quarta-feira, 26 de setembro de 2018
Bolha
Se a memória não me trai, é no livro já clássico de John Kenneth Galbraith sobre a crise financeira de 1929 que está a história do engraxador a dar dicas sobre compra e vendas de acções, servindo como sinal de uma bolha prestes a rebentar na bolsa. Sinais há muitos e bolhas também ao longo de uma história indissociável das fases de capitalismo dirigidas pela especulação financeira.
Quem diz engraxadores de Nova Iorque, em 1929, diz banqueiros de Lisboa, em 2018. Numa conferência do Negócios sobre o futuro da banca, estes últimos, com a confiança de quem foi salvo pelos poderes públicos, com nulas contrapartidas em termos de controlo público, garantem que desta vez é diferente (um dos sinais retóricos de que estamos perante uma bolha). Afiançam que não há bolha imobiliária, porque Lisboa e Porto são cidades globais, com procura sustentada e tal. Na realidade, é mais uma razão para estarmos preocupados, porque a globalização financeira aumenta a instabilidade.
O governador do Banco que não é de Portugal, mas que um dia voltará a ser, segue o guião do BCE e fala de banca sem fronteiras, ou seja, do controlo estrangeiro da banca nacional, o que também só vai aumentar a instabilidade. O secretário de estado das Finanças, Mourinho Félix, de um governo sem instrumentos decentes de política e sem vontade de os recuperar, faz coro com o governador, lançando alertas inconsequentes sobre a situação. Ao mesmo tempo, o governo faz tudo ao seu alcance fiscal e não só para que a bolha cresça: da manutenção da pouca-vergonha dos Vistos Dourados ao estatuto do residente não habitual, passando pela promoção legal de novos veículos para a especulação, as chamados sociedades de investimento imobiliário.
Isto não vai acabar bem. No capitalismo financeirizado, promovido pela UE, através da liberalização financeira e do Euro, nunca acaba. Até quando?
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20 comentários:
Mais uma vez, com o desassombro e a frontalidade habituais em Joäo Rodrigues, um excelente post
Não venho fazer um comentário mas uma simples observação: estou pasmado. Ainda há quem fale em UE. Tem de se começar a falar em (des)UE...
Perdoem-me a intromissão de quem não é economista muito menos financeiro e que já se deu à tontice de ser europeísta.
"O governador do Banco que não é de Portugal, mas que um dia voltará a ser"
Sonhar não custa. A recuperação da soberania da moeda nacional será quando? Há quem aposte já em 2020 para a nova crise internacional, o que dá 2023 para a queda do Euro, a repetir-se a onda de arrasto de 2008-2011... que desta vez será um Tsunami, pois está tudo muito mais endividado, a política dos bancos centrais já está no limite, a bolha de liquidez é ainda maior nos mercados de especulação, e há ainda menos estabilizadores automáticos nas economias devido ao fanatismo da liberalização de tudo e mais alguma coisa, a começar pelos direitos laborais, cuja "rigidez" é na realidade um alicerce sólido para amansar os efeitos das crises.
"whatever it takes" once, shame on you.
"whatever it takes" twice, shame on me!
Só tenho pena que a fatura, como de costume, seja entregue a todos, em vez de ir parar só a casa dos Euro-radicais...
Se o Governo que (pelos não) nos governa é assim tão mau, onde está a defesa da moção de censura? Ou, no mínimo, a defesa do chumbo do orçamento? Vá lá, seja consequente ao menos...
O Banco de Portugal, João Rodrigues, terá a configuração que tem presentemente enquanto a maioria dos Portugueses assim o quiser... Que eu saiba, chegamos lá por causa de Governos e legislaturas largamente sufragados pelos Portugueses.
E é essa a soberania que conta, não uma soberania de um qualquer corpo imaginário e monolítico que tanto pode ser a Nação, como o Povo, como a Raça, como a Classe Operária, que é sempre a desculpa para que o Poder seja monopolizado por todo o tipo de vanguardas (criminosas e sempre medíocres).
Os slogans são muito convenientes porque evitam o recurso ao pensamento. Sobretudo, evitam termos que mostrar qual a nossa mão no jogo, não é? Se é que temos alguma para além dos ditos slogans...
Este IV Reich, alicerçado no Euro/Marco, foi parido com o júbilo dos seus criadores, mas vai acabar com a dor de muitos dos seus anónimos utilizadores. Infelizmente.
A Nação pode ser monolítica diz Jaime Santos...
Jaime Santos um acérrimo defensor de uma das mais monolíticas organizações da actualidade, a União Europeia.
É preciso já não ter noção do que escreve e diz...
