quarta-feira, 4 de julho de 2018

A «bolha do insucesso» de Nuno Crato (I)

Foram há dias divulgados os valores de retenção e desistência no ensino básico e secundário relativos a 2016/17. Os progressos registados, em todos os anos e ciclos de ensino, tornam hoje mais nítida a inversão da tendência de redução do insucesso escolar ocorrida durante o consulado de Nuno Crato. De facto, de taxas a rondar em 2001 os 18% (total), 13% (ensino básico) e 40% (secundário) passou-se, respetivamente, para valores na ordem dos 11%, 8% e 21% entre 2008 e 2011, voltando a retenção e desistência a subir nos anos seguintes (em particular no básico), já com Crato na 5 de outubro. Desde 2015, contudo, foi retomada a trajetória de diminuição do insucesso, atingindo-se em 2016/17 os valores mais baixos de retenção e desistência registados desde 2001 (8% no total, 6% no básico e 15% no secundário).


Torna-se portanto hoje mais difícil a José Manuel Fernandes alegar, de novo, que «Nuno Crato entregou» em 2015, ao atual Governo, «um sistema com menos retenções do que aquele que herdou em 2011» (como se nada se tivesse passado entre essas duas datas). E por isso também já não será necessário pedir à atual maioria que «não estrague», com um «ataque (...) suicida e criminoso», as políticas do Governo anterior. Pode ficar descansado José Manuel, como vê, a bolha de insucesso que a direita gerou já faz parte do passado.

É claro que nós sabemos de onde vem tanta (e tão indisfarçável) revolta: acabou-se com a «jóia da coroa» do Cratismo, os exames finais do 4º e 6º ano. Isto é, uma decisão que consagrou, entre outras, a rutura com uma conceção retrógrada de ensino e aprendizagem - como era a do anterior Governo - orientada para a memorização e para o empobrecimento curricular e que desvaloriza a prioridade à compreensão e a aquisição de competências. Dirão que é o regresso do «eduquês», do «facilitismo» e da «década perdida». Sim, da tal «década perdida» que conduziu aos muito bons resultados do PISA em 2015, obtidos por alunos que, manifestamente, não frequentaram a escola de Crato.

5 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem!

Daniel Ferreira disse...

Não entendo: "Desde 2015, contudo, foi retomada a trajetória de diminuição do insucesso"
Era governo de PSD/CDS, quando esta trajectória de diminuição se iniciou!

Políticas educativas levam anos a mostrar resultados, pelo que a série iniciada em 2015 deve-se a politicas tomadas algum tempo antes!
Assim como as politicas tomadas neste quadro governativo actual levarão alguns anos a mostrar resultados.

Assim, impõe-se as questões:
- A série iniciada em 2015 resulta de que políticas educativas?
- As politicas educativas actuais já estão a mostrar resultados? E quais são esses resultados?
- Pode o quadro governativo actual colher méritos para uma tendência que se iniciou antes de entrar em funções?

Jose disse...

Reduzir ou redirecionar o esforço é uma consequência óbvia logo que os Provedores Gerais (vulgo esquerdalhos) chegam ao poder - princípio base da economia, minimizar a utilização de recursos.

Os professores reivindicam e os alunos aguardam a passagem administrativa.

Anónimo disse...

Da idade?
Da pesporrência ideológica?
Da mediocridade patronal?


"Provedores gerais"? O que é isto? Os vulgo "esquerdalhas" com que sistemática e de forma um pouco alarve este matraqueia por aqui os seus passos?
Demonstrando a minimização dos seus recursos intelectuais, nesta mais que evidente preguiça ou incapacidade treteira?


Os professores reivindicam.

E? Não o podem fazer? Saudades dum tempo em que era proibido reivindicar? Os lenços ramelosos com saudades do tipo que mandava matar e morrer em África e que entregava a Franco os republicanos para serem torturados ou imediatamente executados?

Os alunos aguardam a passagem administrativa?
Sim? A que propósito este papão de outras épocas que alimentou a histeria contra Abril dos que em Abril ficaram em poses indignas e bem molhadas?

Anónimo disse...

" ensino e aprendizagem"

Será possível um sem o outro?

"orientada para a memorização e para o empobrecimento curricular e que desvaloriza a prioridade à compreensão e a aquisição de competências."

Pode-se adquirir competências sem memorizar? Como?

PSD com os chavões do "eduqês" e PS com os chavões do "ensino-aprendizagem"