segunda-feira, 16 de julho de 2018

Bifurcação

Fonte: Marktest
Olhando para este gráfico, o PS sentir-se-á muito confortável. Mas pode ser enganador.

A diferença para o PSD é enorme, mas já foi maior. Em Julho/Agosto de 2017, essa diferença atingiu o ponto máximo: 16,8 pontos percentuais. A política à esquerda vingava. Mas desde aí, tem vindo a decair: em Junho passado já era de apenas 9,5 pontos percentuais. E isto a um ano das eleições legislativas. Ou seja, caiu 7,3 pontos percentuais num ano.

Este desgaste foi fruto de duas frentes.

À direita,  primeiro, os fogos e o assalto a Tancos foram os temas que martelaram o Governo. Só depois, é que cavalgaram as queixas nos serviços públicos de Saúde e Educação, quando foram os seus principais responsáveis desde 2011/2015. Para isso, contribuiu - e de que maneira! - a intervenção por vagas do presidente da República, arrastando a comunicação social a retomar o tema em cada aniversário mensal. Para exemplificar este caso, tente responder à questão onde é que Marcelo Rebelo de Sousa vai passar férias? Segundo o jornal Expresso, vai para Oliveira de Hospital e Pedrógão. Porquê? Porque "o Presidente quer chamar a atenção dos portugueses a fazerem férias nos locais afectados pelos fogos de 2017"... O próprio jornal Expresso voltou a retomar o tema de Tancos em manchete. Marcelo exigiu esclarecimentos, (claro!), a tal ponto que o Governo se colou à reivindicação de esclarecimentos pelo Ministério Público, "concordando com o presidente da República". Não é óbvio?

Expresso, 14/7/2018
Tão descarado é o papel de Marcelo que até - segundo o mesmo jornal (pag.2 e 3) - interveio junto de Pedro Santana Lopes para que não avance com o seu novo partido, o qual virá sapar o eleitorado de direita. Até para o jornal e seus jornalistas tudo isto é natural, a ponto de abordar o tema abertamente, sem qualquer menção de enviesamento do PR. António Costa fez o mais que pôde para parecer que se dava bem com Marcelo, que estavam sintonizados, mas Marcelo tudo faz para o minar. 

À esquerda, os partidos apoiantes do Governo PS, sublinharam-se os efeitos da aplicação de uma política de prudência orçamental, mais papista do que o Papa, que - apesar das melhorias feitas na política de rendimentos - pouco atenuou as machadadas feitas pelo Governo PSD/CDS nos serviços públicos - Saúde, Educação, investimento público. E mantém uma política estranha de sedução à direita, por exemplo, na Saúde - ao nomear para o grupo de trabalho sobre a Lei de Bases quem está intrínsecamente ligada ao sector privado - e no mundo do Trabalho, ao assinar um acordo de concertação social que adere às teses patronais, nomeadamente na contratação colectiva.

A crítica de esquerda e da direita ao Governo beneficia - como se vê no mapa - sobretudo a subida da direita. Desde o ponto mais alto em Julho de 2017, o PS perdeu 4,7 pontos percentuais, o PSD ganhou 2,6 pontos, o BE 1,2 pontos, o CDS 0,7 pontos e a CDU perdeu 0,5 pontos. Em conjunto, os partidos à esquerda (BE e CDU) registaram uma subida de 17,3% para 18% em Junho de 2018.

Mas essas duas subidas - à esquerda e à direita - revelam o quanto o PS - se quer manter uma política de esquerda - precisa dos partidos à esquerda (cada vez mais) e quanto uma política à esquerda, sem tergiversações à direita, pode continuar a ter - como teve nos anos de 2016 e 2017 - um apoio maioritário.

Veja-se este mapa. Caso se compare os "votos" nas sondagens no PS com os dos partidos de direita, o PS está quase a ser submerso. Está a uns míseros 3 pontos percentuais a um ano das eleições. Claro que se pode dizer que o PSD nunca se coligará com o CDS, porque a crítica ao Governo - venha de onde vier - beneficia o PSD. Mas essa diferença é reveladora da correlação de forças que o PS poderá encontrar no próximo Parlamento. Costa arrisca-se a ser novamente humilhado nas eleições. E no PS.

Já uma aliança à esquerda pode revelar que essa força está a uma distância de 21 pontos percentuais dos partidos da direita coligados e de 27,5 pontos percentuais do PSD. Algo que se tornaria humilhante, sim, mas para Rio e Cristas.

António Costa tem, pois, de fazer opções claras. A sua política de navegar ora à esquerda ora à direita não está - nem mesmo eleitoralmente - a ser eficaz. Pelo menos em Portugal.

6 comentários:

Jose disse...

«... Marcelo tudo faz para o minar.»
Será gralha e 'mimar' não faria mais sentido?

