segunda-feira, 13 de março de 2023

Quem garante o mercado, quem é?

Sabem o que é uma “excepção sistemicamente relevante”? É a justificação das autoridades dos EUA para garantirem todos os depósitos, para lá do montante legal coberto pela garantia pública, dos dois bancos que foram alvo de uma clássica corrida aos depósitos, dada a desconfiança instalada, e que faliram. Mais de 90% dos depósitos tinha valor superior à garantia estatal em vigor até anteontem.

O banco mais relevante, o Banco de Silicon Valley, o 16º maior dos EUA, tinha demasiado dinheiro empatado em obrigações com maturidades longas e que se desvalorizaram num contexto de subida dos juros. E tinha investido capital para diluir a regulação adoptada no seguimento da crise de 2007-2008 e que tinha ficado longe da ambição regulatória da década de 1930.

Pela enésima vez: quando a incerteza aumenta, só o soberano monetário tem o poder de travar o contágio, incluindo através da garantia do preço das obrigações para efeitos de cedência da liquidez, por parte da Reserva Federal, aos bancos. Sim, os controlos de preços só são bons quando servem para ajudar bancos nesta forma de capitalismo financeirizado e largamente por controlar.

Pelo menos, talvez agora os bancos centrais parem com as subidas das taxas de juro. A Goldman Sachs já veio dizer que talvez fosse bom parar e este banco tem uma capacidade de persuasão superior à das classes trabalhadoras. Os bancos chegam, se calhar tardiamente, à conclusão de que têm de ter cuidado com aquilo que já desejaram.


2 comentários:

Anónimo disse...

E uma nota muito breve
A culpa é das criptomoedas.
Eu explico: a Falência da FTX fez falir o silvergatebank que emprestava a quem queria investir em criptomoedas.

Sem o dinheiro das criptomoedas perdido no FTX e nos depósitos do silvergatebank os empreendimentos de silicon valey foram a correr levantar o que tinham no SVB!

Só que o SVB não tinha dinheiro para lhes entregar porque estava investido em títulos de dívida pública ( aqui podem procurar neste blog os bons artigos sobre a quase falência do fundo de pensões inglês, o problema foi o mesmo, isto é , ter contratos de muito longo prazo a receber taxas de juro inferiores às que o mercado prática agora , tentaram se ver livres deles, só que ninguém os quer, valem pouco) .
Colorado, sem dinheiro para dar a depositantes decreta se falência.

De seguida o signature bank , que também adorava financiar criptomoedas, foi para onde toda a gente foi a correr.
Ora estes já estavam moribundos com o que perderam na FTX ...
Aplica se a lógica do silverbank...

Portanto, a criptomoedas nem se segura a si própria e depois afunda a economia tradicional.

Meia dúzia de otarios na Blomberg TV ou as agências de rating que davam AAA ao SVB ( ah pois é meus meninos, ninguém aprendeu com a crise de 2008 , estes tipos deviam ter desaparecido do mapa, mas continuam a dar lhes credibilidade) e fica a bolsa de valores a cair trinta por cento!

Caríssimos, a taxa de juro é um instrumento político.
A taxa de juro tem tanto de formação económica como o cozido à portuguesa tem de peixe!
Mas a questão aqui foram criptomoedas.
Eu não sei como o chstgpt dos toninhos de silicon valey não previu isto.

Anónimo disse...

Se me fosse permitido gostava de adicionar os meus “2 cêntimos “ a discussão do assunto.
Em 1999 Bill Clinton assinou a lei que cancelava o chamado Glass-Steagall Act de 1933, que basicamente separava bancos de investimento de bancos comerciais. Esta medida de desregulamentacao escancarou as portas aos primeiros ,permitindo lhes entrar em áreas de negócio que lhes estavam anteriormente vedadas, como por exemplo no mercado imobiliário. Já todos sabemos o que aconteceu em 2008. Convém todavia notar que alguns dos grandes lobbyists da reversão da lei foram Robert Rubin , ex secretário do Tesouro e na altura membro da administração do Citibank e Larry Summers também ele na altura secretário do Tesouro.
No seguimento da crise de 2008, achou se necessário reactivar Glass-Steagall Act. O resultado foi uma versão mais “moderada “ conhecida pela lei Dodd-Frank, da autoria do Senador Republicano Chris Dodd e do congressista democrata Barney Frank. A Lei além de outras provisões ,forçava todos os bancos a rigorosos testes de stress desde que capital fosse superior a $50 biliões. Lei foi assinada por Obama em 2010.
Em 2013 Barney Frank aposentou se da vida política , mas “arranjou emprego “ no Signature Bank , onde tem sido membro do conselho administrativo nos últimos 7 anos , durante os quais “trabalhou imenso” para a revisão da própria lei que ele havia ajudado a criar! A mesma foi assinada por Trump em 2018 e subindo a obrigatoriedade dos testes de stress de 50 para 250 biliões de dollars, isentando assim grande número de bancos regionais e afins. Entre os “contemplados” com a isenção, SVB, Silvergate Bank e Signature Bank !
No passado domingo , 12 de Março, $2,5 milhões mais tarde, Barney Frank foi demitido , bem como o resto do Conselho de Administração!

Peço desculpa pela longa narrativa e obrigado pela oportunidade.
A.Pais