A capa do Público de hoje, representando comunistas e bloquistas como ameaça orçamental, é uma vergonha, bem reveladora do processo de observadorização em curso na generalidade das linhas editoriais na comunicação social, ou seja, do domínio do estilo ideológico de um bem financiado blogue de direita. Jamais fariam uma capa destas em torno dos perversos impactos orçamentais do sector bancário, por exemplo. Enfim, as linhas editoriais dominantes são as linhas dos grupos dominantes, não se esqueçam.
Num quadro de perversos constrangimentos europeus, numa correlação de forças desfavorável nas várias escalas, as esquerdas contribuíram, com as suas propostas orçamentais, para um ligeiro aumento do poder de compra das pensões mais baixas, para algum alívio fiscal para a classe média realmente existente, para a continuação do lento processo de recuperação da dignidade salarial e profissional dos funcionários públicos, indispensável para a reconquista de confiança no Estado e nos seus serviços, naturalmente altamente intensivos em trabalho relativamente mais qualificado.
Estas modestas conquistas, ainda que num quadro em que continua a faltar um impulso forte a um investimento público duradouramente deprimido, contribuem para a confiança na procura interna, o que conjuntamente com a procura externa ainda relativamente favorável, ajuda o investimento privado. Lembremos, também contra comentadores-directores televisivos, os que monopolizam o chamado debate público, falando em nome do capitalismo monopolista, que as grandes empresas podem bem suportar neste contexto um eventual aumento da sua contribuição fiscal, que isso não afectará um investimento empresarial que depende sobretudo das expectativas de evolução das vendas (esta gente não respeita a evidência empírica recolhida desde há anos pelo INE, toldados que estão pela mais míope das ideologias).
Obviamente, a situação do país é muito frágil, dada a falta de instrumentos decentes de política e as regras europeias por esta responsáveis, num contexto de endividamento externo persistente e em que crescem os sinais de uma bolha financeira internacional por rebentar. Mas quem tem colocado de forma consequente em cima da mesa estes problemas são os mesmo que lutam orçamentalmente pelos de baixo. Para a sabedoria convencional, essa eventual crise futura seria uma oportunidade, neste contexto estrutural, para o mesmo ajuste de contas de um tempo, o da troika estrangeira, pelo qual anseiam.
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14 comentários:
Gostava era de ver a capa de um jornal, ao melhor estilo de uma lista de compras de supermercado, para onde foram exactamente canalizadas as mais avultadas somas resultado dos atropelos austeritarios e inconstitucionais do anterior governo?
«recuperação da dignidade salarial e profissional dos funcionários públicos, indispensável para a reconquista de confiança no Estado e nos seus serviços, naturalmente altamente intensivos em trabalho relativamente mais qualificado.»
Dignidade salarial e profissional - alguma comparação com as condições salariais e profissionais da generalidade dos trabalhadores suscita o desfavor para a generalidade dos funcionários públicos?
A reconquista de confiança no Estado e nos seus serviços - algo a ver com a dignidade dos funcionários públicos?
Serviços altamente intensivos em trabalho relativamente mais qualificado - uma minoria valida a generalizada sinecura?
Mas o que verdadeiramente é destacado é que a dívida é totalmente ignorada no princípio que sempre norteia a esquerda: quem vier atrás que feche a porta!
Há dias João Rodrigues escrevia isto:
"O jornalista Manuel Carvalho argumentou recentemente que a função pública monopolizaria o debate laboral, contribuindo para invisibilizar os problemas dos trabalhadores mais pobres (PÚBLICO, 13/09/2017). Pelo mesmo diapasão alinhou a jornalista Helena Garrido, mas agora no contexto da luta dos trabalhadores da Autoeuropa, comparando os seus aparentes privilégios, a sua suposta “bolha”, à situação de trabalhadores com horários ainda mais baralhados (Observador, 31/08/2017).
A sabedoria convencional, no fundo, procura sempre atirar os trabalhadores uns contra os outros, os do público contra os do privado, os novos contra os velhos, os precários contra os que conquistaram alguma, cada vez menor, estabilidade. Trata-se, no fundo, de dividir, enfatizando divisões horizontais e ocultando as mais importantes desigualdades verticais, para que quem está verdadeiramente em cima, o capital, possa reinar numa paisagem laboral também desta forma cada vez mais degradada. É a mesma ideologia que apoda de rígidas as regras que conferem algumas garantias aos que vendem a sua força de trabalho e de flexíveis as regras que conferem mais direitos e poder aos que a compram. De facto, não há relação mais política e onde haja mais investimento ideológico do que a laboral, nem relação que determine mais aquilo que os indivíduos podem ser e fazer. Por exemplo, é sabido, por vários estudos, que a precariedade laboral faz mal à saúde física e mental de quem é dela vítima ou que tende a gerar menos incentivos para incrementos da produtividade".
Este pequeno texto de JR é excelente.
