quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Da filantropia


O porno-riquismo é a nova fase do consumo conspícuo num tempo de capitalismo com desigualdades pornográficas, onde o dinheiro assim concentrado é sempre quem mais ordena. Embora tenha dificuldades em obter lucros, a Farfetch, fundada por José Neves, é um bom símbolo deste capitalismo, uma plataforma ao serviço do luxo. 

Como garantir a legitimidade deste capitalismo também muito pouco taxado? Aqui surge a filantropia: José Neves decidiu doar dois terços da sua eventual fortuna, aderindo ao movimento de Bill Gates. 

Deixo-vos excertos de uma crónica sobre o filantrocapitalismo que escrevi para o jornal i há uma década atrás: 

Os bilionários norte-americanos andam numa azáfama filantrópica de milhares de milhões de dólares. O sucesso dos seus negócios convence-os de que podem aplicar as fórmulas empresariais para resolver a questão social. Bill Gates e outros exibem a típica arrogância que o dinheiro concentrado e a adulação geram. 

O conhecido filantrocapitalista Warren Buffet afirmou, com realismo, que a luta de classes existe e que a sua classe a tinha ganho. Um dos efeitos do filantrocapitalismo é o de legitimar as modificações estruturais, da desregulamentação ao enfraquecimento deliberado dos sindicatos, que geraram estas desigualdades económicas, uma das principais causas, segundo inúmeros estudos empíricos, dos problemas sociais. 

 Decidir sobre as prioridades socioeconómicas, como resultado de um debate democrático entre cidadãos, que escrutine os valores em disputa, é melhor do que deixar que as preferências dos mais ricos determinem cada vez mais, dentro e fora de fronteiras, os problemas que são considerados prioritários e os métodos para os enfrentar.

Como indica a investigação na área dos determinantes sociais da saúde, não há melhor do que governos apostados na expansão dos serviços públicos e na redução das desigualdades: quanto maior é a percentagem da despesa pública nas despesas de saúde, melhores são os resultados nesta área. 

Confio mais na reforma das estruturas, impulsionada por movimentos políticos que integrem os grupos sociais interessados e geralmente subalternos, do que no esforço filantrópico que reflecte e reproduz abjectas hierarquias sociais.

16 comentários:

Geringonço disse...

Exactamente João Rodrigues!

O filantropismo dos bilionários, sempre tão apoiado pela tão servil comunicação - manipulação - social, não só não resolve os problemas da sociedade como é uma forma da classe dominante convencer a população que o Estado não tem competências (nem obrigação) para resolver os seus problemas.

Filantropismo é e apenas mais uma ferramenta de domínio da sociedade que a classe dominante tem ao seu dispor, tal como são ferramentas de domínio as organizações supra-nacionais "independentes" como o FMI, União Europeia e BCE...

Jaime Santos disse...

Por acaso, nisso concordamos. A filantropia pode quando muito ser um complemento a políticas públicas de apoio a sectores como a saúde, as artes, a ciência, etc. Mas é preciso notar que em Países como os EUA, ela é responsável pela existência de instituições que, goste-se ou não, produzem trabalho de qualidade ímpar.

Mas, convenhamos, João Rodrigues, mesmo que Gates e os seus acólitos façam 'the right thing for the wrong reasons' e que a sua acção enquanto agentes económicos gere parte dos problemas que as suas acções filantrópicas procuram minguadamente resolver, em países onde o Estado colapsou por via da corrupção e do autoritarismo, muitas vezes estas acções são tudo o que separa a vida da morte de muita gente. E falamos de muitos Países em que o paradigma do nacionalismo progressista falhou em toda a linha...

A caridadezinha não substitui a solidariedade, mas na sua ausência pode mesmo ser tudo o que resta.

E deixe lá o porno-riquismo em Paz. Os ricos inteligentes costumavam achar que o segredo era a alma do negócio. É a nossa era de devoção pela superficialidade, pelo sucesso e pela celebridade que veio alterar tal atitude. Pode ser-se invejado, não se pode ser odiado...

Anónimo disse...

Os ricos não são parte da solução são parte do problema.

Jose disse...

Verdadeiramente chocante!
Estou em absoluto certo que haverá umas crias de camaradas dirigentes cheia(o)s de talento para desenhar uma interessantíssima variedade de fardas que nos livre desta moda a quatro ou mais estações por ano, que ameaça o planeta e coloca fortes tensões consumistas que acabam por gerar estes porno-ricos.

O problema é que ninguém lhes faz propaganda, e bem pelo contrário só se reclamam salários para estimular o consumo!!!

Fico assaz perplexo.

JE disse...

João Rodrigues mais uma vez a chamar os nomes aos bois. Claro e directo

E merecendo logo a vinda dos tubarões de pantanais obscuros, incomodados com a limpidez dos seus escritos.