"Despesas dos eurodeputados devem continuar a ser secretas, decide Tribunal de Justiça da UE"
"Cada deputado ao Parlamento Europeu recebe cerca de 4 mil euros por mês para “despesas gerais” do respetivo gabinete. Tribunal de Justiça da União Europeia rejeita apelo de maior transparência, nomeadamente através da apresentação de faturas das despesas, porque isso colocaria em causa a “privacidade” dos eurodeputados."
https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/tribunal-de-justica-da-ue-decide-que-despesas-dos-eurodeputados-devem-continuar-a-ser-secretas-358448
Mais um exemplo da "democracia" europeísta nada monolítica!
Quando os 'patriotas' levantarem as suas bandeiras só caminharão para dois mundos alternativos:
O lodo venezuelano ou a desregulação americana (para onde se encaminha o RU).
Não têm nada mais que os sustentem, e no primeiro caso convém que haja petróleo nas áreas protegidas como o Parque Natural da Ria Formosa e da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim, o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e a Costa Vicentina.
Uma pena.
Uma verdadeira pena que pessoas supostamente inteligentes e portadoras de um "pedigree" intelectual de que se gabam, sejam capazes de se afundar argumentativamente duma forma sobejamente pueril
Jaime Santos faz marcação cerrada a João Rodrigues. Não é isto que se condena, o que se aponta é a forma demasiado medíocre como o faz
"Se o Governo que (pelos não) nos governa é assim tão mau, onde está a defesa da moção de censura? Ou, no mínimo, a defesa do chumbo do orçamento? Vá lá, seja consequente ao menos..."
Para JS, qualquer tentativa de dizer que o rei vai nu equivale a ter que se defender a implementação de medidas dirigidas contra o referido rei(zinho).
Algo que sugere um certo anquilosamento anti-democráticode JS, como se o autor do post se movesse no campo da luta partidária ou como se JS se assumisse como birrento personagem decantado de alguma ( má) prática parlamentar a girar em torno da defesa da honra de miúdos birrentos
Infelizmente há mais coisas estranhas que evidenciam uma evidente confusão sobre o livre direito à critica.
Perante uma clara, contundente e muito lúcida leitura das "bolhas", do governador do BdP, dos vistos gold, do "capitalismo financeirizado, promovido pela UE" o que faz Jaime Santos?
Remete-nos, imagine-se lá, para o quadro de, e cita-se, uma " configuração (do BdP), que tem presentemente enquanto a maioria dos Portugueses assim o quiser.
Tenta legitimar com o voto aquilo que o voto não pode decidir, que é o livre direito a ter opinião própria e a publicá-la
Isto é da mais básica convivência democrática.
JS tenta assim calar vozes incómodas, invocando maiorias que justificariam o manietar o debate e a expressão de ideias. Tenta monopolizá-los, de forma assaz monolítica, insultando quem ousa contrariar o seu peculiar TINA
Eis uma marca maior do desnorte e da mediocridade que envolve alguma das nossas elites, que abraçaram a traição aos ideais pelos quais outrora diziam lutar.
Mediocridade e impotência. Se é criminoso ou não, deixo para outros decidirem, porque acho demasiado rasteira a sua invocação por JS
É como se, pelo facto de Cavaco ter ganho as eleições que ganhou, com ou sem maioria absoluta, o escudasse de vozes críticas à sua actuação, à sua praxis, aos seus conceitos político-ideológicos.
Cavaco que teve votos. Os governadores do BdP nem sequer foram sujeitos a qualquer escrutínio, como se sabe
É demasiado mau para ser verdade
Infelizmente a coisa ainda não fica por aqui.
Quem fala de cátedra sobre "Governos e legislaturas largamente sufragados pelos Portugueses", a propósito do BdP, está com toda a certeza "esquecido" (as alternativas são bem piores) para o comportamento de Constâncio. O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), antigo governador do BdP, Vitor recusou responder inicialmente ao pedido de depoimento feito pela comissão parlamentar de inquérito ao Banif.
Em conferência de imprensa em Amesterdão, depois de uma reunião dos ministros da Economia e Finanças dos Estados-membros, Vítor Constâncio frisou que o BCE só responde perante o Parlamento Europeu e não prestava contas a parlamentos nacionais.
Perante o escândalo, perante acusações de todo o lado, perante a denúncia de tão vergonhosa pesporrência anti-democrática de Constâncio, este teve que voltar atrás e "responder " por escrito
Nessas alturas o sufrágio dos portugueses podia ser mandado às malvas, perante um órgão que estava acima dessas miudezas do voto popular.
