terça-feira, 10 de julho de 2018

Austeridade perpétua?


Se as sociedades se comportassem de acordo com os modelos que construímos, em particular de acordo com as simulações na folha de cálculo feitas em Bruxelas, teríamos austeridade para mais de 20 anos. Porquê? Para fazer convergir o peso da dívida pública de 126% para 60% do PIB.

Contudo, sabendo nós que as sociedades são sistemas vivos que também procuram sobreviver, a única atitude sensata é tratar esses exercícios como pura engenharia social. O conceito de saldo estrutural do orçamento do Estado é um desses exercícios. Para uma análise crítica do conceito que é o alicerce teórico da nova austeridade que nos está a sufocar, ver neste blogue aqui e aqui. No blogue de William Mitchell, ver este texto.

Importa lembrar que, quando sujeitas a pressões intoleráveis, as sociedades recorrem às forças políticas que estiverem disponíveis para pôr em causa o sistema, usando-as como instrumento de recuperação das condições da sua sobrevivência enquanto comunidade. Mesmo que a saída acabe por se revelar falhada e destrutiva, o caso da saída pelo fascismo. É disso que fala Karl Polanyi no início do capítulo XX de A Grande Transformação:
Se existiu alguma vez um movimento político que respondia às necessidades de uma situação objectiva e não era resultado de causas fortuitas, esse movimento foi o fascismo.
Tendo em conta que os países do centro da Zona Euro recusam liminarmente uma reestruturação da dívida pública das periferias, a alternativa seria a ruptura com a moeda única. Contudo, na Zona Euro, a esquerda tem-se recusado a ser o instrumento político para a recuperação das condições de sobrevivência das sociedades. Recusando o fim do euro, a esquerda está a pagar o preço eleitoral dessa escolha e tornou a extrema-direita no único instrumento disponível para a sobrevivência das sociedades europeias.

Em Portugal, no debate parlamentar, os benefícios líquidos de uma ruptura com a moeda única nem sequer são invocadas pelos partidos da esquerda quando se discutem as consequências da nova austeridade. Portanto, resta-nos esperar que, na Itália, a direita faça de forma competente o que a esquerda se recusou sequer a admitir. E, por isso mesmo, deixou de ser eleitoralmente relevante.

17 comentários:

Anónimo disse...

Já é altura de a nossa comunicação social pacóvia, subserviente e parola, e os blogues do regime como aqui este, deixarem de lamber, embevecidos, as botas da geringonça e dizer a verdade: a Europa de Leste está a crescer ao dobro da nossa taxa e a ultrapassar-nos em toda a linha. Têm dívidas muito mais baixas, menos impostos, leis laborais flexíveis, muito menos funcionários públicos e uma taxa de literacia próxima dos 100% (a nossa deve andar pelos 70%). E em vez de aumentarmos a exigência no ensino, calha-nos um fantoche proto-estalinista da FENPROF que se borra de medo cada vez que esta estala o chicote.

Anónimo disse...

E eu que pensava que o Pimentel Ferreira tivesse ficado muito abatido pelo facto de ter sido confrontado com a realidade

Serve de confirmação para depois não termos que aturar as suas queixas

Tudo isto a propósito de quê?

Deste comentário desbragado do sujeito das 9 e 58 , completamente ao lado do que o autor do post escreve

Antes eram as missas em honra da Alemanha e da Holanda. Agora é esta linguagem de pafista ressabiado, um autêntico funcionário do regime... caído também com Passos

E agora que tal debruçar-mo-nos sobre este post que merece reflexão atenta?

Geringonço disse...

A continuação das políticas dementes de "austeridade" são criminosas!

A "austeridade", passada, presente e futura, tem que ser desmistificada.
Esperar a ajuda dos média para informar a população é uma ingenuidade que, nesta altura do campeonato, deve ser rejeitada.

Anónimo disse...

Repare-se no olhar luminoso do Pimentel Ferreira quando fala em menos impostos e em flexibilidade do emprego

Para a vilanagem dos grandes interesses prosperar?

E o ódio às funções sociais do estado é de tal forma que se adivinha que deseja que desapareça quem preste tais funções

Para a vilanagem dos grandes interesses prosperar

Geringonço disse...

"A continuação das políticas dementes de "austeridade" é criminoso!"
Era isto que devia ter escrito no meu comentário acima.

Anónimo disse...

Assumir a ruptura com este euro é difícil

Mas tem que ser equacionada. De frente e sem tabus

Jaime Santos disse...