Quanto ao mais, a cultura maçónica é que sempre prevalecerá. e CHARNEIRA é a palavra de ordem que eterniza o poder.

victor sousa disse...

tão volúvel e "esclarecida" que é a nossa gente. As sondagens dão conta de forma evidente dessa constante flutuação, advinda dos "excelentes" trabalhos jornalísticos que aqui e ali visam a informação de tão delicada gente! Deve ser por isso que eles fazem perguntas a mil ou dois mil "entendidos", com telefone fixo. Deve ser a Quinta da Marinha em peso. E se não chegar vai também a Lapa!

Anónimo disse...

José avança como analista político a modos que à José Manuel Fernandes da treta

O “ mimar “ é paleio do Fernandes. Faz parte daquela vaga da direita ainda mais à direita que Rio. Encrespada pelo deitar fora o legado daquele génio de nome Coelho, que ficou conhecido por ser um traste

E o Observador dá o colinho para estas coisas

E manda a dissonância de José que este seja complemente consonante com os seus

Anónimo disse...

E lá está de volta a maçonaria.

Não, não é a maçonaria. São os interesses da direita e dos grandes interesses do Capital. Que comem a maçonaria se necessário for. Já lá tem a Opus Dei. Já lá têm os ex - legionários. Já lá têm o Coelho e o Marcelo.

Esses interesses é que são uma verdadeira charneira. Perdão “CHARNEIRA “ , à moda histriónica em uso

Anónimo disse...

Quando ainda falta mais de um ano para o início do Outono de 2019 - altura em que se prevê que as próximas legislativas tenham lugar -, nenhuma sondagem merece ser levada a sério, independentemente da "seriedade" (mais ou menos duvidosa) dos que as promovem e divulgam no "mainstream" mediático.

Por exemplo, segundo a última sondagem Expresso/SIC, divulgada no passado dia 13 de julho, "o PS atingiu 42% das intenções de voto dos inquiridos, um cenário que coloca António Costa mais perto de atingir a maioria absoluta"; além do PS, apenas o CDS subiu nesta sondagem (...), reunindo 7,5% das intenções de voto", e "os partidos de Esquerda que apoiam este Governo registam pequenas perdas (7,9% das intenções de voto para o Bloco de Esquerda e 7,3% para a CDU)". Comparando com os resultados das últimas legislativas, o PS teria ganho quase dez pontos percentuais (!), à custa dos partidos à sua esquerda (BE, PCP e PEV) - que teriam conjuntamente perdido mais de três pontos percentuais -, dos partidos à sua direita e de diversos mini-partidos e micro-partidos.

Caro JRA, com a direita claramente em "minoria absoluta", eu não receio que o PS esteja em vias de "ser submerso" pelos partidos de direita; e creio que o PS vai obter nas próximas legislativas muito nais do que os 32,3% obtidos em 2015. Relembro, a propósito, o que escrevi há quase uma semana, num comentário a outro "post" deste blogue, sobre os "entendimentos à esquerda" no Outono de 2015 e as perspectivas para as legislativas que aí vêm:

"a) O PS, que nem sequer conseguiu mais deputados eleitos que o PSD nas legislativas de 2015, ficou nessas eleições bastante longe da coligação eleitoral PSD/CDS (e ainda mais longe da maioria absoluta).

b) A coligação eleitoral PSD/CDS não conseguiu a maioria absoluta, pelo que só poderia continuar a governar se o PS deixasse.

c) O povo português pode ser maioritariamente "sereno", mas a verdade é que estava mesmo farto da governação PSD/CDS.

d) Logo na noite eleitoral, enquanto uns choravam a derrota e outros festejavam a "vitória", apareceu nas televisões um sereno Jerónimo a sentenciar que o PS só não formaria governo se não quisesse."

Nas próximas eleições legislativas - antecipadas ou não - o PS não deverá chegar à maioria absoluta, mas é de prever que consiga eleger mais deputados que o PSD, com o duo PSD/CDS em minoria absoluta (mesmo que consiga ultrapassar o PS em número de deputados). Costa, líder do partido maioritário, será encarregado de formar Governo pelo presidente Marcelo. Tentará uma governação do tipo da que Guterres conduziu entre 1995 e 1999, contando com o PSD e/ou o CDS para lhe aprovarem orçamentos de estado (e não só) em conformidade com as "regras europeias" e capazes de garantir a "confiança dos mercados". Tal como Guterres, convidará gente com imagem de esquerda para uma ou outra pasta (que não as das Finanças, dos Negócios Estrangeiros, da Defesa, da Administração Interna, etc.); talvez o Rui Tavares ou a Ana Drago aceitem um convite desses, mesmo que o Livre volte a conseguir zero deputados nas eleições."

A. Correia

Anónimo disse...

Um bom texto de A. Correia