Decorridos mais de seis meses desde o início da pandemia na Europa, e sendo muito incerta a sua evolução nos próximos tempos, parece contudo que a «segunda vaga» se diferencia substancialmente da primeira, em termos de letalidade. De facto, se é evidente, e muito preocupante, o aumento significativo de novos casos de infeção desde o início de julho, à escala da UE28, em termos de óbitos parece estar a manter-se a melhoria da situação conseguida com a adoção generalizada de políticas de confinamento, como mostram os gráficos seguintes. De facto, enquanto o número de novos casos diários passou de cerca de 4 mil (o valor mais baixo após o pico) para 27 mil, sextuplicando, o número de óbitos apenas duplica, ao passar de cerca de 100 para quase 200.
A evolução recente no caso de Portugal parece encaixar no padrão acabado de referir. De facto, se é inegável o acréscimo no número de novos casos e de infetados (de 170 em meados de agosto para os atuais 439, e de 12,5 para 15,5 mil, respetivamente), o aumento registado ao nível dos internamentos (17%) e no número de óbitos não acompanha essa tendência. Aliás, o número de óbitos mantém-se numa média móvel diária (últimos sete dias) de 3, desde o dia 15 de agosto (com o número de novos casos, no mesmo período, a mais que duplicar).
O facto de o número de novos casos e de infetados serem os indicadores prediletos das notícias sobre a pandemia (e também o critério primeiro de algumas decisões políticas) faz com que esta alteração de padrão tenha tendência a passar despercebida, sendo muito importante tentar compreender com detalhe o que a poderá explicar. O facto de o contágio estar agora a ocorrer em camadas mais jovens, a possibilidade de o vírus ser hoje menos agressivo, o aumento do número de testes, a deteção e tratamento mais atempado das situações, ou a melhoria da capacidade de resposta dos sistemas de saúde são algumas das hipóteses a considerar. Independentemente de, como é óbvio, devermos manter toda a prudência e continuar a adotar os comportamentos, individuais e coletivos, que ajudem a impedir um regresso à letalidade registada na primeira vaga.
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5 comentários:
"De facto, enquanto o número de novos casos diários passou de cerca de 4 mil (o valor mais baixo após o pico) para 27 mil, quintiplicando"...
mais exactamente: mais que sextuplicando
E melhor conhecimento sobre tratamentos (incluindo medicamentos) eficazes ou prejudiciais.
Caro José Sampaio, agradeço o seu alerta para as contas certas. Já corrigi entretanto no post. Obrigado.
Devemos ser cautelosos nestas analises, pois a curva do numero de mortes tem um atraso de 3 a 4 semanas relativamente à curva de novos casos.
Ainda assim, parece evidente, que muito aprendemos sobre o tratamento deste vírus, deste os primeiros casos em Itália e com isso é evidente que conseguimos reduzir a taxa de mortalidade.
Os primeiros casos em Itália?
Há aqui manifestamente alguma confusão.
Em Itália por acaso o que assistimos foi a um descalabro notável. Ainda nos lembramos da realização do filme promocional "#BergamoNonSiFermav" que convidava as cidadãs e cidadãos a continuar a vida como de costume, ocupando os bares, as ruas e, especialmente, os locais de trabalho. O capitalismo de Bérgamo precisava deles.
No entretanto, o vírus teve 15 dias para infetar toda a região de Bérgamo e toda a Lombardia, fazendo, em pouco mais de um mês, mais de 12.000 vítimas "oficiais", a que se juntaram milhares e milhares de outros cidadãos e cidadãs que foram deixados a morrer em casa ou em lares de idosos, diante do colapso do já "excelente" sistema regional de saúde. Após as unidades de Cuidados Intensivos dos hospitais de Bérgamo, os cemitérios da região também se declararão "esgotados" e os camiões do exército serão chamados para transportar os caixões para outras províncias.
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