João pimentel ferreira,em geringonço discurso, despeja a vacuidade do seu discurso feito de lugares comuns para encher o olho. Vacuidades a tentar justificar alibis para o futuro. Adiante

Jaime Santos ensaia um discurso curioso. Caritativo mesmo, mas em relação a ele próprio. Como não pode desmentir o afirmado pelo autor do texto, tenta aquela equidistância a ver se passa. Uma no cravo, outra na ferradura.

O receio de ser comparado a uma Jonet travestida de neoliberal envergonhado dá nisto

JE disse...

Se esmiuçarmos o texto de JS, vemos que de facto tomba só para um lado. Para o cravo. Ou para a ferradura:

"Mas é preciso notar que em Países como os EUA, ela é responsável pela existência de instituições que, goste-se ou não, produzem trabalho de qualidade ímpar."

E continua no cravo ( ou na ferradura):
"mesmo que Gates e os seus acólitos blablabla e mais blablabla estas acções são tudo o que separa a vida da morte de muita gente."

E insiste, insiste:
"mas na sua ausência pode mesmo ser tudo o que resta".

Para rematar, lastimando mais uma vez os ricos,aqueles por quem se lastima por poderem ficar mais pobres com a crise pandémica:
"E deixe lá o porno-riquismo em Paz"

A alma do negócio de JS é assim o cravo. Ou a ferradura. É a caridadezinha assim envergonhada, com a absolvição última do porno-riquismo.

Amén

JE disse...

Deixemos para lá essa coisa estranha do problema e da solução centrada nos ricos. Vamos ao que interessa

Sublinhemos alguns pontos importantes apontados por JR e que, curiosamente (ou não) , JS rigorosamente escamoteia.

A pergunta que vale um punhado de notas:
"Como garantir a legitimidade deste capitalismo também muito pouco taxado"?

Silêncio da parte de JS. Ou melhor, "qualidade impar", o "paradigma do nacionalismo progressista" ( bocejo pavloviano da parte de quem lê), e " tudo o que resta".
Ah e os porno-ricos deixados em paz e em sossego

Da "típica arrogância que o dinheiro concentrado e a adulação geram" não se ouve nada

Das desigualdades económicas originadas pelas modificações estruturais, da desregulamentação ao enfraquecimento deliberado dos sindicatos, nem um pio

Do "deixar que as preferências dos mais ricos determinem os problemas que são considerados prioritários e os métodos para os enfrentar", nem uma palavra

Das abjectas hierarquias sociais perpetuadas pelas encenações filantrópicas, nem um suspiro.

O mundo como está é "perfeito" segundo o b-a-ba ideológico de JS. Claro que "perfeito" entre aspas, porque ele nunca o poderia dizer assim. Mas o seu esforço esforçado por o apresentar como "o menos mau" é persistente. Já sabíamos que até encenações sobre o "empobrecimento" dos mais ricos na actual crise tentou vender. Já conhecíamos o seu discurso apologista da servidão,mercê da sua inefável missa em prol das grilhetas. Agora tentar dourar assim a pílula e fazer a defesa (encapotada e envergonhada) de mecanismos que perpetuam o espectáculo deplorável a que assistimos nas relações de trabalho e nas questões sociais é um outro avanço ideológico. Justificar a esmolazinha do rico como meio para combater a pobreza, deixando o rico e o pobre como antes, alivia a alma ( nem invejado, nem odiado, apenas "amado") mas não muda rigorosamente nada. Apenas perpetua o status quo

E é precisamente isso que JS quer. Como se insinuara antes, as Jonets aparecem de onde menos se espera ( ou talvez não)

Ana Maria disse...

Têm calças de ganga a 800€. Mas só compra quem quer.

Jose disse...

É raro, mas não há lixo que não produza uma pérola:
«Justificar a esmolazinha do rico como meio para combater a pobreza, deixando o rico e o pobre como antes,...»

Nada interessa acabar com a pobreza se subsistindo os ricos, sempre se lhe podem comparar outros como pobres.
La Palisse diria ainda melhor.

Esta treta dos pobrezinhos, dos tadinhos, tem sempre e só o ódio aos ricos, à riqueza, esse símbolo maior de uma menor dependência do grande regulador que é o Estado.

JE disse...

Os conhecimentos que a "ana maria" tem. De calças de ganga e de idiotices como esta patenteada aqui.
Será que as calças de ganga são parte do problema? Farão parte das organizações supra-nacionais blablabla e mais blablabla?

Quando não há outra alternativa, tenta-se atirar mais abaixo. Só lhe saem estas calças, vendidas quiçá por um ministro holandês

Anónimo disse...

Uns filantropos.Agora até com as calças de ganga.Importadas pois claro

JE disse...

Lolol

O lixo e a pérola

"Justificar a esmolazinha do rico como meio para combater a pobreza, deixando o rico e o pobre como antes,..."

