segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O destino do euro em duas palavras

É muito interessante o artigo de Wolfgang Münchau no Financial Times de hoje - "Greece must default if it wants democracy".

Aqui fica a minha tradução de um parágrafo central:

A presente situação põe em evidência a vulnerabilidade política da actual estratégia de resgate da zona euro. Por um instante ponhamos de lado os argumentos económicos e tomemos em consideração a política. Quem defende um aumento do pacote financeiro devia lembrar-se de que a solidariedade entre governos está à beira da exaustão. Isto já era assim ainda antes de um só cêntimo ter atravessado a fronteira. É também o mais forte argumento para justificar uma união orçamental. Se pretendermos fazer circular centenas de milhares de milhões de euros [na zona euro], isso é simplesmente impossível numa base inter-governamental com a Alemanha, a Holanda e a Finlândia a financiarem a Grécia, Portugal e a Irlanda. Para isso precisávamos de um sistema federal. Este seria necessário não por razões de eficiência económica mas para impedir um conflito do tipo Alemanha contra Grécia. Se uma união orçamental se revelar politicamente inaceitável, então teremos simplesmente de admitir que um sistema de transferências entre países não pode, e não vai, acontecer.

3 comentários:

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

O trilema de Rodrik cada vez mais nítido.

António Carlos disse...

É necessário, de uma vez por todas, afastar a ilusão da união orçamental que nunca vai acontecer. Só assim poderão ser desenhadas acções realistas de solidariedade e cada país tem de perceber (sem dramatismos) que não pode contar com a solidariedade ilimitada dos outros. Os mecanismos de previstos (institucionais) de solidariedade (emergência, fundos estruturais, programas europeus, ...) estabelecem esse limite, que tem de ser estabelecido de forma voluntária e negociada entre "dadores" e "receptores". Os "receptores", por seu lado, não podem pura e simplesmente "abusar" da solidariedade dos outros (quase chantageando-os) contraindo dívidas sem limite que esperam sejam os outros a pagar (em nome da tal solidariedade), ou esperar que a solidariedade não tenha como contrapartida exigências de transparência e responsabilização (em certa medida correspondendo a perdas de soberania) na aplicação das verbas recebidas.
Chegou a altura de perceber com realismo e sem demagogia ou julgamentos morais os limites da solidariedade europeia. Ainda assim, e consciente dessas limitações, acho que vale a pena Portugal fazer parte da Europa.

João Carlos Graça disse...

...ora, não havendo transferências através de um orçamento "federal", vai ser no fundamental mais do mesmo.
Quero eu na minha dizer: default? Claro. Mas default com permanência, como agora defende por exemplo o Varoufakis? É completo irrealismo, claro, e é não querer ver os problemas mais fundos, de falta de competitividade externa por sobrevalorização cambial, que são anteriores à crise da dívida propriamente dita.
Quanto à "UE", bom, vai evidentemente continuar a ser aquilo que sempre foi: ausência de qualquer democracia, governo central "livre-de-eleições", monitorização apertada dos renitentes, imposição do poder factual da diplomacia (com as ameaças veladas que sempre acompanharam esta: cenouras e cacetes...).
Ah, sim... e os "suckers de esquerda" podem continuar com as estórias habituais: eurobonds, reforço do orçamento federal, default sem saída, and do on, and so on (como diria o Lauro Dérmio...)
É tão bom ter uma esquerda com uma "bela alma", não é? E além do mais, até sai barato...