Jaime Santos não terá vergonha quando fala assim, com este despudor, sobre "Governos e legislaturas largamente sufragados pelos Portugueses"?
Para finalizar
JS fala apologético:
"O Banco de Portugal, João Rodrigues, terá a configuração que tem presentemente enquanto a maioria dos Portugueses assim o quiser... Que eu saiba, chegamos lá por causa de Governos e legislaturas largamente sufragados pelos Portugueses. E é essa a soberania que conta blablabla, blablabla
Pois chegámos.
Vitor Constâncio, governador do BdP, errou as previsões macroeconómicas e de falhas na supervisão bancária por não ter actuado ou o fazer tardiamente nos casos BPN, BCP e BPP, e que custaram aos contribuintes portugueses um montante bem superior a 9.500 milhões de euros. Viu todavia reconhecidos os seus méritos na União Europeia, sendo nomeado em 2010 vice-presidente do Banco Central Europeu.
Mas temos que silenciar toda esta trampa, porque a maioria dos portugueses assim o quis, por um governo largamente sufragado pelos portugueses
Simplesmente vergonhoso
Não devia vir aqui meter a minha colherada, mas... pelo-me por um bom debate, por uma boa discussão, por uma excelente troca de ideias.
Mas abomino, repito, ABOMINO "anónimos" que a coberto de capas quais escorpiões dão as suas ferroadas em quaisquer direcções sem olhar a quê nem a ninguém.
Dessculpem-me a intromissão mas... não aguentei.
"Quando os 'patriotas' levantarem as suas bandeiras só caminharão para dois mundos alternativos:
O lodo venezuelano ou a desregulação americana (para onde se encaminha o RU)"
Pois é.
Para um assumido nacional-colonialista, convertido num euroínómano nos dias de hoje, deve-lhe fazer impressão essa coisa de "patriota".
São apresentados dois caminhos alternativos.
Nem são dois caminhos alternativos. Nem os exemplos dados são exemplos de nada.
Não vale a pena falar na China que não deixa ninguém pisá-la nem vai nas tretas dos vende-pátrias vulgares. Basta olhar para a pequena Islândia, para ver a abissal diferença que há entre os ramelosos lambe-botas e a dignidade de quem soube dar um pontapé nos tomates dos banqueiros apátridas
Sobre a Venezuela e o seu lodo começamos a perceber pelas notícias que nos (não) vão chegando que o lodo pode afinal estar bem mais escondido do que pensávamos.
O que é "isto"?
Pompeo promete uma 'série de ações' contra a Venezuela nos 'próximos dias'
"Washington prometeu aumentar a pressão sobre a Venezuela nos próximos dias, com o secretário de Estado Mike Pompeo prometendo fazer uma "série de acções" contra o governo de Nicolas Maduro no "melhor interesse" dos venezuelanos".
O que é "isto"?
US President Donald Trump's administration has been holding meetings for around a year with a group of Venezuelan officers plotting to overthrow the Latin American country’s president, Nicolas Maduro, the New York Times reported on Saturday. The list of US contacts involved in secret talks about a military coup even involved a person that was on the US government’s own sanctions list of corrupt officials, the media added, citing its interviews with 11 unnamed US officials and one former Venezuelan commander, who took part in the conspiracy.
The US officials held a series of covert meetings with the coup plotters abroad, beginning in autumn 2017 and continuing throughout this year."
Quanto ao "patriotismo" americano...
Trump foi na terça-feira discursar perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, declarando na abertura que a sua «administração tem alcançado mais que qualquer outra administração na história do nosso país». Este tipo de afirmação hiperbólica, auto-promocional e marcadamente incorrecta é comum nas comícios de Trump, onde ele se sente verdadeiramente à vontade para pontificar de forma improvisada. Nas Nações Unidas, perante representantes dos países do mundo, a declaração foi recebida com risos. Trump comentou que não esperava essa reacção e continuou, indicando entre as realizações «históricas» da sua administração o gigantesco corte fiscal (beneficiando os ultra-ricos e grandes empresas) e o reforço da despesa militar nos EUA que atingirá USD$716 mil milhões no próximo ano. E deixou claro para que serve tal reforço: «As nossas forças militares serão em breve mais poderosas do que nunca». Afirmação extraordinária, considerando que os EUA são responsáveis por mais de 35% da despesa militar mundial, gastando mais que a soma da despesa militar da China, Rússia, Arábia Saudita, Índia, França, Reino Unido e Japão.