Para além da questão óbvia da triste figura que faz uma pessoa de Esquerda a reclamar o sucesso da Extrema-Direita (recorde-se a posição de um Sapir ou de um Emmanuel Todd, por exemplo), cabe ainda lembrar que não existe nenhum determinismo histórico que obrigue que o Futuro repita o Passado. Claro, convém retirar as devidas lições e ilações dessa História mas não esquecendo que prognósticos, só mesmo no fim do jogo.

E depois, até parece que o Jorge Bateira, enquanto Economista, está condenado a manter-se na posição de treinador de bancada. Como já lhe pedi encarecidamente durante anos, publique lá um livro ou relatório com os devidos detalhes sobre os riscos e as oportunidades para Portugal dessa saída do Euro. Pode até ser preciso... E prometo-lhe que o compro.

Como a dita saída será seguramente um caminho cheio de obstáculos, é bom que o soberano saiba ao que vai se essa opção for colocada sobre a mesa (ou se o País for forçado a tal).

Pois é, só que cabe lembrar que o próprio Savona, que em grande medida copiou o seu plano do de Bottle em 2012, veio depois fazer juras de fidelidade ao Euro. Bradar muito ao céus normalmente não adianta muito...

Não, Jorge Bateira, o Euro é o cimento mais sólido que une hoje a união (one currency to rule them all, se quiser). Se a UE quebrar, vai ser pelo lado da xenofobia com os imigrantes. Os italianos gostam mesmo muito das suas poupanças...

Anónimo disse...

Austeridade perpétua?!?! A austeridade acabou em 2015 com a Gerigonça!

Anónimo disse...

Jaime Santos queixa-se da triste figura de Jorge Bateira

Isso é coisa para dizer? JS já viu antes a triste figura que faz?

Que ainda se agravam quando JS, de forma demasiado leviana, fala em "prognósticos". Claro que podíamos até considerar que JS parece um pouco mais aberto, ao tentar aproximar-se da velha frase de Marx, “A história acontece como tragédia e se repete como farsa”. Mas suspeitamos que um dos elementos da farsa é quem não quer ver. E assim faz deste modo estas figuras tristes protagonizadas aqui precisamente por Jaime Santos.

Quem andou a cantar o euro e os manás que este acarretaria a quem entrasse para o clube tem que ser confrontado com os factos. E estes são de tal forma pesados que JS foge deles a toda a pressa. E foge para uma cansativa repetição sobre as consequências da saída do euro. Jaime Santos prefere ir por aí ( ignorando propositadamente muito do debate sobre o tema) para não responder à terrível questão que JB coloca:

"Austeridade perpétua?"

Jaime Santos não há muito dizia que "São poucos os que admitem que a política é antes de tudo a arte de navegar à vista... Guterres era um deles..."

Por aqui passará alguma justificação para estas proposições de JS? Navegar à vista para que não se vejam os escolhos que se levantam lá longe? Num processo oportunista e cúmplice com uma situação que no fundo não leva a lado nenhum? E que escondeu de forma ingénua ou propositada as consequências na entrada do euro?

(Mas houve quem contestasse e alertasse para os perigos de tal armadilha.
Chamaram-nos também de treinadores de bancada e repetidores de cassetes.)

O que seria de nós se quem fez Abril não tivesse querido para o País voos mais altos? E não tivesse recusado a condição de subserviência e de opróbrio a que estávamos sujeitos?

Anónimo disse...

Mais um engraçadinho pelas 22 e 36.

O que esta tralha neoliberal faz para impedir o debate. Há pouco era o olhar luminoso quando falava em flexibilidade laboral

Agora isto...O jose manuel fernandes também entra no jogo com o aonio?

S.T. disse...

Augura-se ao Sr Jaime Santos que vai ter um futuro próximo recheado de surpresas.

Se ainda não percebeu a estratégia do novo governo italiano quem somos nós para estragar as surpresas.

Realmente a vida torna-se mais trepidante quando não estamos cientes do que vai acontecer.

Fazer previsões acertadas é cá um tédio! LOL
S.T.

Anónimo disse...

É pena que Jaime Santos não dê a devida atenção aos múltiplos sinais que se vão acumulando, incluindo as "juras de amor" ao euro por parte de Savona.

Bradar muito aos céus não adiantará depois muito

Depois custa ver como pessoas inteligentes na sua pressa de glorificar o euro avancem com argumentos desbocados.

"o Euro é o cimento mais sólido que une hoje a união" diz JS.

Por acaso ainda há 9 países da UE que estão fora do euro. Alguns planeiam a sua adesão mas está tudo em águas mornas. O povo sueco rejeitou o euro em referendo e utiliza um expediente para não entrar na boca do lobo

Como é possível falar no "cimento" mais sólido da união, quando tal cimento não cimenta nove países? Estamos como os maiorais da Europa a decidir pelos demais? Que hossanas idiotas são estas que excluem do seu seio países que sendo da UE, não fazem parte do euro?

