverá uma reestruturação da dívida enorme (mesmo dentro do euro teria de haver), as exportações tornam-se mais lucrativas e atraem novos empresários, enquanto as importações vão sendo substituídas por produção nacional. O país entra numa rota de crescimento com emprego, o que é bem diferente de empobrecimento.

- Uma desvalorização da nova moeda em 40% apenas encarece na mesma medida os bens importados (isto não é inflação!). A inflação seria muito menor (estimativa para a Grécia: 5-9%) e seria acompanhada em boa medida pelos salários, embora com uma negociação destinada a evitar um processo inflacionista. O poder de compra do capital reduzir-se-á na medida da inflação. Sim, há custos, mas nada que se compare ao que vamos ainda viver enquanto permanecermos no euro.

- Com a suspensão da austeridade, um programa de criação directa de empregos pelo Estado, uma reforma progressiva da tributação, um programa de investimentos de grande escala na recuperação urbana (agilizada legalmente), incentivo ao investimento privado em eficiência energética, algum proteccionismo inteligente, etc. a economia retoma o crescimento dentro de um ano. Na Argentina, o crescimento recomeçou no segundo trimestre após a bancarrota.

- A saída do euro é apenas uma condição necessária para que o país se desenvolva mobilizando um leque de políticas económicas que estão proibidas no actual quadro institucional. Mas não é condição suficiente. A regeneração da vida política partidária e da nossa democracia, com introdução de mais democracia participativa, são também necessárias.

E por hoje é tudo.
Obrigado pelos comentários.

Maria João Brito de Sousa disse...

Lido! Em processo de assimilação...

henriquedoria disse...

Penso que seria melhor a saída da Alemanha do euro.Voltar ao escudo seria correr graves riscos de ataques especulativos

Anónimo disse...

convém explicar ás pessoas que o empobrecimento e miséria não são espantalhos e muito menos fantasias. Fantasia é o populismo e foi esse um dos grandes causadores deste caus.

Eu sou mais ou menos a favor da saída do euro, mas não da maneira intempestiva que para aí se promove, é preciso renegociar pagamentos e continuar com a confiança exterior, porque se fecharmos portas não temos possibilidade de produzir a nossa própria subsistencia. Logo continuamos pelo menos por enquanto a precisar muito das importações


inflação de 6 a 9% é claramente uma dessas fantasias e um continuação da demagogia que nos tem consumido

um bem haja Pedro

de loura disse...

a saida de portugal do euro,e uma asneira tao grossa como foi a da uniao europeana.portugal nao tem a industria nem a agricultura suficientemente solidas para fazer fase a sua saida do euro.portugal nao possede uma produccao pesada ou industrial para fazer banda a parte.em vez de sonharem com o que vinharia a vossa desgraca,lutem pela igualdade de vida em todos os paises da uniao europeana,e so dessa maneira se podera partir o regime capitalista.

Pedro Pinheiro disse...

Penso que percebi no fundamental o seu comentário, faço-lhe uma pergunta,- Quem nos venderá o que nós necessitamos? Não me parece que sejamos neste momento auto-suficientes, mas concordo que obrigaria o país a produzir.
Porque não pensar numa situação em que fosse possível dentro do euro, taxar as importações e incentivar o setor exportador? Por exemplo, reduzir o IRC, suficientemente para atrair investimento, diminuir a TSU apenas para o setor transacionado, taxar com iva alguns produtos importados; etcetc
Reconheço que era contra o mercado comum, mas a situação devia permitir aos estados membros essa possibilidade perante os desiquilibrios. Parece que essa hipotese, se fosse negociada temporariamente, talvez evitasse o possível isolamento que o voltar ao escudo provocaria. o que pensa sobre isto??
Cumprimentos

Jorge Bateira disse...

Caros amigos,

Compreendo os receios da saída do euro mas não vejo qualquer hipótese de o país lançar uma estratégia de desenvolvimento dentro do euro. O Tratado do equilíbrio orçamental, associado ao controlo centralizado em Bruxelas/Berlim de toda a política económica, são a negação da autonomia que precisamos.

Acreditar que uma negociação com a Alemanha para ficar de fora desse controlo teria bons resultados ... é o mesmo que acreditar no Pai Natal.
Sugiro a todos a leitura do meu texto enviado ao Congresso Democrático das Alternativas e que já está disponível na página.

5Silva disse...

A hipotese de proteccionismo dentro da zona euro para reequilibrar a balanca comercial pode bem suceder sem haver alteracao a lei. Precisa e de acordo generalizado dos consumidores em Portugal. Possivel? nao sei.

Vi recentemente na Eslovaquia que nos supermercados havia um selo "Qualidade Eslovaca" bem grande na etiqueta que mostrava o preco de cada produto nacional.

Se o consumidor votar com a carteira, talvez seja possivel sustentar os produtores portugueses, tem e que se aceitar que isso sera mais caro do que o estado actual, e tem que reunir o consenso de milhoes de pessoas para ter o efeito desejado na grande distribuicao.