Trump expandiu as ideias da «América Primeiro» do seu discurso anterior nas Nações Unidas, afirmando «rejeitar a ideologia do globalismo e aceitar a ideologia do patriotismo». A sua crítica ao globalismo inclui «a governância global da burocracia não elegida e não imputável» das Nações Unidas, a Organização Mundial do Comércio, a OPEC, o Plano de Acção Conjunto Global sobre o programa nuclear do Irão, o Tribunal Penal Internacional, etc. Como vem sendo prática, a sua versão de patriotismo e defesa da soberania implica a rejeição de quaisquer instâncias supranacionais e acordos multilaterais, preferindo a negociação bilateral por forma a garantir os interesses dos EUA.
"Para o mais distraído, esta defesa da soberania e independência nacional poderia ser confundida com a posição de forças progressistas face ao domínio exercido pelas grandes potências através de estruturas supranacionais. Mas os EUA são uma grande, grande potência. É de uma imperial ironia que o líder de uma grande potência com um largo historial de interferência nos assuntos internos de outros países —pela pressão diplomática, chantagem económica, sabotagem, espionagem e guerra— venha pretender tomar a posição de vítima cuja soberania é ameaçada. Trump gaba-se dos EUA serem o maior doador de ajuda externa, para depois queixar-se de que poucos dão aos EUA. Trump refere o que espera dos países que recebem ajuda financeira dos EUA: «que tenham os interesses [dos EUA] no coração”, «que nos respeitem e sejam nossos amigos». É significativo que, no final do seu discurso, após retórica florida sobre a diversidade mundial, Trump destaca 4 países: Índia, Arábia Saudita, Israel e Polónia.
É possível ilustrar com outros exemplos do discurso como a defesa da soberania de Trump tem um teor nacionalista e retrógrado e não deve ser confundida com uma defesa patriótica da soberania dos povos num clima de efectiva cooperação: a sua posição xenófoba face aos refugiados e migrações ou a suas diatribes contra o socialismo e a Venezuela, que descreve como uma ditadura repressiva (apesar do seu historial de eleições fiscalizadas internacionalmente) e contra a qual anunciou novas acções, presumivelmente como demonstração de respeito pela sua soberania. Mas considerando que o discurso foi realizado nas Nações Unidas, é significativo que Trump mencione a retirada dos EUA do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas («uma grave vergonha para esta instituição»). Não conseguindo instrumentalizar o organismo, que persistentemente critica Israel, os EUA retira-se. Não aprovando o apoio dado aos refugiados Palestinianos, deixa de financiar a Agência para Refugiados Palestinos das Nações Unidas (UNRWA).
Trump não critica as instituições supranacionais porque defende a soberania das nações, critica-as porque não servem os interesses nacionais dos EUA, ou mais precisamente os interesses da classe privilegiada dos EUA. Assim se explica também porque no mesmo discurso em que fala no respeito da soberania dos Estados anuncie as sanções à Venezuela e ao Irão por motivos que qualquer outro país poderia igualmente imputar ao EUA, a saber corrupção, pilhar os recursos da nação para enriquecimento próprio ou espalhar caos no Médio Oriente e além. (Não cabe aqui uma discussão do mérito, ou falta de mérito, da crítica que Trump tece ao Irão; mas de salientar que crítica semelhante se poderia fazer aos EUA.) Aliás, Hassan Rouhani, Presidente do Irão, na mesma sessão da Assembleia Geral das NU teve oportunidade de lançar também críticas a Trump: “É desafortunado que estejamos a testemunhar poderes no mundo que pensam que podem assegurar os seus interesses melhor ou pelo menos a curto prazo usar o sentimento público para angariar apoio público para fomentar nacionalismo extremista e racismo, ou através de tendências xenofóbicos semelhantes à disposição Nazi.”
( André Levy)
Os patrióticos não lhes calha nada bem o patriotismo do Trump.
Têm que lhe acrescentar racismo, xenofobia e mais uns tantos aditivos para se distanciarem e disfarçarem a perfeita comunhão no ideal anti-globalização.
Perfeita comunhão tinha o pobre josé com Salazar. Afeiçoou-se depois a Cavaco e tomou-se de amores por Passos.
Está bem assim?
Porque da idiotice argumentativa deste jose estamos todos um pouco fartos. Pode ser que assim perceba.
Tem que acrescentar estas tretas sobre Trump para disfarçar a perfeita comunhão no ideal de vende-pátrias vulgar?
A impotência é lixada. Parece que André Levy acertou na mouche. E estragou-lhe o fadinho trumpista
"Trump não critica as instituições supranacionais porque defende a soberania das nações, critica-as porque não servem os interesses nacionais dos EUA, ou mais precisamente os interesses da classe privilegiada dos EUA. "
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