Se a UE quebrar,dirá JS,será pelo lado da xenofobia com os imigrantes.

Esta frase mais uma vez denota as "vistas" de pessoas como JS. Só vêem o que lhes ensombra de imediato o olhar. Por isso incensam também o navegar à vista. Porque têm geralmente vistas muito curtas.


Vitor Correia disse...

Abandonar o euro é um objectivo estratégico, longínquo e difícil, como se sabe. Por isso mesmo, tem de ser abordado com firmeza, e desde já. O Príncipe Consorte D. Luís queria plantar uma árvore exótica, e quando o jardineiro lhe disse que demorava 100 anos a crescer, ele respondeu: então temos de começar hoje! Ora nós, não só não começámos, como estamos a procrastinar desde, pelo menos, 2011. É bom, em termos de zona euro, que um Estado membro reuna condições politicas para ameaçar abandonar o euro, numa decisão soberana, que remete os "castigos" do eixo germano-alemão para as" brumas da memória". Nota: Como raio foi possível, na actual conjuntura política nacional, que Mário Centeno chegasse a Presidente do eurogrupo? Dá que pensar...

Anónimo disse...

Ao anónimo de 11 de julho de 2018 às 00:11

Quem diz que a austeridade não acabou são os Pafiosos saudosistas da Troika.
Repito: o BE e o PCP obrigaram o PS a virar a página à austeridade! A austeridade não foi perpétua como queriam os Pafiosos!

Anónimo disse...

"De fait, sur un autre front, on voit aussi se préciser aussi la crise qui vient. L’Allemagne et les Pays-Bas viennent de rejeter le système de garantie des dépôts bancaires, c’est-à-dire la garantie effective des dépôts de 100 000€. Or ce rejet frappe de caducité l’Union bancaire qui avait été, il convient de le rappeler, la SEULE avancée de l’UE depuis 2008 sur les questions bancaires et financières. La crise de l’Union bancaire touche aussi de plein fouet la position française car l’Union bancaire avait été le projet soutenu essentiellement par le gouvernement français. Bien entendu, de nombreuses critiques avaient pu être formulées sur l’Union bancaire, et mes lecteurs habituels s’en souviendront certainement. Cette « union » était fragile et n’avait pas le budget suffisant pour faire face à une nouvelle crise bancaire. Ce qui s’est produit le 29 juin n’en est pas moins important. Aucun accord sur le « pot » commun destiné à aider les banques en faillite, ce que l’on appelle aussi le « backstop », et pour secourir les banques en difficulté n’a pu être trouvé. Bien sûr, la décision a été repoussée pour la fin d’année 2018, mais les divergences entre les pays membres sont désormais immenses. Il est désormais très peu probable que les pays de l’UE arrivent à s’entendre sur autre chose que le fait de ne pas s’entendre. Cela met à mal tous les projets et les rêves d’une Europe fédérale qui étaient ceux d’Emmanuel Macron."

Anónimo disse...

"Or, c’est l’Allemagne qui va être désormais rapidement confrontée à une crise bancaire. La situation de la Deutsch Bank, incapable de passer les tests de robustesse mis sur pied par la Réserve Fédérale aux Etats-Unis, va exiger des actions importantes d’ici quelques mois, voire durant l’été. Il convient de se souvenir que l’Union bancaire avait été initialement conçue comme un moyen d’empêcher un pays d’agir à sa guise, en construisant un système de sécurité à l’échelle de l’UE. Mais, la faillite de fait de l’Union bancaire renvoie les pays de l’UE à la situation qui était la leur en 2008. On voit bien ici que la paralysie qui gagne l’UE va obliger l’Allemagne à « sauver » la DB (ce qu’elle fera certainement au vu de l’importance de cette banque pour son économie). Mais, ce faisant, elle donnera le signal pour que l’Italie procède à un sauvetage massif de ses propres banques en difficulté. Dès lors, au chacun pour soi qui prédomine sur la question des migrants, viendra s’ajouter un chacun pour soi sur la question bancaire, en attendant que ce chacun pour soi ne s’étende à la zone Euro. Sur ce point, il convient de relire le récent article de Joseph Stiglitz qui est désormais fort pessimiste quant à l’avenir de la zone Euro.

( Jacques Sapir)

Anónimo disse...

Afinal há dinheiro:

"Costa garante que despesa militar portuguesa atingirá os 2% do PIB em 2024"