Aqui está a denúncia ante tempus da "sabedoria convencional" do jose. Que fez agora esta sua intervenção francamente esclarecedora
Alguém que rejubilava com os despedimentos no tempo das facas afiadas de Passos agora põe-se com estas fitas. Depois dos insultos temos "isto"?
Proveniente por acaso da sabedoria convencional patronal.
E junta-se a dois outros da mesma sabedoria: um do Publico,outro do Observador.
Curiosamente agentes fanados do Passismo mais abjecto. Curiosamente o primeiro, agente fanado do pasquim que publica esta página vergonhosa. Curiosamente o segundo, agente fanado do blog de direita aí em cima citado
Está certo. Confirma-se.
Um novo votante de Passos Coelho repete o trilho de Manuel Carvalho, do Público e de Helena Garrido, do Observador, neste trilho uniformizado desta forma por uma comunicação social cada vez mais agressiva e desonesta.
Trilho onde não falta a referência à dívida. Dívida que foi abordada claro, por outro membro ilustre do clube, um tal Daniel Bessa. Que por acaso teve honras no mesmíssimo jornal, o Público.
Sobre o tema, Carlos Carvalhas escreveu algumas linhas:
"O Público de hoje (13 de Outubro) entrevista o economista Daniel Bessa, o tal que nos apareceu em 1974 a citar e a recitar Marx na sede do MDP CDE
Hoje diz que a sua vida são as empresas , isto é : money , money , money
Na entrevista o "eu faria ", o "eu ". eu... mostra-nos o ego deste professor da Business School do Porto . Uma interessante reciclagem deste pseudo Marxista de antanho que no inicio deste governo dizia que vinha aí o diabo...
Diz que se enganou , mas descobriu que a dívida publica é um problema e que, com ele e com o crescimento que temos , o défice Orçamental seria muito menor ...
Presunção e agua benta...
Senhor economista D. Bessa , este crescimento não tem nada a ver com a política seguida ? A devolução de rendimentos não estimulou o crescimento ? Só um cego ou de má fé é que pode dizer que o consumo interno não se traduz em crescimento...
E a componente importada desse consumo que é muito grande, pergunta Bessa !
Sim é grande , e deve~se em grande parte ao declínio industrial do país fruto das privatizações que Bessa defendeu , e do santo euro que Daniel venera..
Sabe , o país precisa de marchar nas duas pernas que se potenciam mutuamente :mercado interno e exportações...e não apenas numa
Depois não se esqueça da dívida privada maior que a dívida pública...
Quanto às elites a começar por Bessa estamos conversados...
Mas se este "Marxista" fala em elites é por que não quer falar em classes e , muito menos em luta de classes , estando como está , bem instalado, do outro lado da barricada..
Uma opção...que não dá o direito à desonestidade intelectual .
Ponto final !"
Um novo votante de Passos Coelho repete o trilho de Manuel Carvalho, do Público e de Helena Garrido, do Observador. E de Daniel Bessa, da Business School do Porto.
Todos votantes empenhados ( e em coro) dessa coisa inenarrável de nome Passos Coelho?
as empresas , isto é : money , money , money
as empresas , isto é : emprego , emprego , emprego
as empresas , isto é : salários , salários, salários
as empresas , isto é : impostos , impostos , impostos
as empresas , isto é : alcavalas , alcavalas , alcavalas
as empresas , isto é : exportações, exportações, exportações
As empresas, isto é: o sustento da mama pública.
As empresas: money, money, money
Ficou touché. Compreende-se. Acertaram-lhe num dos seus santos
Quanto às mamas...é apenas a continuação da linguagem vulgar dum que pensa que isto é a caixa de comentários do pasquim que frequenta.
Touché duplo: funcão publica e dívida desapareceram entre as suas.
Isso aí em cima será uma espécie de oração às empresas?
A mama é que estraga o carácter místico
Empresas, empresas, empresas...dívida,dívida, dívida...
«Dividendos agravam dívida das cotadas», assim titulava o insuspeito Jornal de Negócios, um esclarecedor artigo.
«As cotadas nacionais abriram os cordões à bolsa este ano para pagar dividendos. Mas essa maior generosidade foi um dos factores que levaram a um aumento da dívida líquida dos primeiros seis meses do ano. Subiu mais de 8%, aumentando em mais de 2.000 milhões de euros para 26.300 milhões, tendo em conta as 14 empresas do PSI-20 que já prestaram as informações financeiras. (…) Distribuíram cerca de 2.200 milhões de euros, mais 20% que no ano anterior. E isso pesou na evolução da dívida.»
A notícia dá depois exemplos: EDP, mais 1000 milhões de euros; Navigator, mais 100 milhões; EDP Renováveis, mais 355 milhões; REN, mais 100 milhões.