Como combater a pobreza?

Através das esmolinhas do rico?

Para que tudo fique na mesa? O rico continua rico. O pobre continua pobre.E a esmolar

O lixo e a pérola vem a seguir:
"Nada interessa acabar com a pobreza se subsistindo os ricos, sempre se lhe podem comparar outros como pobres."

O que é isso? O copiar mal amanhado de um discurso claro e lúcido do outro.Mas tão pouco claro que suspeita-se que é de propósito,tal como as pitonisas de Delfos

Vejamos:
"Nada interessa acabar com a pobreza se subsistindo os ricos"...
Interessa, interessa.Mas não são as esmolas que o fazem.

O que jose pretende é fazer passar a mensagem que para acabar com a pobreza, basta a esmola dos ricos.Desta forma, perdoe-se. manhosa.Interessa acabar com a pobreza,sim,mas prescinde-se de "soluções" que o não são.

Na equação em causa o que está em causa é a manutenção da pobreza. E a "dita" esmola" não faz rigorosamente nada para a combater. Antes perpetua uma condição iníqua e degrada quem sobrevive do esmoler.

O que se pretende com tal "banha da cobra" de jose?

Apenas o celebrar enjoativo e hipócrita dos ricos, agora na versão de "coitadinhos". De como um tipo que anda com a boca no trombone sobre os coitadinhso dos pobrezinhos, vem para aqui com esta choradeira do ódio aos ricos é um espanto.Falta a inveja aos mesmos

Esta conversa já cansa.De tão pegajosa e de tão antiga. Os esclavagistas também diziam o mesmo de quem combatia esta chaga. Inveja e ódio aos proprietários de escravos

JE disse...

"menor dependência do grande regulador que é o Estado"

Al Capone podia ter utilizado esta frase para justificar as suas acções. Afinal ele só pretendia "uma menor dependência do grande regulador que é o Estado".

Adivinha-se que Jose aconselhou o DDT a fazer o mesmo no seu julgamento.

Adiante

Porque parece que esses grandes néscios, ricos e porno-ricos, continuam a depender do Estado. Vivem à sua sombra, parasitam-no e chulam-no

No fascismo iam mais longe. Tinham à sua disposição os meios repressivos do Estado para serem ainda mais ricos. Mesmo que fosse pelo assassinato, como foi o caso de Catarina Eufémia

Anónimo disse...

São uns meninos, estes filantropos de carteira de cheques em punho. Já o muitíssimo filantropo Francisco Franco Bahamonde a sabia toda de fio a pavio: fuzilava a mãe "roja" para dar o seu filho a sólidas famílias falangistas que o criassem de forma a ser o verdugo fascista de amanhã.
No elevador social entra quem o dono do guito quer e acresce que o dono do guito é precavido duas vezes: assegura-se que quem fica a chafurdar na pocilga não só eternamente nela chafurde como também, voluntária e veementemente, se dê ao trabalho de trucidar os seus companheiros de infortúnio numa qualquer cruzada identitária que lhe foi metida como dogma de fé na cabeça por uma qualquer ONG filantropicamente financiada por um dos muitos clones de George Soros.
Enquanto a identidade e a luta de classes naufraga num oceano de milhentos e cada vez mais fragmentados redemoinhos identitários, a invisível mão do filantropocapitalismo resgata os mais aptos a fazerem-se resgatar - os mais bonitinhos, os mais articulados, os mais caninamente obedientes, os de ouvido mais apurado para distinguir a voz do dono e, sobretudo, aqueles que mais ardentemente se prostituem de corpo e alma - e a serem postos no lugar de capatazes dos interesses dos seus "benfeitores" defendendo, como bem disse o visionário Zeca Afonso, os verdugos contra os pais.

Anónimo disse...

Os filantropos são uns meninos?E depois aparece o Bahamonde?E fuzilava a mãe?
Ah e aparece o Soros e o elevador social.
E a luta de classes a naufragar mais os bonitinhos e os caninos e os prostitutos
Isto não tem pés nem cabeça. É conversa de patego para enganar pategos.

Anónimo disse...

Anónimo das 23:43:

Já que divide o Mundo entre os pategos que debitam intrujices e os pategos que se deixam intrujar, a qual das duas classes pertence Vossa Excelência? Ou será que não pertence a nenhuma delas, pertencendo, isso sim, a uma terceira classe de pategos por si não nomeada: a classe dos pategos indigentes mentais funcionalmente analfabetos que nada percebem do que lêem e que ora tentam intrujar ora se deixam intrujar na intrujice que, em espelho, nos outros enxergam sem ela lá estar?
Veja lá mas é se raciocina antes de furiosamente destilar a bílis no martelar tão furioso quanto acéfalo do teclado do computador. E cresça por dentro, homem, cresça por dentro...