Poucos dias antes do 41º aniversário do SNS, comemorado a 15 de setembro, soube-se da recusa de realização de partos por parte de alguns hospitais privados, no caso de grávidas com teste positivo à Covid-19 (com as unidades em causa a alegar «motivos de segurança e capacidade instalada»). Mesmo não sendo o melhor exemplo das usuais práticas de «seleção de utentes», estas situações não deixam de questionar a efetiva capacidade de resposta do setor privado, nem de trazer à memória a fase inicial da pandemia, em que apenas o SNS não fechou portas, ao contrário do que sucedeu com diversos hospitais privados.
Por isso, quando ouvirem defender a «liberdade de escolha» no acesso aos serviços de saúde, lembrem-se que essa ideia interessa, antes de mais, aos próprios prestadores privados. E que, quando a direita defende a existência de «sistemas únicos» de resposta (que não diferenciem prestadores públicos de privados, cabendo ao Estado financiar estes últimos), estão em causa universos que priorizam objetivos distintos, numa tensão entre salvar vidas e garantir lucros (como lembrava, em devido tempo, o Ricardo Paes Mamede).
Por isso, quando ouvirem defender a «liberdade de escolha» no acesso aos serviços de saúde, lembrem-se que essa ideia interessa, antes de mais, aos próprios prestadores privados. E que, quando a direita defende a existência de «sistemas únicos» de resposta (que não diferenciem prestadores públicos de privados, cabendo ao Estado financiar estes últimos), estão em causa universos que priorizam objetivos distintos, numa tensão entre salvar vidas e garantir lucros (como lembrava, em devido tempo, o Ricardo Paes Mamede).
7 comentários:
Na notícia completa do Público, acabam por referir que é prática de todos os hospitais, públicos e privados, de enviar grávidas com teste positivo para os hospitais de referência Covid-19.
Também refere que há hospitais privados a tratar grávidas com teste positivo.
Usar este exemplo foi incorrecto.
Caro Stardust, agradeço o seu comentário, que permitiu chamar a devida atenção para esse ponto da notícia. Não sendo realmente este o melhor exemplo das práticas de «seleção de utentes» (passei a aludir a esse facto na versão revista do post), sobretudo nos casos em que é priorizado o superior interesse das parturientes, há contudo questões de fundo que a situação suscita e que importa assinalar.
Eis os tais privados, os tais que disseram que queriam suspender as suas convenções, que disseram que não estavam lá, que não podiam, que não era o momento, que também tinham medo, que não estavam disponíveis para prestar serviços...
As maravilhas da medicina privada. O que é lucrativo e fácil, para os privados. O que dá prejuízo e chatices. para o SNS. Em Coimbra, um paciente teve um ataque cardíaco no átrio de um hospital privado. Tratamento prescrito? Chamar o INEM e enviá-lo para os CHUC.
Há uma organização lobbyista, de entidades privadas (e algumas públicas) ligadas à saúde em Portugal, que tem uma página na web, onde estão condensados todos os mantras do negócio da saúde em Portugal. Dizem eles...
Temos uma missão, que é a de tornar Portugal num "player" competitivo na comercialização de produtos e serviços associados à saúde.
Procuramos nichos de MERCADO SELECIONADOS, tendo como alvo os mais exigentes e relevantes MERCADOS INTERNACIONAIS.
Dois dos nichos de MERCADO SELECIONADOS são o ENVELHECIMENTO ATIVO e SAUDÁVEL (os lares de idosos, pois claro) e o TURISMO de SAÚDE (um conceito desenvolvido na Póvoa de Varzim, pelos eruditos locais da saúde privada).
E finalmente, vem a pérola: Portugal é o sítio certo para investir e construir PARCERIAS.
Ou seja, as famosas PPPs que, no futuro, orientarão os hospitais públicos para os "nichos de mercado".
"apenas o SNS não fechou portas, ao contrário do que sucedeu com diversos hospitais privados."
Esta frase não é coerente (apenas ... com diversos).
Para além disso, se é verdade que o SNS não fechou portas é um facto que cancelou consultas externas, cirurgias, ...
Esta coisa do player e do turismo da saúde e das parcerias parece propaganda encapotada à coisa.
Algo que ainda se reforça mais com o desvio da bola para as PPP
Esta tendência publicitária escondida, associada ao chutar a bola para outro lado faz-me lembrar alguma coisa...
O facto do SNS não ter fechado as portas causa muitos engulhos
Adiou consultas e cirurgias. Não colocou a palavra “ fechado” como diversos grandes hospitais privados
A coerência dos privados defendida coerentemente pelo anónimo das 15 e 28.
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