Registe-se que a informação não é propriamente uma novidade. Tal já aconteceu em anos anteriores, mesmo quando o país estava sob a ditadura da Troika e do governo PSD/CDS, com trabalhadores e pensionistas a serem roubados nos seus rendimentos.
Pois… mas parece que as grandes empresas, contrariamente à generalidade das PME e das famílias, não estão a reduzir o seu endividamento! Está a aumentá-lo! E não contraem mais dívidas, para suportar investimento e assim melhorar/modernizar/ampliar a capacidade produtiva nacional!
Sim, endividam-se para pagar mais dividendos, mais remuneração aos accionistas, aos donos do capital. Ou seja, pagam um volume de dividendos superior aos lucros arrecadados. Onde aconteceu isso? Com «gestores de topo» e «empresas modelo».
Na Sonae Capital: lucros, 18,7 milhões de euros, os accionistas vão receber 25 milhões. Nos CTT: lucros, 62,2 milhões de euros, vão distribuir aos accionistas 72 milhões – deve ser por isso que os serviços postais estão cada vez melhores!
Um aumento dos dividendos superior ao aumento dos lucros! Não querem esmolas, aumentos indexados à taxa de inflação ou da evolução do IAS. Não! Mais 20% nos dividendos. Por extenso: vinte por cento!
Se isto não é viver, ou melhor, sacar «acima das possibilidades», o que será? Lata! Uma grande lata quando na praça pública despejam tecnocráticos ou moralistas discursos sobre a necessidade da moderação salarial e de acabar com a «rigidez da legislação laboral».
A recuperação dos 'direitos' vão no Estado a caminho dos mil milhões sacados aos bolsos dos contribuintes.
Os accionistas que penaram uns anos não podem recuperar nada!
Treta esquerdalha...
Não vou comentar o V/artigo, até porque a grande mairia dos investigadores e historiadores Portugueses, nunca se preocuparam e saber porque razão os PCP, e chamado, de revisionistas e social-fascista?! E os social-imperialista e revisionista soviéticos, que já vem do tempo do revisionista e social-fascista Brejnev, quando da invasão da Checoslováquia. Exemplo; é o da China (O PCC de revisionista e social-fascistas, e social-imperialista)!Isto não tem nada haver com o Povo (neste caso, nem com soviéticos nem chineses)! Os povos lutam pela sua independência,e pela sua liberdade.
E nós por cá!!! Os ditos democratas patriotas e de esquerda (PCP/PS/BE/PAN,lutam pelos seus interesses,das suas famílias e amigos..
Aquilo aí em cima pelas 10 e 39 é alguém a apelidar de "coitadinhos" os referidos accionistas?
É "isto" que "isto" tem a dizer perante a exposição do modus faciendi das ditas empresas? Ditas empresas a quem canta hinos?
É mesmo esta espécie de choradinho em torno das grandes empresas que promovem um aumento dos dividendos superior ao aumento dos lucros?
Dividendos que vão agravar a dívida das cotadas?
Dívida privada que é superior à dívida pública?
É que esta informação não é propriamente uma novidade. Tal já aconteceu em anos anteriores, mesmo quando o país estava sob a ditadura da Troika e do governo PSD/CDS, com trabalhadores e pensionistas a serem roubados nos seus rendimentos?
Apanhado na contracurva da sua linguagem especial e na sua oração empresarial pelos factos o que pode fazer este tipo?
Pateticamente exposto? E mais?
Quanto à "recuperação dos direitos"...
Vejamos:
- Fala-se apenas uma pequena parcela, já que o que se roubou terá sido muito mais.
- para roubar, fazendo transitar a riqueza dos que têm menos para os que têm mais, estava certo, batiam-se palmas e gritava-se por mais. Agora a simples tentativa de reverter um pouco a situação produz este espectáculo deprimente por parte de jose
- a correcção parcial dos roubos tem permitido fazer crescer o mercado interno, o que tem sido bastante útil para a nossa economia
- tentar comparar o que resulta dum orçamento democrático, com as trafulhices das "coutadas" só mesmo de alguém profundamente envolvido com as "coutadas". Ou então de alguém profundamente empenhado noutras coisas. Com o seu quê de.
- o fim do estado social sempre foi uma das metas da governança neoliberal. Alguns passos atrás neste objectivo põe neste estado alguém que pedia e berrava por mais troika?
- Face ao exposto aí em cima, onde estão agora os berros em relação à divida e ao seu crescimento? Para aumentar a riqueza dos accionistas já não ouvimos a cassete roufenha da "dívida que é totalmente ignorada"?
- até onde vai este reivindicar da concentração da riqueza em meia dúzia de mãos, mais os poemas da amor feitos orações às grandes empresas? Até onde vai a sem-vergonhice e o desejo de saque?
- o facto de ter sido apanhado nas suas próprias malhas e nas palavras do seu discurso, justificará o tipo de linguagem agora em uso pelo jose?
O das 13 e 59 não tem nada a haver mesmo
"Requiescat in pace"
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